Um dia depois de anunciar que não participará do segundo turno da eleição presidencial do Zimbábue, marcado para sexta-feira, o candidato e líder da oposição, Morgan Tsvangirai, buscou refúgio na Embaixada da Holanda em Harare, temendo por sua segurança. Tsvangirai abandonou a disputa alegando que seus correligionários estariam arriscando a vida ao irem às urnas por causa do clima de intimidação e violência que se instalou no país nessas eleições — a primeira em que o atual presidente, o ditador Robert Mugabe, perigava perder o cargo. Mugabe está no poder desde que o Zimbábue deixou de ser uma colônia britânica, em 1980. A notícia é do jornal O Globo, 24-06-2008.
Tsvangirai pediu ontem que os líderes regionais pressionem pelo adiamento da eleição ou pela renúncia de Mugabe. O líder da oposição disse estar pronto para negociar com o partido do ditador, o Zanu-PF, mas somente depois do fim da violência política.
Mugabe se nega a anular o segundo turno
O partido de oposição Movimento pela Mudança Democrática (MDC, na sigla em inglês) informou que a polícia invadiu a sede do partido em Harare e prendeu mais de 60 pessoas. O movimento afirma que cerca de 90 partidários de Tsvangirai foram mortos por milícias de Mugabe.
Entre os presos estão mulheres e crianças. Somente este mês, Tsvangirai foi detido pelo menos três vezes pelos homens de Mugabe.
— Estamos preparados para negociar com o Zanu-PF, mas é importante que certos princípios sejam aceitos antes de as negociações se iniciarem. Uma das pré-condições é que a violência contra o povo tenha fim mdash, disse Tsvangirai.
Tsvangirai venceu o primeiro turno, mas não recebeu votos suficientes para garantir a vitória direta. Quando oficializar sua desistência, Mugabe estará automaticamente reeleito. A vida do ditador ficaria mais difícil sem o respaldo de um segundo turno realizado dentro da normalidade e o país correria sério risco de enfrentar sanções internacionais, mas seus correligionários não manifestam disposição em abandonar o poder.
O governo afirmou que a desistência de Tsvangirai veio tarde demais e que a eleição não será cancelada.
O Ministério do Exterior da Holanda informou que o líder oposicionista não pediu asilo político, mas disse que ele era bem-vindo na embaixada.
A preocupação dentro e fora da África com a situação política e econômica do Zimbábue, que levou uma grande onda de refugiados aos países vizinhos, é crescente. Tanto a União Africana quanto a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral estão analisando a situação após a desistência de Tsvangirai. Muitos países defendem a criação de um governo de unidade nacional para pôr fim à crise.
Os dois lados rejeitam a proposta. Mugabe prometeu que não entregaria o governo à oposição mesmo derrotado nas urnas. Ele também nega responsabilidade pela violência, agravada depois do resultado do primeiro turno.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, desaconselhou fortemente que o governo de Mugabe realize o segundo turno, alegando que o resultado não teria legitimidade. O Conselho de Segurança condenou a violência e declarou ser impossível uma eleição livre e justa. Os EUA condenaram o governo nos termos mais contundentes e declararam que o país não poderá realizar eleições “livres, justas, ou pacíficas”.
“O regime de Mugabe não pode ser considerado legítimo na ausência de um segundo turno,” disse, em nota, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse que pressionará a comunidade internacional para que deixe de reconhecer a legitimidade do governo de Mugabe. Brown também disse que defenderá que a União Européia imponha novas sanções ao regime, que qualificou como “criminoso” e “cada vez mais desesperado”.
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