Um trem que se desloca a 10 centímetros do solo propulsado unicamente por energia renovável produzida na própria via ferroviária é a chamativa proposta de um grupo de cientistas japoneses para reduzir as emissões de CO2 no transporte de alta velocidade. O protótipo já existe e funciona. Tem o aspecto de um avião planador de 400 quilos que voa a 150 quilômetros por hora, até o momento sem passageiros. A reportagem é de Hugo Cerdá e está publicada no El País, 7-11-2007. A tradução é do Cepat.
Se as fontes renováveis de energia não ofereceram ainda uma alternativa forte aos combustíveis fósseis no transporte foi, entre outras coisas, por seu escasso rendimento. Mas e se se conseguisse reduzir a demanda energética necessária para levar um objeto de um lugar a outro? Essa é a pergunta que os pesquisadores do Instituto de Ciências de Fluidos da Universidade Tohoku, em Sendai, se fizeram.
"Se minimizarmos a resistência aerodinâmica total do veículo drasticamente, as energias naturais, como a solar ou a eólica, que atualmente se consideram impraticáveis por sua baixa densidade energética e sua natureza cambiante, poderiam passar a ser utilizáveis", explicou a El País Yasuaki Kohama, principal responsável do projeto. "Se pudéssemos suspender o veículo de algum modo, eliminaríamos a perda de energia por fricção com o solo". O Maglev, o trem magnético, já o consegue. Viaja suspenso no ar a mais de 580 quilômetros por hora, mas às custas de grandes quantidades de energia para criar campos magnéticos necessários.
"O que nós fizemos é manter elevado o trem por simples aerodinâmica, aproveitando o já conhecido efeito solo", assinalou Kohama. Trata-se do mesmo princípio que mantém pegados ao solo os bólidos da Fórmula 1, mas usado em sentido inverso, ou seja, para fazer flutuar um objeto. Consiste em criar uma zona de baixa pressão acima do veículo e outra de alta pressão por baixo dele. Quando o trem está perto do solo e em movimento para frente, parte do ar circula por baixo do veículo, criando uma pressão superior à do ar que circula por cima do veículo. Desta maneira se produz a sustentação requerida para manter o aerotrem separado do solo em todo momento. Uma vez que levita, o trem se move graças a ventiladores com a energia obtida de painéis fotovoltaicos e moinhos de vento instalados na própria via pela qual circula.
Para o catedrático de Engenharia Aeroespacial da Universidade Politécnica de Valência (UPV) Ricardo Martínez-Botas, a idéia é atrativa. "Independentemente de se a energia provém de instalações na própria via ou se é comprado no mercado de renováveis, o fato de propor um veículo que utiliza o efeito solo para eliminar a resistência por contato com o solo é muito interessante, pois supõe uma considerável economia de energia", explica.
Andrés Tiseira, engenheiro aeronáutico na UPV, assinala que o aerotrem poderia atingir altas velocidades no futuro. "existem experiências como o ekranoplano criado pelos soviéticos durante a guerra fria: uma grande aeronave de várias centenas de toneladas capaz de carregar tropas e tanques e transporta-los a uma velocidade de até 400 quilômetros por hora suspenso a um metro da água, minimizando o consumo de combustível", assinala.
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