“Somente com a violência nós nos faremos escutar. O protesto pacífico não leva a nenhum lugar”. Jan, 18 anos, é filho da próspera boa burguesia de Hamburgo. Está em conflito com o pai, “também ele um capitalista que pensa somente no dinheiro. Por isso sai de casa”. No uniforme-outfit do black bloc que usa em cada manifestação – casaco preto com um capuz sobre a cabeça e o lenço preto que esconde o rosto – ele mete medo. Mas quando ele tira o lenço e o capuz, aparece um tranqüilo jovem loiro de uma boa família do norte da Europa. O sorriso calmo, a expressão reflexiva, os cabelos bem penteados. Ao jornalista Bruno Schrep da revista Der Spiegel, ele narra o seu mundo. A reportagem é do jornal La Repubblica, 4-06-2007.
“É necessário radicalizar o protesto. Isso é justo e invevitável”, afirma Jan, que ainda freqüentao Gymnasium, uma escola superior de elite para os mais inteligentes, lá na rica Hamburgo. Ele se deixou fotografar somente de costas e encapuzado. Segundo ele, somente com a violência se atrai a atenção do público.
Mas, segundo ele, “a violência não é um fim em si mesma”. “O Krawall, a desordem de rua, deve ter um sentido. Como quando se bloqueia as ruas para impedir uma demonstração neo-nazista”.
Jan fala de um mundo alienado, com uma idéia distorcida do direito e da justiça.
Ele se interessa pela política. Quando tinha 15 anos começou a se perguntar sobre o que fazer contra os neonazistas da Npd. E logo lhe veio a resposta clara: o culpado é o capitalismo à americana. E para combatê-lo não bastam demonstrações pacíficas. “Sem protestos violentos, o capitalismo mundial se difundirá e se reforçará ainda com mais velocidade”. Veja como age a Coca-Cola na Índia, cita o jovem: os trabalhadores são pagos com salários de fome e a escassa água potável é usada para produzir a Coca-Cola.
Jan não é um subproletário, não é um desempregado sem esperança, não é um perdedor da globalização. Ele cresceu como um alemão rico tendo todas os privilégios. Segundo ele, o pai, rico capitalista, lhe aconselhou que se inscrevesse num partido e lutasse lá para mudar a situação. Ele está saindo de casa. Pretende pagar por sua conta um instituto técnico e trabalhar artesanalmente para se sustentar. O seu plano de carreira é este.
“Sei, diz ao jornalista, que corro o perigo de ser preso, de ser incriminado, de sofrer processos penais. Sei muito bem que estou jogando o meu futuro, a vida. Mas renunciar aos protestos com os outros encapuzados do black bloc, disso não se fala. “Kommt nicht in Frage”, afirma o jovem. Ou seja, a tentação de deixar a militância é uma questão que não se coloca para nada, nem por um momento.
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