Como ainda estou na edição nº 675 de Carta, os comentários para quem acompanha a revista terão que ser vistos para o “passado”.
A reportagem “Andarilhos Modernos” da The Economist sobre imigração tem um que de falta de bom senso de quem a escreveu.
Para quem lê, a impressão que nos é passada é a de um imigrante que tem recursos para mandar mensagens para os familiares assim que passa na alfândega, que pode se comunicar através das redes sociais, ou voar para casa regularmente, quando na realidade após a crise de 2008 as migrações para os países ricos se reduziram devido ao desemprego agudo nos setores típicos de mão-de-obra estrangeira.
Um grande parte dos migrantes não possuem renda para conseguir sair do seu continente e migram para os países “menos pobres” vizinhos em busca de uma forma de se sustentar. Existem ainda a figura dos migrantes ilegais em todo o mundo. Imaginar que esses imigrantes que são a maioria vão se comunicar ao passar pela alfândega, mandar dinheiro para casa ou voar para visitar os familiares é no mínimo um irresponsabilidade informacional.
As leis antimigração que surgem cada vez mais duras para exatamente reduzir a entrada de imigrantes nos países duramente atingidos pela crise, mostram uma realidade completamente diferente da descrita na reportagem.
É claro que a migração de cérebros para países ricos (principalmente os EUA que quase não os produz por incompetência de seu sistema de ensino) vai continuar existindo, pois esses países precisam repensar e estimular com novas fórmulas o seu desenvolvimento.
Me admira a reportagem ter sido por um reporter de uma revista inglesa no momento em que estoura a situação do aumento da prostituição por parte das jovens inglesas que buscam na profissão um forma de pagar seus estudos. Convém lembrar que o índice de desemprego na Inglaterra hoje está em 8,1% (o maior desde 1994) e que a taxa de desemprego entre os jovens subiu 21,3 %.
Então, se na Inglaterra que é considerada um dos países de economia mais saudável da União Europeia, o que deve estar acontecendo nos países menos saudáveis? E os imigrantes serão bem recebidos e terão dinheiro para fazer as coisas ditas na reportagem? Acho muito difícil.
Em outra do The Observer sobre o uso das máscaras nos diversos protestos anticoporativos no mundo, o autor dos quadrinhos Alan Moore que criou o personagem da máscara acha cômico o fato de uma corporação (no caso a Time Warner que detém os direitos de criação de Moore) está lucrando com a venda das máscaras.
Ao meu ver nada mais normal. A corporação tem como principio básico o lucro. Não existe padrão ético ou questões morais envolvidos nessa situação, a corporação uma vez criada tem a obrigação de em primeiro lugar de gerar lucro aos acionistas, e aí nesse caso não importa se as custas da sociedade ou com protestos anticorporativos. Tudo faz parte do objetivo principal e se esse é atingido (principalmente em tempos de crise), não importam os meios.
Achei representativa a foto na pág. 58 do caderno especial sobre o Nordeste. Na foto aparecem militares em processo de revitalização de rodovias. Os militares (apesar de não ter sido identificado sua origem) devem ser de um dos Batalhões de Engenharia do Piauí, pois está logo abaixo de uma parte do texto que fala sobre o cerrado piauiense.
Vemos nesse caso o emprego da tropa para um serviço que deveria ser feito por empreiteiras privadas. Não sou contra. Basta pensar nos desvios que ocorrem nos processos licitatórios pelo país, e, a entrada desse recurso para os batalhões se reequiparem é importante.
Só espero que não ocorra o mesmo de outras obras em que um batalhão de engenharia é empregado para realizar o serviço pesado (menos rentável), enquanto que o “acabamento” (serviço mais rentável) ser feito por empreiteiras privadas.
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