resistir info - 24 jul 2013
por Zoltan Zigedy
Quando o pânico sobre o destino do programa de "facilidade quantitativa" (quantitative easing) do Federal Reserve atinge proporções histéricas, anomalias económicas extraordinariamente bizarras vêm à superfície. Na última semana de Junho, a notícia de que o crescimento interno do Produto Interno Bruto dos EUA no primeiro trimestre fora reduzido dramaticamente de 2,4% para 1,8% deparou-se com um igualmente dramático, mas paradoxal, salto positivo nos mercados de acções.
Normalmente, uma queda particularmente inesperada na estimativa do PIB dispararia perdas no mercado de acções – a confiança do investidor seria abalada. Mas verificou-se o oposto.
O que está a acontecer?
Sabichões e investidores saudaram as más notícias porque esperam que isso venha a manter o compromisso do Federal Reserve com a compra de US$85 mil milhões por mês de títulos no projecto alcunhado "facilidade quantitativa". Eles acreditam que o Fed não ousaria reduzir o programa devido ao fraco desempenho económico.
E reconhecem que sem o pé do Fed a pressionar fortemente o acelerador, a economia capitalista estagnará ou declinará. O programa do Federal Reserve é realmente uma máquina para manter viva (life-support system) a nossa economia e os apologistas do capitalismo reconhecem que sem ela estariam em perturbação profunda. Portanto, os investidores saúdam a queda do crescimento do PIB.
Mesmo Paul Krugman, a voz popular da teoria social-democrata nos EUA, foi contagiado pelo medo. Num apelo no fim de Junho em The New York Times (Et tu, Ben?) ao chefe do Federal Reserve, Ben Bernake, Krugman conclama o Fed a manter o pé agressivamente sobre o pedal da gasolina.
Apesar de ser um firme advogado de uma opção política alternativa, com estímulos fiscais (gastos em infraestrutura, obras públicas, etc), Krugman tapou o seu nariz e incitou à continuação do programa de estímulo monetário do Fed de imprimir dinheiro a fim de comprar títulos.
Então por que é que não podemos todos nós simplesmente concordar em avançar assim e estimular o Federal Reserve a continuar a imprimir dólares?
Em primeiro lugar, a política promíscua do Fed de impressão de dólares está a perder seus poderes curativos. O efeito da compra de dívida do governo – notas do Tesouro – a fim de restringir taxas de juro e rendimentos (yields) de títulos tem diminuído desde meados de 2012.
Além disso, o remédio do Fed perdeu inteiramente a sua magia em Maio e Junho deste ano, com a yield da nota do Tesouro a 10 anos a subir em dois terços, as taxas de hipotecas a saltarem cerca de 27% entre Março e o fim de Junho, e o mercado de títulos dos EUA e europeu (excepto a Alemanha) experimentando uma venda ao desbarato. Todos estes indicadores demonstram que a facilidade quantitativa, como política de estímulo, está simplesmente a perder a sua força.
O Federal Reserve encara a sua injecção mensal de US$85 mil milhões na economia como uma protecção contra a temida deflação, uma companhia óbvia à estagnação ou ao crescimento negativo. Eles observam para ver quando a inflação transpõe o seu alvo de 2% a fim de dar uma patada nos travões a fim de evitar uma economia super aquecida.
Mas não há razão para que o Fed se preocupe: a inflação está bem abaixo do seu alvo, um sinal claro de que sem estímulo monetário estaríamos num período deflacionário. As corporações estão a entesourar cash ao invés de investir: elas estão a manter 5,6% do seu total de activos em cash, contra uma média de 40 anos de 4,4%. Foi o fraco investimento nos negócios, em parte, que causou a revisão baixista de 25% no crescimento do PIB no primeiro trimestre.
A média móvel de três meses do índice de Actividade Nacional do Federal Reserve de Chicago permaneceu em território negativo, sublinhando os efeitos decrescentes da facilidade quantitativa.
À parte a sua ineficácia, a facilidade quantitativa coloca problemas mais graves, mais fundamentais. A promiscuidade monetária do Fed distorce mercado e mascara processo económicos subjacentes. Uma vez que a economia capitalista é um organismo enormemente complexo composto de actores, mercadorias e processos mutuamente interactivos, manipular alguns dos elementos centrais tais como taxas de juro, oferta de moeda, crescimento da dívida, etc tem repercussões imprevistas e danosas em outros sectores da economia. Falham mecanismos e são rompidos equilíbrios. Uma terapia torna-se um ferimento.
