"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

domingo, março 09, 2014

Bacia Hidrográfica da Lagoa Mirim

 

A Lagoa

Na chuva de cores da tarde que explode, a Lagoa brilha.

(Carlos Drummond de Andrade)

Eu não vi o Mar. Não sei se o Mar é bonito.

Não sei se ele é bravo.

O Mar não me importa.

Eu vi a Lagoa. A Lagoa, sim.

A Lagoa é grande e calma também.

A Lagoa se pinta de todas as cores.

Eu não vi o Mar. Eu vi a Lagoa...

A Lagoa Mirim localiza-se no Extremo Sul do Brasil entre os Paralelos 33°37’08”S e 32°08’48”S e Meridianos 52°35’05”O e 53°39’50”O. Suas margens Meridionais Ocidentais fazem fronteira com o Uruguai, desde a Foz do Jaguarão até a Embocadura do Arroio San Miguel. É o segundo maior manancial lacustre do Brasil e a nossa maior Lagoa com 175km de comprimento, uma largura média em torno dos 21,5km e máxima de 41km. A Lagoa Mirim interliga-se, através do Canal de São Gonçalo, com o maior corpo lagunar do país – a Laguna dos Patos.

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Figura 01 — Bacia Hidrográfica da Lagoa Mirim — Brasil/Uruguai (Fonte: Machado, G.)

As profundidades médias de suas águas Setentrionais variam de 1 a 2m, chegando a 4m na parte central e oscilando entre 5 e 6m na região Meridional, atingindo, ainda que muito pontualmente, até 12m. A Lagoa Mirim possui uma superfície da ordem de 3.750km2 sendo um terço deste total águas uruguaias constituindo-se, portanto, em um corpo hídrico fronteiriço onde prevalece o regime de águas compartilhadas. Os níveis mais baixos são observados no trimestre março-abril-maio, agravados consideravelmente pela irrigação intensiva. O período menos chuvoso é de outubro a dezembro e o de menores afluências entre dezembro e fevereiro.

Na Margem Ocidental da Lagoa concentram-se o maior número de afluentes e os de maior caudal enquanto na Oriental se localiza a mais recente restinga regional que margeia o Oceano Atlântico, onde se localizam a Lagoa Mangueira e o Banhado do Taim. A Bacia da Lagoa Mirim subdivide-se em oito Bacias Hidrográficas totalizando uma superfície de 58.500km² que somadas à superfície da Lagoa Mirim (3.750km²) resultam em 65.250km².

a) No Brasil (19.642km²):

1. Bacia do Canal São Gonçalo (9.147km²), cujo principal afluente é o Rio Piratini;

2. Bacia do Arroio Grande (4.080km²), formada pelo Arroio Grande e Chasqueiro;

3. Bacia do Litoral (6.415km²), onde estão localizados o Banhado do Taim e a Lagoa

Mangueira dentre outras de menor expressão.

b) No Uruguai (30.670km²):

4. Bacia do Tacuarí (5.143km²);

5. Bacia do Cebollatí (17.328km²);

6. Bacia do Sarandí (1.266km²);

7. Bacia do San Miguel (6.933km²), integrada pelo San Miguel e por outros rios

menores.

c) Fronteira Brasi/Uruguai (11.938km²):

8. Bacia do Rio Jaguarão, na divisa entre o Brasil e o Uruguai (8.188km²);

O exutório natural da Lagoa Mirim, o Canal São Gonçalo, que a liga à Lagoa dos Patos (próximo à Praia do Laranjal, Pelotas, RS), encontra-se, atualmente, controlado através de uma eclusa, cuja finalidade é impedir as intrusões de fluxos salinos de jusante.

