O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) teme que o aumento dos negócios fundiários que se verifica no País , com a injeção de capital estrangeiro, dificulte o avanço da reforma agrária. Acredita-se que as áreas disponíveis para a criação de assentamentos rurais tendem a ficar mais escassas, mais caras. Segundo o presidente da autarquia, Rolf Hackbart, esse movimento está associado à expansão da cultura da cana-de-açúcar, para a produção de etanol, mas não só. A reportagem é de Roldão Arruda e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 6-08-2007.
“Estamos diante de uma realidade que vai além da matriz energética”, diz ele. “Investidores internacionais, por meio de empresas brasileiras, compram terras como reserva de valor a médio e a longo prazo. Fazem isso porque há escassez de terras e porque o preço tem subido de forma significativa nos últimos anos. Na região Centro-Oeste, houve uma valorização de 24% na última década.”
Outra preocupação do Incra é com os pequenos e médios produtores rurais - que ficam numa situação desvantajosa perante os detentores de dólares e euros na hora de negociar terras. Daí o fato de a autarquia estar articulando, juntamente com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, uma revisão das leis que tratam da compra de terras por estrangeiros.
De acordo empresas de consultoria na área do agronegócio, a maior parte dos investidores estrangeiros que desembarcam no País atrás de negócios com etanol e biodiesel destina quase todo o seu capital para a compra de usinas. Poucos compram imóveis. Preferem arrendá-los, seguindo o exemplo dos usineiros brasileiros.
Uma das exceções é a Adecoagro, empresa de capital argentino e americano e que tem o multimilionário George Soros entre seus acionistas. Proprietária de quase 30 mil hectares de terras no País, nos quais produz soja, milho, algodão e café, a Adecoagro investe agora na compra de uma área de 150 mil hectares em Mato Grosso do Sul, para a produção de cana.
Os negócios com terras são mais freqüentes nas regiões de fronteira agrícola, onde a possibilidade de valorização imobiliária é maior. É o caso do extremo oeste da Bahia, de partes de Mato Grosso e do Maranhão.
No oeste baiano, fazendeiros americanos compram terras em áreas sem energia elétrica e onde as estradas são precaríssimas. Apostam na capacidade de produção da região - especialmente de soja, milho e algodão - e na valorização dos imóveis.
De acordo com Oziel de Oliveira, prefeito de Luís Eduardo Magalhães, a mais próspera cidade da área, a 900 km de Salvador, os estrangeiros formam a terceira leva de colonizadores. “A primeira foi com o pessoal do Sul do País, que veio plantar arroz e soja. Depois vieram os paulistas e mineiros, com café, fruticultura e pecuária. E, agora, os americanos, australianos, holandeses, com algodão, milho...”
Ainda segundo Oliveira, que é paulista, cerca de 1,5 milhão de hectares já estão produzindo na região: “Mas ainda existem outros 3 milhões para serem explorados, já considerando todas as áreas que devem ser preservadas.”
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