Não é de hoje que o movimento utilitarista e, de maneira mais sólida, o desenvolvimentismo recebem críticas de algumas correntes intelectuais. Embora proponha o crescimento econômico baseado na produção industrial, a política econômica desenvolvimentista também incentiva o consumo e aumenta as desigualdades sociais na sociedade, gerando mais pobreza e discriminação.
No Brasil, o desenvolvimentismo perdurou de 1930, com o governo Getulio Vargas até o conhecido milagre econômico, em 1980. A partir daí, com a crise financeira do País e a implantação da Constituição de 1988, o movimento passou a perder forças. Mas, segundo Prof. Dr. Paulo Henrique Martins, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o governo brasileiro tenta resgatar esse modelo de política economica.
Para ele, o Estado anda no sentido contrário da crítica antiutilitarista. Isso é visível em programas como o PAC, que tenta “fazer renascer o defunto do desenvolvimentismo”, disse o pesquisador. Segundo ele, o governo poderia ter rompido com o sistema desenvolvimentista, e investido em ousadia e processos de descentralização, “reforçando as práticas associativas municipais e locais”. Assim, explica, é evidente a falta de um debate considerável para combater o utilitarismo, que contamina a sociedade contemporânea.
Contrário também ao utilitarismo, Alain Caillé questiona: por que tudo tem que ter uma função ou utilidade, na sociedade contemporânea? A analise do pensador francês não para por aí. Com uma formação acadêmica diversificada que se estende desde a filosofia a política, Caillé percebe a economia de mercado “como uma fatalidade”. Contra esse processo, explica o pesquisador, ele propõe que “se desnaturalise a economia de mercado para que possa vislumbrar a existência de diversas modalidades de organização da vida econômica que não se identificam com aquela mercantil”.
Seguidor das idéias de Caillé, Martins diz que o pensador francês crê na existência de um certo “fetiche na idéia do desenvolvimento, que é a associação da idéia de crescimento com a idéia de ilimitação, desenvolvimento como expansão ilimitada que é extremamente perigosa para o equilíbrio ecosocial”. Assim, o pensador sugere uma discussão sobre a democracia e aconselha repensar a modernização a partir da experiência participativa.
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