3 de março de 2012 às 12:59 por Luiz Carlos Azenha
Temos tratado deste assunto faz algum tempo. Por exemplo, mostrando que hoje o Brasil importa até mesmo café moido!
O Eduardo Guimarães, nessa questão bem específica, já deu o alerta. Como vendedor de autopeças, o Edu Guim tem sido dizimado pelos concorrentes.
Sim, há a questão do câmbio. Mas não apenas.
Esta semana a CartaCapital traz dois textos imperdíveis sobre o tema.
Num deles, de Luiz Antonio Cintra:
“Entre junho de 2004 e dezembro de 2011, o real valorizou 74%, um índice brutal. Em relação à moeda chinesa, tivemos apreciação de 33%. É a combinação explosiva dos maiores juros do mundo e o câmbio livre”, diz Ricardo Roriz, diretor de competitividade da Fiesp. “Se os produtos brasileiros ficaram mais caros, teríamos de cortar os custos para manter a competitividade. Mas os salários aumentaram em dólar, com reajustes acima da inflação no caso do mínimo. Os encargos trabalhistas aqui são maiores do que nos principais países concorrentes. E temos uma logística ineficiente, com alto custo de energia elétrica, a segunda mais cara do mundo”.
O que emerge deste contexto é preocupante. E ajuda a explicar por que o segmento industrial representa hoje 15,3% do PIB, ante mais de 35% na década de 1980. Segundo a Fiesp, hoje um em quatro produtos industrializados consumidos no País é importado. Em 2003, essa relação era de um para dez. “Apesar dos problemas, a indústria é o setor que mais arrecada impostos: contribui com 30% do total”, diz Roriz. E gera proporcionalmente mais empregos qualificados, ainda que nesse quesito a automação crescente reduza o impulso empregador.
Também na CartaCapital, Luiz Gonzaga Beluzzo e Julio Gomes de Almeida assinam um artigo intitulado Como recuperar o vigor:
A crise da dívida externa e as políticas liberais que se seguiram à estabilização dos anos 90 encerraram uma longa trajetória de crescimento industrial e criaram as bases para o retrocesso da indústria de transformação. A participação da indústria no PIB caiu de 35,8% em 1984 para 15,3% em 2011. O leitor poderá comparar o índice brasileiro com dados de 2010 da ONU para países como China (43,1%), Coreia (30,4%) ou mesmo Alemanha (20,8%). O padrão brasileiro é mais comparável ao país que mais se desindustrializou durante a chamada globalização, os EUA: 13,4%. Essa queda seria natural se decorresse dos ganhos de produtividade obtidos ou difundidos pelo crescimento da indústria, como ocorreu em países de industrialização madura. Mas não foi isso o que se observou no Brasil.
No momento em que ocorria uma revolução tecnológica e a intensa distribuição da capacidade produtiva manufatureira entre o centro e os emergentes, alterando o esquema tradicional centro-periferia, o Brasil foi empurrado para uma inserção desastrada que culminou na desvalorização do real de 1999. As políticas inspiradas no consenso neoliberal desataram a valorização da taxa de câmbio real (nesse caso, na contramão do Consenso de Washington), a privatização das empresas produtoras de insumos e serviços fundamentais e promoveram uma elevação da carga tributária, onerando sobretudo a indústria, o investimento e as exportações.
As privatizações tinham como propósito de curto prazo aumentar a receita do governo. Na verdade, a receita fiscal foi tragada pela carga de juros, irmã siamesa do câmbio real valorizado. A suposta eficiência dos serviços privatizados escorreu pelo ralo do aumento real de tarifas. O Brasil encerrou os anos 90 com uma regressão da estrutura industrial, ou seja, não acompanhou o avanço e a diferenciação setorial da indústria manufatureira global e, ademais, perdeu competitividade e elos nas cadeias que conservou.
Para ler mais, compre a CartaCapital.
Desde a campanha eleitoral de 2010, José Serra tem tratado do assunto. Ou seja, neste caso vocês admitem que ele tem razão?
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Paulo Kliass: Brasil, importador de café moído
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