"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, setembro 28, 2010

Alimentar a Urbe

Esse é o título de artigo de Delfim Netto na Carta com a capa da saída de Aécio. Gostaria de fazer uma abordagem diferente do tema.
Só para fazer grande mudança no tema, a ONU (FAO), o FMI, a OIT e o Banco Mundial estão utilizando disfarçadamente de argumentos parecidos com os neomalthusianos. Para eles o problema da fome que se avizinha é resultado da onda migratória crescente da população rural para as cidades em todo o mundo, que levaria à uma redução da mão-de-obra rural (produzindo menos alimento) e aumento da população urbana (consumidora sem produção).
Interessante é que tal problema não atinge os países ricos que apresentam elevado índice de urbanização. Se isso não acontece lá, porquê seria problema em países pobres?
Aí é que surge a análise enviesada desses grandes organismos internacionais. Ao por o problema na onda migratória, esquece de mencionar o grau tecnológico atingindo no campo da agropecuária que permite aumento de produtividade mantendo-se basicamente a mesma taxa de área rural utilizada. Bom, vendo por esse prisma, se percebe claramente que o problema não é a migração em si, e sim, a incapacidade de ampliar a produtividade desses países.
E aí vem a segunda questão. Se o real problema não é a migração e sim a incapacidade tecnológica, porque ao invés de se investir bilhões na industria armamentista, os países ricos (notadamente os EUA) não repassam essa tecnologia ao países pobres?
Assim com na época da criação da OMS com fins de erradicar ou minimizar as doenças nos países pobres que voltavam a assolar os países ricos, ao invés de investir seriamente na redução das desigualdades sociais, os organismos internacionais optam por soluções localizadas, lançam factóides culpando os países pobres com uma falsa lógica. Parafraseando Leonel Brizola que dizia"se não sair no Jornal Nacional, não aconteceu", tais factóides por virem revestidos de uma pretensa "verdade" acabam por repetição virando uma verdade em si. E assim, os reais problemas não são nunca resolvidos.
Se pensarmos apenas nos gastos feitos pelos EUA (sem falar nos demais países ricos europeus) com a luta antiterror (mais uma fantasia bilionária), podemos perceber o quanto de investimento direto poderia ser feito nos sistemas agropecuários dos países mais pobres.
Sei que alguns pensaram que é absurdo eu estar falando aqui do terror como "fantasia". Mas, falo isso apenas como indicação desse meu argumento, ao equiparar por exemplo o número de mortes anuais cometidos pela criminalidade no Rio de Janeiro com as provocadas pelo terror no mundo. Provavelmente morre mais pessoas ao ano no Rio de Janeiro através do crime do que em todo o resto do mundo por ações terroristas.
Não sejamos inocentes em achar que os gastos nessa luta são justificados, na realidade até são, justificam a necessidade da industria armamentista em vender mais armas e amealhar cada vez mais riqueza.

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