recebido por e-mail - 13 set 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011O lamentável estado da educação pública no Ceará
Desde a mais tenra idade sempre ouvi falar que as pessoas que
escolhem trabalhar com a educação de crianças e jovens são dotadas de
uma vocação especial, algo similar ao que é dito sobre os homens que
renunciam a uma série de prazeres materiais para abraçar o sacerdócio
católico. A meu ver, por trás desse discurso meigo está escondida uma
ideologia lamentável: para alguns, quem trabalha na educação pública,
área historicamente desprezada em nosso País, merece um salário ínfimo,
afinal, é uma pessoa vocacionada, quase mártir, que certamente terá um
lugar reservado no paraíso depois de uma vida de sofrimentos e
incompreensão não apenas por parte do poder público, como também pela
sociedade de modo geral.
Em meio à constante desvalorização da docência pública do Brasil e,
em especial, a do Estado do Ceará, professores articulam greves para
alertar os governantes e a sociedade civil sobre as dificuldades vividas
cotidianamente dentro e fora das salas de aula, sendo a mais grave
delas a questão salarial. Por conta de uma extrema má vontade, o
governador cearense Cid Gomes continua se recusando a pagar corretamente
o piso salarial dos professores da rede pública estadual, além de não
querer tentar qualquer acordo com tal categoria, pois, segundo ele,
“Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer
ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado”.
Após essa declaração desastrada vinda de um homem que supostamente
deveria governar para o povo, não pude deixar de sentir indignação,
revolta e um certo sentimento de impotência, já que tanto a imprensa
quanto a maioria esmagadora da Assembleia Legislativa de meu Estado
dificilmente contestarão a visão torta do governador. Para eles,
detentores do poder nas mais diversas esferas da sociedade cearense, é
muito mais interessante voltar os holofotes para as belezas naturais
desta terra, enaltecendo as possibilidades de lucro com o turismo (que
só serão sentidas em seus bolsos), do que centrar esforços para melhorar
a educação básica e dar melhores oportunidades às milhares de crianças
pobres que jamais frequentarão uma escola privada. Afinal, quem vai
querer uma massa de gente esperta e crítica para derrubar os poderosos?
Sei que o descaso com a educação pública não começou na administração
de Cid Gomes nem é exclusividade do meu Estado. O Brasil inteiro padece
desse problema. Em 2010, comemoramos a derrocada do tucano Tasso
Jereissati, cujo mandato prejudicou bastante a educação cearense. Hoje
vemos que tal derrota foi apenas simbólica, pois Cid Gomes, que hoje
pertence a um partido dito “socialista”, está apenas reproduzindo os
mesmos discursos e práticas de seu antigo preceptor, mesmo dizendo que
os vínculos políticos entre eles estão rompidos.
Como é possível ter esperança em um futuro melhor para o nosso Ceará
com uma liderança de visão torta como Cid Gomes? É terrível pensar que,
com a força que ele tem, poderá eleger um sucessor com grande
facilidade. E quem sabe até dizendo que seu governo “beneficiou” a
educação pública, mostrando, na propaganda eleitoral, escolas fabricadas
no photoshop e atores sorridentes fingindo ser professores.
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