Exutório: ponto de menor altitude de uma Bacia Hidrográfica, a Foz do Canal para

onde converge todo escoamento superficial gerado no interior da Bacia Hidrográfica

da Lagoa Mirim drenada pelo Canal de São Gonçalo. (Hiram Reis)

A Rede Hidrográfica da Lagoa Mirim é composta pelos seguintes cursos d’água:

Brasil:

  • Margem Ocidental da Lagoa Mirim (do Sul para o Norte): Rio Jaguarão (Foz 32°39’11”S / 53°10’54,1”O), Arroios Juncal (Foz 32°38’26,4”S / 53º 05’15,6”O), Arrombados (Foz 32°32’24,8”S / 52°59’57,9”O), Bretanhas (Foz 32°29’21,6”S / 52°58’08,6”O), Grande (Foz 32°20’43,3”S / 52°47’21,6”O), Canhada Grande (Foz 32°18’59,6”S / 52°48’29,7”O), Chasqueiro (Foz 32°16’05,3”S / 52°47’14,4”O), Palmas (Foz 32°10’15,3”S / 52°43’32,1”O).
  • Margem Esquerda do Canal S. Gonçalo (de Montante para Jusante): Arroio contrabandista (Foz 32°01’03”S / 52°25’15,3”O), Rio Piratini (Foz 32°00’57,1”S / 52°25’14,5”O), Arroio do Pavão (Foz 31°58’02”S / 52°25’10,3”O), Arroio Moreira ou Fragata (Foz 31°47’54,6”S / 52°22’16,4”O), Arroio Pelotas (Foz 31°46’23,4”S / 52°16’51”O).

  • Margem Oriental da Lagoa Mirim (do Sul para o Norte): Arroio dos Afogados (Foz 33°07’47”S / 53°22’29,7”O), Arroio Capão da Canoa (Foz 33°06’33,2”S / 53°16’33,6”O), Arroio Del Rey (Foz 32°52’09,7”S / 52°55’45”O), Arroio do Taim (Foz 32°33’35,2”S / 52°35’24,7”O), Arroio Gamela (Foz 32°15’09,5”S / 52°40’26”O), Arroio Sangradouro (32°08’48,7”S / 52°37’21,5”O).

Uruguai:

  • Margem Ocidental da Lagoa Mirim (do Sul para o Norte): Rio San Miguel (Foz 33°36’29,3”S / 53°31’56,7”O), Rio San Luis (Foz 33°31’40”S / 53°32’44,3”O), Arroio Costa de Pelotas (Foz 33°27’31”S / 53°35’29,5”O), Rio Cebollatí (Foz 33°09’12,2”S / 53°37’47,7”O), Rio Sarandi Grande (Foz 33°02’02,6”S / 53°34’04,5”O), Arroio Zapata (Foz 33°56’55,4”S / 53°29’51,1”O), Rio Tacuarí (Foz 32°46’17”S / 53°18’36,4”O).

- Gênese e Morfologia das Lagoas Costeiras do Rio Grande do Sul

A Lagoa Mirim sofreu uma série de eventos paleogeográficos. Antes de assumir sua forma atual, ela foi sendo moldada lenta e progressivamente pelas “barreiras depositadas ao longo da faixa costeira, originadas de sedimentos trazidos por correntes de litoral e acumuladas pela dinâmica praial”. (VIEIRA e RANGEL).Conforme relata Albano Schwarzbold:

Há 230 mil anos o degelo elevou o nível do mar a 20m acima do atual, fazendo com que as águas entrassem continente a dentro. Essa extensa área submersa foi retrabalhada em condições praiais e marinhas rasas, tendo contribuição do material sólido erodido continental, configurando um perfil de fundo e iniciando a formação de uma Barra na direção Sul (a partir de Pelotas).

O Período Glacial seguinte criou as condições para a ocorrência de sequências de deposição de emersão. Posteriormente, o Interglacial Yarmouth, originou nova submersão continental, mas em menor intensidade que a anterior, sendo que a reinundação da região ocorreu através da Barra ao Sul. A ação erosiva sobre a barreira originou uma segunda deposição de águas rasas, originando uma segunda barreira e obstruindo a Barra ao Sul e isolando a Laguna Mirim do oceano.

Interglacial Yarmouth: a Penúltima interglaciação ocorrida a 435 mil anos. O termo Yarmouth é homônimo de uma região do estado norte americano de Yowa. (Hiram Reis)

Há 150 mil anos, o fundo da Laguna foi aplainado pelo assoreamento dos sedimentos marinhos. Há 80 mil anos, na última transgressão marinha pleistocênica, a elevação do nível do mar foi menos intensa (cerca de 8 metros acima do nível atual), não permitindo a ultrapassagem das barreiras formadas anteriormente. Neste evento, a Laguna Mirim permaneceu isolada do mar, sem a ocorrência de ingressão marinha.

