Impulsionado pela onda de fusões e aquisições que se intensifica no mercado internacional, o volume de investimento estrangeiro direto recebido pelo Brasil neste ano é o maior já registrado pelas estatísticas do Banco Central, superando até os valores observados na década de 1990, período em que as privatizações puxavam esses números para cima. A reportagem é de Ney Hayashi da Cruz e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 29-11-2007. A notícia também é destaque no jornal O Estado de S. Paulo, 29-11-2007.
Até ontem, o fluxo de investimentos em 2007 estava em US$ 33,4 bilhões, o dobro do observado no mesmo período de 2006. Segundo o BC, os investimentos externos podem passar de US$ 35 bilhões até dezembro.
Até agora, o maior ingresso de investimentos estrangeiros no Brasil havia ocorrido em 2000, quando o país recebeu US$ 32,8 bilhões de empresas sediadas no exterior. Desse total, US$ 7 bilhões vieram de privatizações como a do Banespa, que rendeu cerca de US$ 3,7 bilhões para o governo.
Desta vez, o resultado é influenciado por fusões de grandes grupos empresariais que acontecem em outros países e afetam filiais instaladas no Brasil. Um dos exemplos é a união da européia Arcelor com a indiana Mittal Steel, que resultou na criação da maior siderúrgica do mundo, a ArcelorMittal. A nova companhia adquiriu todo o controle da filial brasileira da Arcelor, o que significou o ingresso de cerca de US$ 5 bilhões no país.
Mesmo considerando a influência que essas grandes operações têm nas estatísticas, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, afirma que a maior entrada de investimentos também reflete uma maior confiança das multinacionais na economia brasileira.
"Existe também uma série de operações de menor valor, e elas não estão concentradas em um setor específico, estão bastante disseminadas em vários segmentos."
As empresas de metalurgia, mineração e bancos foram as que mais receberam investimentos neste ano. O setor de serviços ficou com 45,6% dos recursos que entraram no país entre janeiro e outubro; a indústria recebeu 39,7%, e o restante foi para agropecuária e extrativismo mineral.
Mesmo com os bons resultados deste ano, há dúvidas sobre a continuidade desses ingressos bilionários de capital externo no longo prazo. Para o economista Fabio Kanczuk, professor da USP (Universidade de São Paulo), as empresas que investem no Brasil apostando num crescimento de 4% ou 5% da economia nos próximos anos podem se frustrar.
"Nada de bom aconteceu aqui para justificar todo esse otimismo", afirma.
Para ele, medidas como reduções de impostos são necessárias para sustentar a expansão da economia. Sem essas iniciativas, diz o economista, o crescimento de longo prazo não ficará muito acima dos 3% ao ano. "O lado fiscal está virando uma avacalhação. Cortes de gastos [públicos] e de carga tributária sumiram da agenda do governo."
Confiança
Já o economista Caio Megale, sócio da Mauá Investimentos, diz que a confiança das empresas estrangeiras deve manter elevados investimentos no país, ainda que o resultado recorde de 2007 não deva se repetir nos próximos anos.
"As pessoas estão mais seguras em investir no Brasil. Um crescimento menor da economia mundial pode frear um pouco esse movimento, mas, pensando num horizonte mais longo, acredito que [o investimento estrangeiro] possa se estabilizar numa faixa entre US$ 20 bilhões e US$ 35 bilhões [ao ano]", afirma.
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