Por Zé Zinho
Energia: equívocos estratégicosO planejamento estratégico do governo
brasileiro no setor energético demonstra, de forma insofismável, que as
lideranças nacionais responsáveis pelos processos decisórios parecem ter
perdido a capacidade de pensar a longo prazo e por si próprias, sem se
deixar enredar nos condicionantes externos em voga, como a ideologia e a
agenda política do ambientalismo internacional. Este fato ficou
evidenciado nas declarações de duas autoridades do setor, o
secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmerman,
e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício
Tolmasquim, no 9º. Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico
(Enase), no Rio de Janeiro, em 8 de maio. Na ocasião, ambos expuseram
dois graves equívocos da agenda energética do governo federal: o uso
preferencial das usinas hidrelétricas em construção na Amazônia como
"exportadoras de eletricidade" para fora da região e o adiamento sine
die da construção de novas usinas nucleares.
No evento, Tolmasquim revelou que 70% da eletricidade gerada na usina
hidrelétrica de Belo Monte, em construção no rio Xingu, no Pará, serão
destinados a abastecer a Região Sudeste, por intermédio de duas linhas
de transmissão em corrente contínua de 800 kV, uma direcionada a Minas
Gerais e a outra ao Rio de Janeiro. Com isto, Belo Monte, cujo projeto
foi bastante prejudicado pelas pressões ambientalistas e a visão
imediatista, que forçaram a redução do seu reservatório e a não inclusão
de eclusas para viabilizar a navegação, terá a sua importância regional
bastante diminuída, funcionando, basicamente, como fornecedora de
eletricidade para as regiões mais desenvolvidas. De resto, a mesma
orientação está sendo seguida nas usinas do rio Madeira, Jirau e Santo
Antônio, e na de Teles Pires, no rio do mesmo nome.
Com esse enfoque "mercantilista-exportador", desperdiça-se o enorme
potencial que tais empreendimentos poderiam desempenhar no
desenvolvimento socioeconômico na Amazônia, na implementação de uma
infraestrutura que viabilizasse um processo sustentado de diversificação
de atividades econômicas, contemplando, em especial, uma
industrialização seletiva da região, baseada na agregação de valor aos
seus vastos recursos naturais. Evidentemente, isto teria que ser
acompanhado em paralelo por um sério compromisso dos poderes públicos,
no sentido de viabilizar as redes de infraestrutura urbana necessárias
para receber os contingentes populacionais atraídos pelas novs
perspectivas. Não obstante, a opção preferencial pela exportação de
energia tende a favorecer um enfoque que não se diferencia muito de uma
espécie de colonialismo interregional, que tende a limitar as
perspectivas de progresso da região e, ao mesmo tempo, favorece a
estratégia ambientalista de mantê-la como uma "zona de exclusão de
desenvolvimento".
O outro grave equívoco estratégico foi revelado por Zimmerman, ao
anunciar que, pelo menos até 2021, o País não deverá construir qualquer
usina nuclear nova, além da conclusão de Angra 3. Em suas palavras:
No plano de curto prazo, que é até 2020, não se considerou qualquer
usina nuclear, porque não há necessidade. O atendimento será com
hidrelétricas. Fontes complementares, como eólica, térmica e gás natural
(sic), também atenderão à demanda... O plano 2021, segundo informações
que tenho, também não vai considerar usinas nucleares. Mas não tem
adiamento. No plano 2030, provavelmente, terá espaço para de quatro a
oito centrais nucleares (O Globo, 9/05/2012).
Embora Zimmerman tenha negado qualquer influência do acidente na
usina japonesa de Fukushima, em março de 2011, em tal decisão,
Tolmasquim a confirmou:
Com a questão de Fukushima, um acidente grave, não foi só o Brasil: o
mundo todo deu uma parada para analisar, avaliar. Temos uma situação
confortável, com potencial hidrelétrico grande; tem o potencial eólico, o
gás, a biomassa. Podemos fazer as coisas com calma.
Aparentemente, não entrou nas avaliações o fato de que um hiato dessa
magnitude na construção de novas usinas terá sérias implicações para a
disponibilidade da mão-de-obra qualificada para o setor, problema que já
ocorreu com a estagnação de quase duas décadas experimentada pelo
programa nuclear – tempo que levou a construção de Angra 2. Com um novo
interregno de mais de uma década, é seguro que muitos profissionais
deixarão a área, por falta de oportunidades, e o problema se verificará
quando – e se – a expansão do programa nuclear voltar a ser considerada.
Da mesma forma, é certo que o País ainda lamentará semelhante miopia estratégica.
http://www.alerta.inf.br/energia-equivocos-estrategicos/
O grifo no texto é meu, exatamente por Zé Zinho focar em algo extremamente importante, que é o uso do ambientalismo como forma de impedir o desenvolvimento e consequente melhoria de vida da população.
Nenhum comentário:
Postar um comentário