Blog do Luis Nassif - 07/09/08
Por jbranco
Nassif,
Leia o texto do delegado da polícia civil do Rio, Alexandre Neto, sobre os grampos. Muito bom e esclarecedor. Merece ser divulgado. Abaixo o link. Clique aqui.
"GRAMPOS E APERITIVOS FEDERAIS
Um escândalo envolvendo a ABIN e a PF já era esperado, afinal os investigados pela Operação Satiagraha (ou Soltaeagarra, para os bem-humorados) – tidos como “figuras acima de qualquer suspeita” – não iriam deixar barato a exposição pública e a “espetacularização” das prisões levadas a efeito em prol da moralidade e do legítimo interesse público, que visam a combater a espoliação do erário nacional.
Qualquer órgão de inteligência que se preze não quer ver a sua reputação destruída, por mais sujo que seja o “serviço” que lhe tenha sido incumbido. A bomba do Riocentro, num 1º de Maio de 1981, é a prova disso. O protagonista sobrevivente passa bem e foi até promovido. Os demais, ninguém sabe e nem procurou saber. O caso está encerrado e prescrito. Mas ainda que houvesse divergências internas em tal órgão de inteligência da Presidência da República, custa crer que seus integrantes se mostrassem tão autofágicos, a ponto colocar em jogo a credibilidade e a existência do próprio ganha-pão.
A quem interessaria esse descrédito? A quem interessaria essa pretensa desmoralização institucional? A quem interessaria esse conflito entre poderes, que devem funcionar independentes e harmônicos entre si ?
A nossa “arapongagem” estatal pode até ser incipiente e subdesenvolvida, mas não é burra. Pode-se até dizer também que a “arapongagem” privada, representada por empresas estrangeiras que funcionam livremente em nosso País como verdadeiras longamanus de órgãos de inteligência de países desenvolvidos, representam muito maior perigo à nossa ordem legal e institucional existentes. Fatos recentes, envolvendo as chamadas “figuras acima de qualquer suspeita” e o dinheiro das privatizações das teles, já deixaram transparecer o pesado jogo sujo que envolve a disputa pelo dinheiro público. Um insignificante – e até então ilustre desconhecido - transformou-se em milionário da noite para o dia, tudo sob as bênçãos dos poderes constituídos. Ninguém futucou para saber de onde brotou significativa e repentina riqueza.
A quem interessa as informações privilegiadas que norteiam essas disputas? Quem delas se beneficia? Quem pode pagar para obtê-las, custe o quê custar?
As escutas autorizadas pela justiça, procedidas pela PF no bojo da Operação Satiagraha, nos ofereceu um dado interessante e, ao mesmo tempo, alarmante: numa das conversas interceptadas, uma das “figuras acima de qualquer suspeita” se mostra não estar preocupada com a ação da justiça no âmbito do Supremo Tribunal Federal, mas apenas receosa com relação aos juízes de primeiro grau. Para tal “figura”, a Corte Maior não representava perigo, pois já estaria anestesiada e não implicaria em maiores preocupações.
Assim, a Operação Satiagraha teve o seu desfecho. O suborno a uma autoridade policial federal restou materializada, ao vivo e em cores. Deslindava-se uma trama odiosa envolvendo “figurinhas carimbadas” dos mais recentes escândalos financeiros da nação. Mas, apesar do alto poder de influenciar e coagir testemunhas, apesar da inegável capacidade financeira de interferir na obtenção de novas provas e até mesmo corromper autoridades, com grave comprometimento da garantia da ordem pública e latente vulneração à aplicação da lei penal, tais “figurinhas carimbadas” foram postas em liberdade, com a garantia sumular, da mais alta Corte, de que jamais seriam algemados.
O cenário já estava preparado. Faltava apenas o grand finale: a “reportagem” de capa da revista VEJA, de 03 de setembro de 2008, sob o título “PODER PARALELO” - que mais parece um Disque-Denúncia, ou “DD” no jargão policialesco – dá conta de duas iniciais que, coincidentemente, já apontam os indícios de sua provável autoria. Uma das “figurinhas carimbadas”, certo da impunidade, se adiantou em servir um “aperitivo” para comemorar a liberdade e lembrar que o estoque de drinks ainda pode ser bem maior e mais variado. Vai depender do freguês, ou da refinada clientela. Uma coisa é certa: pra bom degustador, meia dose basta!
Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2008.
Alexandre Neto"
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