Em meio às comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, um estudo da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do governo de São Paulo, revela os efeitos da discriminação racial no mercado de trabalho da região metropolitana do Estado mais industrializado e de economia mais dinâmica do País. A reportagem é de Marcelo Rehder e Elisangela Roxo e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-11-2007
De acordo com o estudo, divulgado ontem, o rendimento médio da população negra ocupada é 44% menor que o dos brancos e amarelos (não-negros): R$ 752,00, contra R$ 1.346,00. No período de 12 meses terminado em setembro, que serviu de base ao estudo, a taxa de desemprego entre os negros foi de 18,1%, contra 13,2% entre os não-negros. “Essa diferença reflete a nossa herança de discriminação e de menores oportunidades para os pobres, que são majoritariamente negros”, diz Alexandre Loloian, gerente de Análises da Fundação Seade.
Renata Carneiro, de 30 anos, é um exemplo das dificuldades enfrentadas pelos negros no mercado de trabalho. Apesar de formada em Propaganda e Marketing, falar inglês, cursar Letras na Universidade de São Paulo (USP), Renata está desempregada há seis meses.
Depois de se formar na Universidade Mackenzie, em 2002, ficou um ano à procura de uma oportunidade na área. Sem sucesso na busca, aceitou uma vaga para trabalhar com atendimento. “Estava desesperada e resolvi fazer qualquer coisa para poder, pelo menos, pagar as contas”, diz ela. Seu último emprego foi como auxiliar de reservas de bilhetes, na TAM, de onde foi demitida em maio.
Feito a partir de dados da Pesquisa Mensal de Emprego e Desemprego, apurada em conjunto com o Dieese, o estudo da Seade deixa claro a grande disparidade entre os rendimentos do trabalho de negros e não-negros inseridos nos mesmos grupos de ocupação. Em cargos de direção e planejamento, o rendimento médio real de pretos e pardos não passava de R$ 10,00 a hora trabalhada, enquanto o ganho dos brancos e amarelos era 78% maior: R$ 17,80 a hora trabalhada.
Essa diferença se reduz conforme diminuem os rendimentos. Ainda assim, mesmo nos grupos ocupacionais com menores remunerações, as desigualdades persistem e não são desprezíveis.
Nas ocupações classificadas como serviços gerais, por exemplo, os não-negros ganham R$ 3,60 por hora, contra R$ 3,20 dos negros, uma diferença de 12,5%. Mesmo nas ocupações não qualificadas, com pior remuneração, o rendimento dos negros (R$ 2,90) é 3,3% menor que o dos não-negros (R$ 3,00)
“O negro tem menos oportunidade de se inserir no mercado de trabalho porque na maioria dos casos tem menor grau de escolaridade”, diz Loloian.
Por conta disso, a população negra passa a ocupar posições de baixa remuneração e que não exigem qualificação profissional. Não é por obra do acaso que só 4,6% dos negros ocupam cargos de direção e planejamento, enquanto esse porcentual salta para 18,3% quando se trata de não-negros.
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