Azenha - 29 de fevereiro de 2012 às 22:52
Combate à desigualdade exige mudanças estruturais
Oxalá em 2012 haja maior participação popular nas mobilizações e no
debate sobre os verdadeiros desafios que estão postos para a sociedade
brasileira
Terminando o carnaval e as medíocres noticias propagadas pela grande
imprensa, sempre em torno de algum acidente, das artimanhas dos
carnavalescos etc, a pauta política volta a ter importância na
sociedade. Ou seja, passada a fase do circo, é hora da realidade tomar
conta do Brasil.
Superávit e a política econômica
O governo anunciou o corte de 55 bilhões de reais do orçamento que
havia sido aprovado pelo Congresso algumas semanas antes. Segundo o que
a grande imprensa noticiou muitos cortes se referem a emendas
parlamentares, que se destinam a municípios, mas também a verbas de
saúde, educação… Por outro lado, na época da aprovação do orçamento, os
parlamentares renovaram a medida que autoriza a Presidência a destinar
a seu juízo, nada menos do que 20% de todo orçamento da União. Ou seja,
o governo, se quiser, tem um poderoso instrumento com total liberdade
para aplicar os recursos públicos orçamentários, nas políticas que
possam resolver de fato os problemas prioritários do povo. Mas
infelizmente os sinais que vêm do Planalto não são esses, e o governo
mantém uma visão estreita, vesga, preocupado apenas com as contas
públicas, com a inflação, tal qual outros governos.
A questão fundamental não é o valor do orçamento nem seus cortes. A
questão fundamental é que o governo precisa abandonar a política de
juros altos (os maiores do mundo) e a transferência de renda de todos
os brasileiros via superávit primário para os bancos.
Nenhum país do hemisfério norte pratica a política de superávit. E
todos eles têm déficit nos seus orçamentos. Por que o Brasil insiste
com essa política burra, que beneficia apenas 5 mil famílias de ricos
brasileiros e estrangeiros que especulam seu capital financeiro
aplicando em títulos do governo federal, que têm maior segurança do
mundo, e as mais alta taxas de juros?
Combate à desigualdade social
A presidenta Dilma disse no Fórum Social Temático em Porto Alegre —
e com frequência volta a repetir em espaços públicos — que a meta
prioritária de seu governo é o combate a desigualdade social. Todos
concordam. Aliás, será a única forma de dar um passo mais a frente do
que já foram as políticas de assistência social do governo Lula.
Os movimentos sociais estão convencidos de que se o governo está
mesmo interessado em perseguir o combate à desigualdade social, é
necessário mudar a atual política econômica. Começando pelo superávit
primário e pela taxa de juros. E, junto com a mudança dos atuais
critérios de superávit primário, será necessário implementar uma
reforma tributaria, que deixe de penalizar os mais pobres e penalize os
mais ricos. Como bem explicou, em entrevista ao Brasil de Fato da
semana passada, o assessor especial do Sindicato Nacional dos Analistas
Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita), Rodrigo
Thompson.
Não é possível pensar em combater a desigualdade social, sem aplicar
mais recursos para educação, como pedem os movimentos para que seja de
no mínimo 10% do PIB (Venezuela aplica 9%, Cuba e Coreia do Sul cerca
de 16% do PIB).
Não é possível combater a desigualdade social no meio rural, sem
promover a democratização da propriedade da terra com uma vigorosa
reforma agrária.
Não será possível combater a desigualdade social nas grandes
cidades, sem um programa virtuoso de geração de empregos industriais,
de maiores salários, e de uma reforma urbana, que combata a especulação
imobiliária, que inviabiliza o acesso a moradia digna pelos mais pobres.
As vozes conservadoras do governo já têm a frase pronta. Mas não há
correlação de forças políticas para fazer essas mudanças. Pois então
promova-se a reforma política, que vai democratizar o processo
eleitoral brasileiro e criar condições de maior democracia, de maior
participação popular. Assim como é necessário que o governo tome em
conta que somente a mobilização popular pode ajudá-lo a fazer reformas
estruturais. E o que se vê dentro do governo é um medo das
mobilizações, como se elas não fossem parte do processo democrático. As
massas têm nas mobilizações sua única forma de exercer pressão e poder
político.
Oxalá em 2012 haja maior participação popular, nas mobilizações, no
debate sobre os verdadeiros desafios que estão postos para a sociedade
brasileira, se quisermos caminhar para uma democracia verdadeira e
combater a desigualdade social.
Muitos movimentos sociais têm anunciado mobilizações para as
próximas semanas, que devem começar com atos unitários em torno do dia
da mulher trabalhadora (8 de março). Depois haverá mobilizações
unitárias de professores em todo o país, além de mobilizações no meio
rural, com o Movimento de Atingidos por Barragens, o MST, os povos
indígenas, etc.
Se o povo sair às ruas, 2012 será muito mais quente e conturbado do que se pode imaginar.
PS do Viomundo: Nem a vitória eleitoral, nem a
imensa maioria governista, nem a fortalecida bancada do PT foram
suficientes para que o governo avançasse. O governo Dilma toca de lado,
quando não recua a bola perigosamente. E os conservadores, supostamente
derrotados em 2010, avançam livremente no campo do adversário.
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