O presidente do Equador, Rafael Correa, declarou ontem que "não se pode ocultar o mal-estar majoritário" com o convite da Espanha para que o novo líder de Honduras, Porfirio Lobo, participe da cúpula de países da União Europeia e da América Latina. "Muitos presidentes da Unasul podem não comparecer (ao encontro que começa no dia 18, em Madri)", alertou Correa, que ocupa a presidência rotativa da União das Nações Sul-Americanas.
A reportagem é de Ariel Palacios e Marina Guimarães e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 05-05-2010.
"Em Honduras há um conflito latente. O país está fora do sistema latino-americano. É uma leviandade convidar um governo que não é reconhecido por outros países", disse Correa, ao lado da presidente argentina, Cristina Kirchner.
Fontes diplomáticas envolvidas com a reunião em Campana revelaram ao Estado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou aos colegas da Unasul que não pretende comparecer à cúpula de Madri, caso Lobo esteja presente.
As mesmas fontes indicaram que o presidente chileno, Sebastián Piñera, apresentou uma proposta conciliadora. Ele teria concordado com Lula sobre Lobo, mas sugeriu que não era conveniente continuar criticando o novo presidente hondurenho por seu passado, mas sim "olhar para frente". Segundo as fontes, apenas Colômbia e Peru não seguiriam a posição de Lula.
Lobo tomou posse em janeiro, mas a maioria dos países da Unasul não reconhece sua eleição, que ocorreu após a destituição do presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho. Segundo Correa, Lula apresentou uma moção para que Zelaya possa voltar ao país e ter restituída a totalidade de seus direitos políticos. O líder equatoriano, que mantém uma relação tensa com a imprensa, propôs e obteve respaldo que jornalistas fossem impedidos de acompanhar boa parte da reunião da Unasul.
A organização sul-americana também criticou a criminalização de imigrantes ilegais no Estado do Arizona, nos EUA. Segundo a Unasul, a lei permite a detenção de pessoas por considerações raciais e idiomáticas e pode legitimar atitudes racistas.
A Unasul também manifestou sua "solidariedade" ao presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que enfrenta nas últimas semanas uma escalada de ataques da suposta guerrilha Exército do Povo Paraguaio (EPP), que atua em cinco regiões do país hoje, sob estado de exceção. Segundo a Unasul, a "violência criminosa" ameaça a população e o Estado paraguaio. A organização ressaltou que respaldará as medidas tomadas por Lugo "dentro do respeito aos direitos humanos e os valores democráticos".
Depois do encontro da Unasul, Lula foi para Montevidéu, onde se reuniu com o presidente uruguaio, José Mujica. Ambos discutiram acordos nas áreas de transporte e energia e anunciaram que estudam o uso das moedas locais no comércio bilateral.
A institucionalização dos golpes de Estado começa por aí. Mas, no mundo temos vários exemplos. Aceitos de um lado ou do outro, e é puro enfeite se querer cobrar atitudes democráticas, pois os países que poderiam exercer algum tipo de pressão, só o farão se houver retorno econômico vantajoso.
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