"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, junho 25, 2013

Constituinte exclusiva, a proposta inoportuna

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Independentemente ou não do mérito da reforma política, a proposta do plebiscito para a Constituição exclusiva é inoportuna. Não bastassem as inúmeras sarnas que o governo têm para coçar, joga-se nas ruas um novo tema com conteúdo capaz de incendiar ainda mais os debates públicos.
O histórico dessa proposta é banal.
O Estadão precisava ouvir fontes com análises e propostas para a crise. Com a enorme dificuldade em encontra-las recorre ao velho arsenal dos anos 80, o historiador Carlos Guilherme Motta – que tornou-se alvo do escárnio depois de um artigo no Estadão, em 2010, dizendo que o grande risco da democracia era o povo que estava ganhando direitos civis sem estar preparado.
Motinha – como é conhecido – saca do coldre sua velha Colt 45, consulta seus alfarrábios, esquece que não acredita em povo e vem com a fórmula milagrosa (para os anos 80 pré-Constituinte): uma Constituinte exclusiva. No domingo sai a matéria com Motinha, por falta do que propor, propondo a Constituinte exclusiva. Encontra leitores privilegiados no Planalto que nem para temas jurídicos consultam o Ministro da Justiça, por inócuo, inodoro e incolor.
Ora, a Constituinte de 1988 lançou o país na modernidade dos direitos sociais e das políticas de inclusão. Há um conjunto de direitos que tenta-se derrubar há anos – é só conferir as campanhas sobre o excesso de direitos e a escassez de deveres previstos na Constituição -, e só poderiam ser derrubados por uma nova Constituinte.
É evidente que não é essa a intenção da presidente Dilma Rousseff. Mas ao abrir a caixa de Pandora do plebiscito, todas essas ameaças tornam-se latentes. A Constituinte exclusiva passa a sofrer resistências de juristas, parlamentares, movimentos de direitos humanos. 
Poderia se ter ficado na proposta de reforma política, sem avançar nos instrumentos de implementação, antes do pleno conhecimento de todas as alternativas. Toda a discussão, agora, será sobre plebiscito e não-plebiscito, constituinte exclusiva ou não, deixando para segundo plano o objetivo maior da reforma política.
Nos anos 60, Jango convocou um plebiscito para repor o presidencialismo – já que tivera que aceitar o parlamentarismo como pré-condição para assumir a presidência. Venceu o plebiscito e, pouco depois, perdeu o governo. O alvoroço nas ruas, suscitado pela campanha, foi um dos combustíveis para a exacerbação dos conflitos e para o fortalecimento dos conspiradores.
Há que se ter cautela e encontrar alguém que possa tirar esse bode da sala.

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