Pleistocênica: a época Pleistocena sucede a época Pliocena e precede a época Holocena. Divide-se nas idades Pleistocena Inferior, Média e Superior da mais antiga para a mais recente. Nesse período aconteceram as variações de climáticas mais radicais. (Hiram Reis)

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Figura 02 — Antigo vertedor da então “Laguna” Mirim.

O Glacial Wiscosin, que ocorreu de 60 mil até há 16 mil anos, provocou um rebaixamento no nível do mar para – 100 metros. Neste evento houve o rompimento e erosão parcial da restinga, servindo de vertedor à Laguna Mirim, onde hoje se encontra o Banhado do Taim e as Lagoas Nicola e Jacaré.

Glacial Wiscosin ou Glacial Würm: última glaciação, ocorrida a 10.000 anos a.C. (Hiram Reis)

Já no Holoceno, onde as oscilações de nível do mar são restritas, a transgressão Flandriana atingiu seu máximo há seis mil anos, com o nível do mar elevando-se a 5m acima do atual e havendo intrusão na laguna Mirim através do Taim. Ocorreram amplas deposições na margem litorânea, apesar de baixas, construindo feixes de restinga sobrepostos aos depósitos pleistocênicos, em linhas paralelas à costa, na direção Sul.

Holoceno: o Holoceno inicia-se logo após a última era glacial principal – Idade do Gelo, há cerca de 11.500 anos e se estende até a atualidade (Hiram Reis).

Flandriana (Transgressão Flandriana): nesse período, ocorrido entre 4.000 a 5.000 anos AP. (antes do presente), o mar, num rápido avanço, em decorrência das mudanças climáticas ocorridas durante o Glacial Würm e o princípio do degelo das calotas polares, trabalhou a parte superficial dos sedimentos continentais antes depositados, resultando na formação de uma camada de areias litorâneas transgressivas. (Instituto Meridionalis)

Este processo foi repetido durante as três próximas transgressões holocênicas. O crescimento dos feixes de restinga, para o Sul, desviou o vertedor da Laguna Mirim, no Taim, originando um longo canal de escoamento semilagunar. A continuação desse processo culminou com o fechamento da ligação da Laguna com o mar, pelo Taim, originando a Lagoa Mirim, que permanece isolada até a atualidade. A Lagoa Mirim, auxiliada pelos fortes processos erosivos impostos pela Lagoa dos Patos aos terraços pleistocênicos, acabou por estabelecer um canal de interligação, atualmente denominado de São Gonçalo, e que constitui, hoje, o estuário da Lagoa Mirim para a Lagoa dos Patos. (SCHWARZBOLD)

A antiga Laguna Mirim tinha, portanto, uma embocadura com o Oceano Atlântico, entre o Norte da Lagoa Mangueira e o Taim, formando um ambiente estuarino. Estudos paleoambientais atestam a presença de ambiente mixohalino (águas com salinidade dominada por sais de cloreto de sódio), em condições lagunares de deposição, caracterizando uma Barra de maré de baixa energia entre os segmentos de ilhas de barreiras já formadas. (VIEIRA E RANGEL)

- Relatos Pretéritos ‒ Lagoa Mirim

Manoel Ayres de Cazal (1817)

A Lagoa Mirim que quer dizer pequena comparativamente àquela outra, sendo de 26 léguas de comprimento com 7 para 8 na maior largura, está também prolongada com a Costa, e deságua para a dos Patos por um Canal de 14 de comprido, largo, vistoso e navegável, que é o mencionado Rio de São Gonçalo.

O Rio Saboiati (Cebollati - Foz 33°09′10,4″S / 53°37′42.7″W), depois de ter recolhido outros muitos, deságua caudaloso perto da extremidade Meridional da Lagoa Mirim e dá navegação por muitas léguas.

