viomundo - 17 de abril de 2012 às 23:02
por Luiz Leduino de Salles Neto
A presidenta Dilma afirmou, em palestra realizada no dia 10 de abril na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, que é “gravíssimo” o atraso na educação no Brasil. Poucos devem discordar.
É no mínimo curioso, contudo, notar que a área de educação, e de políticas públicas, tema principal da unidade onde a presidenta proferiu a palestra, não estão elencadas como prioritárias pelo programa Ciência sem Fronteiras. De fato, as prioritárias são: Engenharias e demais áreas tecnológicas; Ciências Exatas e da Terra; Biologia, Ciências Biomédicas e da Saúde; Computação e Tecnologias da Informação; Tecnologia Aeroespacial; Fármacos; Produção Agrícola Sustentável; Petróleo, Gás e Carvão Mineral; Energias Renováveis; Tecnologia Mineral; Biotecnologia; Nanotecnologia e Novos Materiais; Tecnologias de Prevenção e Mitigação de Desastres Naturais; Biodiversidade e Bioprospecção; Ciências do Mar; Indústria Criativa (voltada a produtos e processos para desenvolvimento tecnológico e inovação); Novas Tecnologias de Engenharia Construtiva; Formação de Tecnólogos.
E a educação? É mesmo prioridade do governo? E o que dizer de áreas como ciências sociais, economia, gestão pública, história, relações internacionais? A resposta está presente no discurso que a presidenta fez na Escola de Governo da Universidade de Harvard: “não podemos dar mais importância a uma publicação do que uma patente. Nós temos que dar importância à patente”.
Resgatando entrevista que o renomado ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, concedeu ao jornal Folha de S. Paulo em 22 de julho de 2008, nota-se que o mesmo tem outra opinião. De fato, ao ser questionado que o Brasil tinha poucas patentes, Raupp, então presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, concordou:
“É 0,2% da produção de patentes no mundo. E a participação de produtos de pesquisa básica é 2%. Então, olha a diferença. Temos que fazer um esforço brutal. Agora, isso não é responsabilidade da academia, quem tem que puxar são as empresas. Elas têm que adotar a inovação como mecanismo fundamental para se capacitarem para a competitividade(…)”
Ou seja, Raupp defende que as empresas adotem a inovação como prioridade para a competitividade e que a mesma não é responsabilidade da academia.
Recentemente, como traz a edição de abril desse ano da Revista Pesquisa Fapesp, Raupp ratifica essa posição ao responder à mobilização de entidades científicas contra um injustificado corte de 23% no orçamento do MCTI. Cabe então uma pergunta ao governo: por que colocar a inovação como carro chefe de um programa intitulado “Ciência sem fronteitas”?
A presidenta, que acerta no diagnóstico, nossa educação está muito aquém do que o país necessita, deveria refletir sobre o que e como fazer para acelerar a reversão desse quadro, reavaliando, por exemplo, as prioridades estabelecidas pelo programa “Ciência sem Fronteiras”.
Com efeito, o objetivo de toda e qualquer política pública deve ser a melhoria da qualidade de vida da população. Todo e qualquer avanço no conhecimento pode acarretar desenvolvimento humano. Logo, todas as áreas do conhecimento devem ser contempladas pelos programas governamentais de educação, ciência e tecnologia, sem cortes, sem recortes.
Luiz Leduino de Salles Neto – Doutor em Matemática Aplicada, docente e pró-reitor de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
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