conversa afiada - Publicado em 09/02/2012
Saiu no
Tijolaço, do destemido Fernando Brito:
Questão ideológica é a
propriedade dos meios de produção. É a discussão, que não está posta
neste Governo, entre socialismo e capitalismo.
Totalmente diferente é o patrimônio público e o controle dos serviços públicos essenciais.
Separemos as coisas.
Entregar patrimônio público para grupos privados em condições ruinosas não é ideologia, é dilapidação.
Se as condições não são
ruinosas, a questão passa a ser outra, a da importância daquele
patrimônio para aqueles em nome dos quais você o administra e se a sua
função é pequena ou suprível de outras formas.
A Vale, por exemplo, foi
privatizada em condições ruinosas e tinha uma importância estratégica
para o país – pelo fato de deter as maiores jazidas de ferro do planeta
– insubstituível.
Tivemos N+1 governos de direita e nenhum deles tentou vender a Vale, exceto do de FHC.
Dizer, como fez FHC, que o que
foi feito aos aeroportos ontem segue o mesmo modelo do que fez ele à
Vale é uma mistificação absurda, que não se sustenta diante de um sopro.
É o mesmo que dizer que alugar um apartamento é o mesmo que vendê-lo.
Pior, porque no imóvel há um cofre contendo uma fortuna incalculável, que vai junto.
A Vale foi vendida, os aeroportos tiveram a administração concedida.
Na concessão, não há entrega de patrimônio, que retorna ao Estado, com todas as benfeitorias.
A questões, aí, são de outra
ordem: se o serviço é essencial – e neste caso se permanece controlável
pelo concedente - se a concessão atende ao interesse da população, a
quem são entregues, e se é pago ao poder público por ela uma justa
remuneração.
Nas concessões da telefonia,
por exemplo, o princípio da essencialidade deveria fazer com que o
Estado mantivesse o podere os instrumentos para controlá-la, e ele
abriu mão disso. As concessionárias são donas do negócio, que virou uma
caixa-preta diante da qual a Anatel faz papel de pateta.
O Estado não tem capacidade sequer para fixar tarifas. Ou alguém é capaz de dizer quanto custa um minuto de ligação telefônica?
Que dirá a de dirigir os
investimentos na direção do que seja necessário para a população, como
estamos vendo no processo de universalização da banda larga, que se
arrasta a passos de cágado manco.
O processo de concessão das
teles não apenas foi “preparado” com um brutal aumento das tarifas
telefônicas como a outorga foi financiada com dinheiro do próprio
Estado – caso da Telemar, hoje Oi – e dada ao controle de
multinacionais.
Nem é preciso entrar nos
meandros da corrupção e favorecimentos que aconteceram ali e que estão
parcialmente descritos no A privataria tucana. de Amaury Ribeiro Júnior.
A primeira apelação é dizer que fora prometido manter exclusivamente estatais os aeroportos, como já ficou claro que não, nas palavras da própria então candidata Dilma Rousseff.
A segunda é comparar, por mais que se possa criticar, esta concessão às privatizações da era FHC.
E a terceira, e mais grave, é
apelar para isso com o fim de se defender das evidências de que houve,
além do crime de lesa-pátria, favorecimentos e maracutaias naqueles
processos.
O problema de Fernando
Henrique Cardoso não é ter privatizado por ser de direita. É ter
privatizado por ser um vendilhão da pátria.
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