Cristina Kirchner ainda não revelou como vai compor a sua equipe econômica e deu poucas pistas sobre o que será seu plano de governo nesta área. A imprensa argentina especula que o atual ministro da Economia, Miguel Peirano, é candidato a permanecer no cargo, já que teria sido escolhido por Cristina, em julho, para substituir a ex-ministra Felisa Miceli, demitida por seu envolvimento com o caso de uma misteriosa bolsa cheia de dinheiro encontrada escondida no banheiro de seu gabinete no Ministério. A reportagem é do jornal Valor, 29-10-2007.
No início do ano, Peirano deu uma entrevista ao jornal "Clarín" em que dizia que, se há dois países com os quais a Argentina tem que se preocupar, estes são China e Brasil. Não foi solicitado pelo jornal que explicasse por que e ele não atendeu a pedidos da reportagem do Valor para esclarecer a dúvida.
No caso da China, há um consenso de que é hoje um problema em "escala planetária", como definiu o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb.com.
Com relação ao Brasil, embora ambos os governos insistam no discurso do excelente relacionamento bilateral, há pelo menos dois temas que incomodam os argentinos: um é o déficit comercial e o outro é a aquisição pelos brasileiros de importantes empresas locais. A Argentina acumula déficit na balança comercial com o Brasil desde 2004, quando o saldo saiu de US$ 1,8 bilhão negativos para US$ 3,6 bilhões em 2006. Neste ano, o déficit ficou em US$ 2,5 bilhões entre janeiro e agosto.
Uma amostra da atenção que o governo Kirchner dá ao incômodo dos empresários e da opinião pública com o que consideram desvantagens da economia argentina em relação ao Brasil foram duas medidas que atingiram em cheio os brasileiros, tomadas nas últimas três semanas. A primeira obrigou os fundos de pensão privados a trazer de volta US$ 2 bilhões em recursos que estão aplicados em ações na Bovespa. A outra foi o envio ao Congresso de um projeto de lei que altera a distribuição da chamada cota Hilton, dando prioridade à distribuição das cotas aos frigoríficos de capital nacional. Negociada no início dos anos 80, durante a Rodada Uruguai do Gatt, a cota Hilton é uma compensação da UE a alguns países que tinham histórico de venda à região (entre eles Argentina, Brasil e Uruguai), antes de levantar barreiras à importação de carne.
Os exportadores destes países podem vender carne no mercado europeu, livre de barreiras, por um preço de até US$ 14 mil a tonelada, mais que o dobro do que se paga pela carne comum. A cota da Argentina é de 28 mil toneladas, bem acima da brasileira, de 5 mil toneladas. Quando, há dois meses, a brasileira Marfrig comprou a mais importante indústria argentina de carne processada, a Quick Food iniciou-se no país um debate sobre a estrangeirização da Cota Hilton. O projeto do governo afeta os frigoríficos brasileiros que investiram alguns milhões de dólares na compra de frigoríficos argentinos, atraídos exatamente por este benefício. Indústrias americanas do setor também seriam atingidas.
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