"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, outubro 16, 2013

Prisioneiros de Guerra em Campo de Concentração Potiguar

O Tuiuti - nº 90
Manoel Procópio de Moura Júnior

Quando se fala em campo de concentração, de imediato nos reportamos aos campos de concentração nazistas, onde perderam a vida¹ milhares de judeus
durante a última conflagração mundial.
Muitos desses campos de confinamento de prisioneiros² ficaram famosos, como o de Auschwitz, cuja única saída era em forma de fumaça pela chaminé dos fornos crematórios.
No entanto, para surpresa de uma grande maioria de brasileiros, existiram também aqui em nosso país, inclusive no Rio Grande do Norte, campos de concentração.
O Jornalista Roberto Guedes, em uma crônica publicada no jornal Dois Pontos de 11.10.1999, e o historiador Tomislav R. Femenick, em um texto publicado no Jornal de Hoje, de 15.05.2006, também comentam a existência desse campo.
Em vários Estados do Brasil existiram campos de concentração para prisioneiros de guerra. O livro O Canto do Vento - A história dos prisioneiros alemães nos campos de concentração brasileiros, do Jornalista Camões Filho, registra sua existência no Estado de São Paulo, nas cidades de Ribeirão Preto, Pirassununga, Pindamonhangaba e o maior deles em Guaratinguetá. Nele, 244 alemães do navio Windhuk, ficaram presos. Na oportunidade, o autor localiza o campo de Pindamonhangaba onde hoje se encontra a Estação Experimental e Zootecnia, e o de Guaratinguetá, onde funciona a Escola de sargentos da Aeronáutica.
A cidade de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, também teve o seu campo de concentração, como narram as historiadoras Marlene de Fáver e Priscila F. Perazzo, autoras de livros que tratam sobre a Segunda Guerra Mundial.
Na cidade de Recife, Rui Moreira Lima, Piloto Veterano do 10 GAvCa, em uma revista eletrônica intitulada “Sentando a Pua”, informa que alemães foram feitos prisioneiros após o naufrágio do submarino U-199, ficando confinados em um campo de concentração.
Portanto, não é de estranhar que o Estado do Rio Grande do norte tenha tido também o seu campo de concentração. O pesquisador Leonardo Barata, que pretende montar um museu da guerra em Natal, declara que a cidade era um grande centro de espionagem nazista. “Natal foi a Casablanca da América Latina”, diz ele ao se referir ao filme de espionagem estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.
O campo de concentração do Estado norte-rio-grandense se localizava a 25 km do Natal, na Prisão de Jundiaí, onde funciona, hoje, o Colégio Agrícola. A prisão, na época, era comandada pelo tenente da Polícia Militar, José Antônio da Silva, Oficial da 1ª turma de Formação da Polícia Militar do Estado, genitor do Cirurgião Dentista e Ten-Cel da PM, José Nicodemos Couto da Silva, membro do Clube dos 100, na cidade do Natal.
Estiveram presos no campo de concentração potiguar membros de várias famílias natalenses pelo simples
fato de serem estrangeiros, entre eles: croatas, alemães e italianos. Entretanto, nos informa o jornalista Luiz Alberto Weber, da equipe do Correio Brasiliense, que outros foram confinados por terem sido identificados pelos agentes do FBI, chefiados por John Edgar Hoover, e presos por policiais do antigo Departamento de Ordem Social e Investigações, sendo condenados, em junho de 1942, por atos de espionagem e atividade nazista.
O Tenente José Antônio da Silva, natural da cidade de Pombal na Paraíba, foi um homem respeitado em toda a cidade do Natal. Entre os inúmeros cargos de delegado que exerceu, o de Comandante do campo de concentração de prisioneiros de Guerra no Estado no Rio Grande do Norte se destaca, passando a ser essa função um marco para a sua imortalidade histórica.
Concluindo, acreditamos que o campo de concentração potiguar poderia ser melhor bem definido como um campo de confinamento, já que a maior tortura sofrida pelos prisioneiros foi o cerceamento de liberdade, a alimentação inadequada e o trabalho braçal forçado.
 
Notas do Editor:  
¹Onde se lê “milhares”, deve ser lido “milhões”.
²A historiografia do pós-guerra sobre a Alemanha nazista define, fundamentalmente, a existência de dois tipos de campos, os de concentração de prisioneiros e os de extermínio. A diferenciação é sugerida pela própria terminologia empregada: na prática, não havia (ou não deveria haver...) ações
genocidas em campos regulares de concentração, apenas nos de extermínio. Auschwitz é classificado como sendo de extermínio.





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