Política
Operação Lava Jato
Em frente ao Palácio do Planalto, manifestantes
protestam contra a nomeação de Lula como ministro e pedem a renúncia de
Dilma, na noite desta quarta-feira 16
O Brasil chegou nesta quarta-feira, 16 de março, ao que parece ser o
ponto mais sensível da crise política que se arrasta desde as eleições
de outubro de 2014. No dia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi anunciado como novo ministro-chefe da Casa Civil, uma série de áudios coletados pela força-tarefa da Operação Lava Jato
incendiou o ambiente político e ensejou novas manifestações contra o
governo da presidenta Dilma Rousseff, algumas das quais registraram
episódios de violência.
O que são os grampos envolvendo Lula e Dilma?
Os áudios são uma série de gravações feitas pela Polícia Federal, tornadas públicas na noite desta quarta-feira 16 pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos inquéritos da Lava Jato em primeira instância.
Quando as gravações foram feitas?
As gravações foram feitas entre 17 de fevereiro e 16 de março.
Essas gravações são legais?
Sim e não. As gravações foram autorizadas por Moro uma vez que Lula é
investigado na Operação Lava Jato, mas o grampo que tem causado mais
celeuma, que captou diálogo entre Lula e Dilma, foi feito às 13h32 desta
quarta-feira 16, depois de o próprio Sergio Moro ter determinado o fim
das escutas contra o ex-presidente, como mostraram reportagens do jornal
Folha de S.Paulo e do portal UOL.
O que há nas gravações entre Dilma e Lula?
Há pelo menos dois áudios entre Lula e Dilma. Em um deles, com cerca de seis minutos, feito logo após a condução coercitiva de Lula,
em 4 de março, o ex-presidente se queixa com a sucessora a respeito da
"República de Curitiba", uma referência a Moro, e diz que o Supremo
Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e o Congresso estão
"acovardados". "Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente
do Senado fodido, não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo
mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se
salvar."
Um segundo áudio, feita na tarde desta quarta-feira 16, mostra
diálogo entre Dilma e Lula a respeito do "termo de posse", documento que
confirma sua nomeação para a Casa Civil. A um Lula monossilábico, Dilma
afirma: "Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra
gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse,
tá?!"
O que mais há nos áudios?
Há gravações entre Lula e figuras importantes do primeiro escalão do
governo. Em uma das que chama atenção, feita também logo após a condução
coercitiva de Lula, o ex-presidente conversa com o então ministro-chefe
da Casa Civil, Jaques Wagner, e diz que gostaria de "antecipar" uma
ação que estava no STF sob os cuidados da ministra Rosa Weber. "Eu
queria que você visse agora, falar com ela [Dilma, aparentemente] já
que ela está aí, falar com ela o negócio da Rosa Weber. Está na mão dela
para decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa
possa fazer o que os homens não fizeram"
Trata-se, provavelmente, do pedido feito pela defesa de Lula para esclarecer quem deveria investigá-lo
– o Ministério Público de São Paulo ou o Ministério Público Federal do
Paraná, responsável pela Lava Jato. Rosa Weber decidiu que as duas
investigações deveriam correr em paralelo, mas nesta semana a Justiça
estadual paulista remeteu o caso envolvendo Lula a Sergio Moro.
O que o MPF diz sobre os áudios?
Sem fazer referências a áudios específicos, os procuradores do MPF-PR
afirmam que os áudios mostram "conversas que denotam estratégias para
turbar as investigações envolvendo Luiz Inácio". Os procuradores citam
a delação premiada do senador Delcídio do Amaral e dizem existir "diálogos
que envolvem ministros de Estado, e em que os interlocutores aduzem ser
possível a interferência na presente investigação".
O que diz Sergio Moro sobre os áudios?
No despacho em que retira o sigilo das gravações, Moro afirma que,
aparentemente, há gravações em que se fala "em tentar influenciar ou
obter auxílio de autoridades do Ministério Público ou da Magistratura em
favor do ex-presidente". Moro ressalta, no entanto, que não há nenhum
indício nas conversas, ou fora delas, de que as pessoas citadas teriam,
de fato, agido "de forma inapropriada". "Em alguns casos, sequer há
informação se a intenção em influenciar ou obter intervenção chegou a
ser efetivada", observa o juiz.
Ainda de acordo com Moro, “pelo teor dos diálogos degravados,
constata-se que o ex-presidente já sabia ou pelo menos desconfiava de
que estaria sendo interceptado pela Polícia Federal, comprometendo a
espontaneidade e a credibilidade de diversos dos diálogos”.
O Palácio do Planalto se manifestou?
Sim. Em nota oficial,
o Planalto afirma que o termo de posse foi encaminhado a Lula pois o
novo ministro "não sabia ainda se compareceria à cerimônia de posse" e
diz que o documento "só seria utilizado caso confirmada a ausência do
ministro. O Planalto afirma que a conversa tem "teor republicano" e
"repudia com veemência sua divulgação que afronta direitos e garantias
da Presidência da República".
Ainda segundo a nota, Sergio Moro violou leis e a Constituição de
forma flagrante e será alvo de "todas as medidas judiciais e
administrativas cabíveis".
O que diz a defesa de Lula?
O advogado do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin, classificou de
"arbitrária" a divulgação dos grampos, disse que, com a decisão, o juiz
Sérgio Moro não tinha mais competência sobre o caso e buscou estimular
uma "convulsão social". “Este grampo envolvendo a presidenta da
República ser divulgado hoje, quando já não existe competência da Vara
de Curitiba, revela uma finalidade que não é processual, revela uma
finalidade que busca causar uma convulsão social, que eu repito, que não
é o papel do Poder Judiciário”, disse o advogado.
Qual foi a reação da oposição?
Panelaços e buzinaços ocorrem à noite em várias cidades
brasileiras contra a nomeação de Lula. A divulgação dos áudios acirrou
ainda mais os ânimos e estimulou protestos contra os petistas.
Em Brasília, de acordo com a Polícia Militar, eram cerca
de 5 mil pessoas em frente ao Palácio do Planalto. Elas foram motivados
por parlamentares oposicionistas e convocações nas redes sociais. Um
homem, até aqui não identificado, jogou uma bomba caseira na rampa do
Planalto e foi preso.
A PM reforçou a segurança na rua que dá acesso ao Palácio da Alvorada, residência oficial de Dilma, e usou bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e spray de pimenta para dispersar os manifestantes da frente do Congresso Nacional.
Em São Paulo, onde um protesto fechou a Avenida Paulista,
manifestantes pró-impeachment agrediram dois jovens, como mostra o
vídeo feito pela rádio CBN:
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