“A humanidade caminha para a era da penúria”, afirma o economista Bruno Parmentier em entrevista publicada pelo jornal Le Monde. Em entrevista concedida a Laura Greenhalgh e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 21-10-2007, ele explica:
“A população deverá se estabilizar entre 9 e 10 bilhões de pessoas. Significa que acolheremos no planeta um bilhão de novos asiáticos, cerca de 800 milhões de novos africanos, 400 milhões de novos latino-americanos. Então temos de nos colocar a questão: haverá alimento para todos? Se admitirmos que todos almejamos comer segundo padrões ocidentais, com dietas fortemente baseadas em produtos de origem animal, teremos então de dobrar a produção agrícola do mundo, já que os animais comem como nós, humanos - consomem cereais e vegetais. E dobrar levando em conta as disparidades existentes. Será preciso multiplicar por 5 a produção agrícola africana e por 1,9 a produção agrícola latino-americana, ao passo que será inútil aumentar a produção européia, já que estamos comendo bem há um bom tempo e não fazemos mais tantos filhos. Por isso nossa população é declinante”.
O economista é diretor da École Supérieure d’Agriculture d’Angers (ESA), a mais importante do setor na França.
Segundo ele, “as soluções aplicadas para aumentar a produção de alimentos no século 20 certamente não funcionarão no século 21. É imperativo encontrar alternativas. Em escala global, nossas reservas de terras disponíveis para agricultura são cada vez menores, em parte por conta da urbanização. Continuamos a destruir as florestas a uma velocidade inaceitável para o equilíbrio ecológico, ou seja, à razão de 140 mil km² por ano. A equação que resulta disso é simples: em 1960, havia algo como um hectare para nutrir dois seres humanos. Hoje, tem-se em média um hectare para quatro, em 2050, um hectare para seis, e assim vai. A China hoje já lida com a razão de um hectare para oito indivíduos”.
E continua:
“Tecnologias agrícolas inventadas no século passado são muito gulosas de energia porque foram desenvolvidas numa época de petróleo barato. A mecanização da agricultura, a fabricação de fertilizantes e outros modos de produção dependem basicamente de energia. Hoje o preço mundial do petróleo atinge US$ 90 por barril. A tendência de alta deve continuar e o impacto psicológico da cotação rompendo o patamar dos US$ 100, já iminente, será bastante sensível. Gente mais jovem que eu verá o petróleo a US$ 150 o barril. Isso tudo complica a vida dos 28 milhões de agricultores do mundo que dependem da mecanização do setor. Em contrapartida, cerca de 250 milhões de produtores rurais trabalham com energia animal e 1 bilhão não têm nem animais nem tratores. Um bilhão de produtores estão completamente à margem! Diante desse cenário, devemos nos perguntar: a agricultura, daqui para frente, deve servir à produção de alimentos ou de energia? Veja que coincidência: 800 milhões de pessoas sentem fome no planeta. E temos uma frota global de 600 milhões de automóveis e 200 milhões de caminhões. O número é o mesmo: 800 milhões querem comida, 800 milhões querem combustível. E agora?”
Para o economista francês, “quando falta comida, nenhum problema é maior do que “ter o que comer”. Mas, quando há comida, então aparecem 50 novos problemas na vida da gente: o medo de engordar, de se envenenar, de envelhecer, a culpa de comer muito quando tantos têm fome... Na Europa Ocidental, a última vez que se viu a cara da fome foi na 2ª Guerra e hoje a maioria da população não lida com tais lembranças. Mas lida com esses 50 novos problemas. Certamente o declínio da religião, numa Europa secularizada, deu lugar a outros tipos de injunções coletivas. Por exemplo: assim como há o “ecologicamente correto”, há também o “corporalmente correto”. Temos de emagrecer, malhar, exibir boa forma física se quisermos merecer o respeito dos outros.”
“O desejável seria oferecer a todos os habitantes do planeta a possibilidade de comer três vezes ao dia”- afirma o economista. “Mas, comer o quê e em que quantidade? Guardamos no nosso corpo a memória de penúrias do passado, por isso tendemos a comer mais do que o necessário: mais açúcar, mais gordura, quando a nossa vida ficou mais sedentária. Daí a obesidade cresce de forma alarmante, especialmente nas classes médias. Em quase todos os países do globo, vê-se um aumento estrondoso dos gordos. É um problema em escala mundial, de certa forma tão sério quanto a fome.
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