viomundo - publicado em 1 de maio de 2013 às 14:55
por Conceição Lemes
A fazenda de São Félix, com 700 hectares, fica no município de Bom Jesus da Serra, no sudoeste da Bahia, a 410 km de Salvador.
O turista desavisado logo se encanta com este canyon com
lago de águas esverdeadas, circundado por imensos paredões. Dá vontade
de conhecê-lo melhor de barco, talvez até mergulhar; os apaixonados por
pesca logo se perguntarão sobre os peixes que vivem aí.
Só que quem vê paisagem, não vê o seu coração.
Além de uma galeria subterrânea de 200 km de extensão, esse grande canyon é – acreditem! — o que restou da exploração da primeira mina de amianto no Brasil, a de São Felix, em Bom Jesus da Serra.
Até a década de 1930, o Brasil importava tudo o que consumia desse
mineral cancerígeno. Em 1937, esse quadro começou a mudar com a
fundação da Sama (Sociedade Anônima Mineração de Amianto) e a
descoberta da mina de amianto de São Felix do Amianto.
Em 1939, começava aí a exploração do amianto no País. Em 1967, a mina foi fechada.
Durante esse período, a Sama, inicialmente explorada pelos franceses
da Saint-Gobain/Brasilit, e mesmo depois (o sucessor em interesse
atualmente é a empresa nacional Eternit S/A), não se preocupou com as
condições de vida dos trabalhadores e habitantes do entorno da jazida.
Tampouco adotou medidas para reduzir os prejuízos causados pela
mineração e evitar a contaminação da água e do ar.
Em 2009, então, o Ministério Público Federal e o Ministério Público
do Estado da Bahia entraram com uma ação civil pública contra a Sama
(atualmente, chama-se S/A Minerações Associadas, que pertence ao grupo
Eternit), por conta dos danos ambientais.
Em liminar, a Justiça Federal em Vitória da Conquista, Bahia,
determinou à Sama a realização de uma série de medidas em defesa do meio
ambiente e da segurança da população.
A Sama tentou anular a decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Porém, por unanimidade, o TRF-1 ( processo nº 0031223-88.2009.4.01.0000), manteve a decisão de primeira instância.
A mineradora terá de realizar estudos técnicos para a elaboração do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).
Para isso, informa o Portal Poções, a
Sama terá de presentar projeto ambiental pormenorizado, firmado por
profissional habilitado e aprovado por técnicos do Instituto do Meio
Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com
cronograma de execução e implantação.
Entre as medidas determinadas pela Justiça estão ainda:
* Isolamento da antiga mineradora com cercas de arame farpado, para impedir a entrada de pessoas não autorizadas.
* Sinalização da área com 30 placas informativas sobre o risco de danos à saúde do local.
* Recolhimento de resíduos de amianto espalhados na propriedade, observando-se todos os cuidados necessários.
* A empresa terá também de isolar todas as escavações provocadas pela
atividade mineradora, onde se acumulam água, com muros de alvenaria ou
pré-moldados com sinalização, indicando Atenção – Água imprópria para consumo humano.
“Aos poucos, o silêncio sobre os males do amianto vai sendo rompido”,
comemora a engenheira Fernanda Giannasi, auditora-fiscal do Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE),em São Paulo. “Cada vez mais nossas
autoridades públicas demonstram coragem para agir contra os
perpetradores da maior tragédia ecossanitária industrial planetária de
todos os tempos. Prova disso é a portaria assinada na sexta-feira 26
pelo procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT), proibindo
o amianto no âmbito do MPT.”
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores (3º) e exportadores (2º) de amianto do mundo.
A extração, antes feita em Poções foi transferida para Minaçu,
interior de Goiás, na divisa com o Tocantins. Aí fica a mina de Cana
Brava, a única em exploração no Brasil.
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