"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, outubro 16, 2013

O Pipeline Potiguar

O Tuiuti - nº 94
Manoel Procópio de Moura Júnior

A 2a Guerra Mundial trouxe um imenso efeito sociocultural para a cidade de Natal. Com a vinda dos americanos a cidade sofreu uma grande transformação e a população passou de 55 mil para 103 mil habitantes. Aqui foram instalados armazéns e escritórios. A cidade robusteceu o seu comércio,
particularmente no setor imobiliário, já que várias autoridades norte-americanas passaram a residir nesta capital. Nessa época acontecia o exercício dos black-outs inesperados sempre acompanhados de uma sirene acionada pelo QG (Quartel General) anunciando as ameaças de um suposto ataque aéreo. A pacata cidade dos Reis Magos se transfigurou, no dizer do pesquisador Leonardo Barata, na “Casablanca da América Latina”, lembrando a cidade africana que inspirou o clássico filme.
O conflito mundial motivou o desenvolvimento de várias obras de engenharia: O Quartel do 16° RI (Regimento de Infantaria), no Tirol, que teve a sua conclusão acelerada em razão da conflagração que ocorria na Europa; o Quartel do 2° GMAC (Grupo Móvel da Artilharia de Costa), em Santos Reis; o Quartel para alojar o 2° Batalhão Anti-Carros, em Nova Descoberta; a Naval Air Facility, construída pela
Marinha Americana na Rampa; a Base Naval do Natal (em Refoles) no Alecrim; a “Base Americana” denominada Parnamirim Field, a edificação de uma Vila em Parnamirim e a construção da estrada pavimentada (a pista) Parnamirim-Natal, modificaram a paisagem do nosso chão potiguar.
Durante o período de Guerra havia a necessidade de rapidez no abastecimento dos aviões na Base de Parnamirim. Informa o escritor Itamar de Souza, citando Clyde Smith Jr. e Fernando Hippólyto, que pousava um avião a cada três minutos e que diariamente transitavam de 400 a 600 aeronaves por aquela Base Aérea. Para atender a demanda de gasolina, a Base contava com a instalação de vinte tanques de superfície confeccionados em aço, com capacidade para 528.300 galões, e mais doze tanques subterrâneos.
Essa urgência encetou a construção de um pipeline, ou seja: um oleoduto, com 20 km de tubulação. Essa obra foi construída a partir da margem do Rio Potengi, avançando pelo atual bairro de Petrópolis, até chegar na chamada “curva da Pista”. A partir daí, seguia o mesmo trajeto da estrada pavimentada Natal-Parnamirim, denominada na época como Parnamirim Road, até alcançar os tanques de armazenamento na Base Aérea.
O pipeline era abastecido através dos navios petroleiros, nas docas localizadas, segundo o imortal Lenine Pinto, “próximo ao Canto do Mangue”. Uma média diária de 100.000 litros de gasolina eram bombeados até a Base em Parnamirim. O sistema de tubulações permitia um abastecimento constante das aeronaves e dos veículos automotivos.
Toda a construção desse oleoduto foi executada em apenas 22 dias, contando com seis mil operários trabalhando dia e noite sem interrupção. A obra custou, em moeda da época, a importância de Cr$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de cruzeiros).
O pesquisador Marinho Neto, integrante da Fundação Rampa declara: “A Fundação Rampa possui um mapa da tubulação, mas esbarra em uma série de dificuldades para localizar os canos que restaram”.
Os jovens de hoje não sabem que o pipeline potiguar continua sepultado em sua longa trincheira sob o chão do bairro das Rocas e das Avenidas Hermes da Fonseca e Salgado Filho, prosseguindo pela BR-101 até atingir a Base de Parnamirim. Possivelmente, guardando em seu bojo, ainda no tempo de hoje, o líquido dourado que impulsionou a glória dos aliados na 2a Grande Guerra Mundial.

(Fonte: MOURA JÚNIOR, Manoel Procópio. Natal de tempos em tempos – crônicas. Natal: Editora do autor, 2012, p. 159)


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