Isto é uma lição que a liderança da República Popular da China está a aprender a partir da volatilidade criada pelo seu sector bancário sombra (shadow banking sector). Mesmo com maioria de propriedade pública dos maiores bancos, o sector privado informal distorce o impacto de decisões políticas.
Em termos marxistas, a intervenção maciça do Federal Reserve em mercados financeiros viola a lei do valor. Ou seja, substitui o intercâmbio de equivalente-por-equivalente em mercados financeiros com intercâmbios determinados independentemente de forças de mercado pelos responsáveis do Fed.
Aqueles intercâmbios devem, em algum ponto, ser reconciliados; mas nesse meio tempo distorcem relacionamentos de intercâmbio em outros sectores da economia. Criam uma desconexão entre o sector financeiro e os sinais enviados à economia produtiva. Distorcem a taxa de lucro no sector financeiro, canalizam capital para a especulação e criam excesso de confiança no crédito barato [NT] . Não é de admirar que corporações entesourem cash e procurem retornos mais altos sobre os capitais retidos e o capital facilmente disponível.
Na realidade, a facilidade quantitativa chama as próprias condições que levaram ao colapso de 2007-8.
E agora estamos a ver os presságios nos dados económicos.
O exuberante mercado de acções de 2013 está a sofrer uma retracção e, ainda mais ameaçadoramente, a demonstrar volatilidade crescente. No ano passado, o pequeno investidor afastou-se do mercado, um sinal seguro de que um mercado deprimido (bear market) estava à vista. Grande parte da volatilidade vem de manipuladores do mercado a aproveitarem-se de traders amadores. Tal como os jogadores aventureiros de fim-de-semana em Vegas, eles estão prontos para serem depenados. Pode-se observar isso acompanhando a compra e venda no fim do dia; eles não sabe quando entrar ou quando caírem fora.
As exportações dos EUA estão a retroceder
O recorde de lucros pós II Guerra Mundial verificado em 2012 está ameaçado. De 108 companhias que se previa relatarem lucros no segundo trimestre de 2013, 87 apresentaram orientação negativa aos seus accionistas. Lucros em queda, ao contrário das teorias subconsumistas, são um melhor prognosticador de uma retracção do que a queda no consumo. O consumo geralmente cai em consequência e como um ampliador do declínio económico.
Hoje, o consumo nos EUA está na dependência de um equilíbrio precário. Enquanto as poupanças estão em declínio, os salários estão em queda livre. No ano finalizado em Setembro de 2012 verificou-se um declínio salarial de 1,1%. Estimativas para o primeiro trimestre [de 2013] auguram um declínio chocante. O consumidor está simplesmente a ficar sem dinheiro, poupanças e crédito disponível.
E os números do desemprego anunciados em Junho mostram realmente um aumento no cálculo U6 do desemprego para 14,3%. Essa taxa inclui aqueles que se retiraram do mercado de trabalho e aqueles a trabalharem em tempo parcial mas que desejam um trabalho a tempo inteiro.
Um quadro não alvissareiro.
Na maior parte dos países do mundo capitalista, os movimentos trabalhistas e os partidos política de esquerda ainda têm de desligar o seu destino daquele do capital monopolista, conduzido pelo lucro, do sistema governado pelo mercado. Eles são como navios em águas turbulentas relutantes em levarem suas embarcações e tripulações para o porto. Eles estão simplesmente a confiar em que a tempestade se acalme. Não estão preparados nem para a expectativa de um novo furacão nem para um naufrágio.
Após cinco anos desastrosos, poder-se-ia esperar que líderes de esquerda e trabalhistas começassem a procurar alternativas para o capitalismo, um lugar seguro para os seus passageiros
07/Julho/2013
[NT] Ver por exemplo o comportamento da Apple : apesar de nadar em US$145 mil mihões acumulados, esta empresa monopolista decidiu endividar-se no mercado de obrigações dos EUA.
O original encontra-se em mltoday.com/.... Tradução de JF.
Recentemente duas notícias vindas dos EUA foram bem interessantes: 1- A falência de Detroit; 2- As notícias de criminalidade em Cleveland.
Vou perguntar novamente algo que já postei. Será que existe de fato a tal recuperação dos EUA? Ou é um balão de ensaio para esconder a nova onda de crise que vários analistas previram que iria ocorrer por esses anos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário