"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, dezembro 24, 2011

Natal com Gardênias

recebido por e-mail – 23 dez 2011

“As pequenas árvores de buxos, enfeitadas apenas com velas, significavam simbolicamente que em uma Noite Sagrada viera a Luz para a Terra...” (Roselis von Sass)

O perfume da gardênia trazido pelo vento entra sorrateiro pelo escritório de trabalho e faz sonhar e passear por outras paragens, ainda que o teclado do computador não pare de digitar. Lembro que as gar­dênias reinavam em outra parte do terreno. Eu havia plantado essas mesmas mudas em local estratégico para doar aroma a quem passasse pela calçada. Mas não deu certo. As gardênias eram roubadas, assim que abertas. Pior que roubar uma flor é roubar um aroma, pior que roubar um aroma é roubar a beleza, pior que roubar a beleza é roubar o sonho.

Amanhã é Natal. Ninguém sabe, mas descobri que o Natal foi roubado, assim como as minhas gardênias. Percebi isso ao entrar no Shopping, formigando de gente nervosa lutando por uma vaga no estacionamento. Mas decidi que do mesmo jeito que transplantei as gardênias para dentro dos meus portões, longe de um ladrão qualquer, poderia transplantar meu Natal para um lugar exclusivo dentro de mim.

Li que povos antigos comemoravam o Natal antes mesmo de ele existir. Não era bem o Natal, mas nessa mesma época de dezembro, já existia entre diversos povos, como romanos, incas e sumerianos, uma comemoração em prol da vida e do amor. Eram festas, em que os presentes trocados entre as pessoas eram bons e nobres sentimentos de amizade e bem querer.

A idéia de uma estrela brilhando que anuncia um nascimento é forte, eu diria, inesquecível. Fico imaginando... aonde foram parar os pensamentos sobre isso? Teriam sido roubados pela falta de tempo ou pela obrigação de comprar presentes? Ou teria sido o Papai Noel?

Dezembro é um mês especial. Não é só o mês que exala o perfume das gardênias. Dezembro é o mês que exala o encanto da vida que insiste em amar e surpreender quem tem olhos para ver. É o mês que desabrocha dadivoso e cheio de emoção aos pés de quem quiser sentir. Isso me lembrou Rainer Maria Rilke que diz sobre os dezembros e os janeiros de cada vida: “Se a sua vida diária parece pobre, não a culpe; culpe a si mesmo; admita para si mesmo que você não é poeta o bastante para atrair as riquezas da sua vida; porque para o criador não há pobreza nem lugar pobre e insignificante.”

Será que é possível recuperar o Natal? E depois, ainda, transformar cada dia da vida em Natal, como quem transforma um dia nublado em dia de sol e devoção?

(Sibélia Zanon)

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