darussia.blogspot.com - Quinta-feira, Abril 28, 2011
Não escapou também à atenção do almirante russo o abandono a que estava deixada aquela ilha pela Coroa Portuguesa: “Mas cada viajante, embora eu não tenha tido oportunidade de falar pessoalmente com os portugueses cultos que vivem aqui, pode facilmente constatar que o governo português não presta nenhuma atenção a esta aldeia. Se isso é provocado pela política, então ela é indiscutivelmente a mais falsa; se isso decorre simplesmente do desprezo leviano, isso é ainda mais inaceitável. Que Portugal não vê, em geral, a utilidade que poderia ter das suas possessões nesta parte da Terra é uma verdade reconhecida por todos e não exige mais a mais pequena prova. Em todo o Brasil, a ilha de S. Catarina, com as aldeias que lhe pertencem na parte continental, é a parte destas possessões à qual o governo português nunca prestou particular atenção, embora ela não mereça esse desprezo devido à sua situação extremamente favorável, ao clima saudável, terra fértil e outras posições”(2).
O navegador russo assinala um pormenor curioso: “O chefe da guarnição, quando da nossa passagem, era descendente do glorioso Vasco da Gama. Desde que foram aquarteladas aqui tropas que elas, por decisão do governo, são comandadas por um dos membros dessa gloriosa família. Em 1785, ano em que aqui esteve Laperuz, o comandante das tropas era António da Gama”(3).
Depois de visitarem e explorarem as costas da América do Sul, o Pacífico e os territórios russos no Extremo Oriente, os navios russos passaram por Macau, tendo Kruzenshtern registado importantes aspectos da organização política, comercial e social da colónia portuguesa.
Ele ficou surpreendido com a difícil situação dos portugueses face às autoridades chinesas. O almirante russo escreveu: “A situação dos portugueses em Macau é extremamente delicada, tanto mais difícil é a situação do governador por ter contactos frequentes com o Governo Chinês. Embora os governadores se comportem com extremo cuidado, acontecem por vezes casos em que eles, sem a perda extrema de respeito para com a sua nação, pouco respeitada também agora pelos chineses, não ousam aceitar as suas exigências” (4).
Segundo ele, “se em Macau mandassem os ingleses ou espanhóis, rapidamente poriam fim a essa vergonhosa dependência dos chineses. Essas nações, tendo nas suas mãos importantes países perto da China, poderiam, em Macau, oferecer resistência à força de todo o Estado Chinês”(5).
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