Rio Cebollati: afluente da Margem Ocidental da Lagoa Mirim. Sua nascente é a Coxilha Grande, região Central do Uruguai, corta os Departamentos de Lavalleja, Treinta y Tres y Rocha. Seu comprimento total é de 235 km. (Hiram Reis)

O Rio Chuí, que não é considerável, desemboca quase no meio da mesma Lagoa: e mais ao Norte o Jaguarão, que principia perto da Lagoa Formosa, dão-lhe 25 léguas de curso e 5 ou 6 de navegação. (CASAL)

Arroio Chuí: nasce no Município de S. Vitória do Palmar e atravessa o Município do Chuí até desaguar no Oceano Atlântico junto à Praia da Barra do Chuí, balneário de S. Vitória do Palmar. O ponto Extremo Meridional do País é a Curva da Baleia (Figura 03) no Arroio Chuí (33°45’09”S / 53°23’22”O), há 2,76km de sua Foz (33°45’03”S / 53°23’48”O) que é o Extremo Sul do litoral brasileiro. (Hiram Reis)

Rio Jaguarão (em espanhol Yaguarón): é navegável por 32km, da Foz até o Município de Jaguarão, com 2,50m de profundidade. Nasce na Serra de Santa Tecla, na Coxilha das Tunas ou do Arbolito (Município de Hulha Negra). O Jaguarão divide os Municípios de Jaguarão, no Brasil, e Rio Branco, no Uruguai. (Hiram Reis)

Domingos de Araujo e Silva (1865)

Arroio Chasqueiro: nasce no Município de Piratini, e lança-se na Lagoa Mirim na Latitude Sul de 32°37’30”.

Arroio d’El-Rei: é formado pelas águas das Lagoas do Embira e Silveira, e deságua na Lagoa Mirim na Latitude Sul de 32°57’ e Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 9°50’59”.

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Figura 03 — Arroio Chuí - Curva da baleia e Foz

Arroio das Palmas: afluente Ocidental da Lagoa Mirim.

Arroio do Juncal: nasce nos campos da margem do Rio Jaguarão, e deságua na Margem Ocidental da Lagoa Mirim na Latitude Sul de 32°22’45” e Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 10°01’29”, e ao Norte da Foz do Rio Jaguarão.

Arroio Grande do Herval (hoje Arroio Grande): Nasce na Serra de São João do Herval, e faz Barra na Margem Ocidental da Lagoa Mirim ao pé da Ponta Alegre na Latitude Sul de 32°19’40”.

Espírito Santo de Jaguarão: sobre a margem esquerda do Rio do mesmo nome, 5 léguas acima de sua Foz e na Latitude Sul de 32°24’ e Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 09°17’9”, demora a florescente cidade de Jaguarão, muito importante não só pelo comércio com o Estado Oriental do Uruguai o com o interior da Província, como por ser ponto fronteiro e nele permanecerem constantemente aquartelados um Regimento de Cavalaria e um Batalhão de Infantaria; fica em frente à Vila Oriental de Artigas e a 82 léguas da Capital.

A Cidade está colocada sobre um terreno docemente acidentado, é formada de muitas ruas que se cortam perpendicularmente, e tem de um e outro lado dois pequenos córregos que atravessam, o primeiro as Ruas dos Pescadores e da Trincheira, e o segundo as da Matriz, Boa vista, Portão e Flores; entre seus edifícios públicos notaremos como principais a Igreja Matriz na Praça do mesmo nome, a cadeia na esquina das Ruas da Ponte e Direita, a casa da Câmara na Rua das Praças, o mercado na Praça da Marinha e o Quartel em frente a Rua das Palmas.

Teve origem esta cidade nos postos avançados de artigos bélicos mandados construir em 1763 pelo Coronel Ignácio Eloy de Madureira, e pelo estabelecimento dos colonos vindos do Funchal para povoar a Província; foi elevada à categoria de Paróquia por Ato Régio de 31.01.1812, à de Vila por Decreto de 06.07.1832, e à de Cidade pela Lei Provincial n° 322 de 23.11.1855.

O seu Município, que é formado das Freguesias do Espírito Santo de Jaguarão, São João Baptista do Herval e Arroio Grande, e que é habitado por 13.648 almas, sendo a população da Cidade de cerca de 4.000, pertence à Comarca de Piratini e ao segundo Distrito eleitoral: existe em seu terreno, além de outros minerais, grande abundância de carvão de pedra e de mármores, argila refratária e xistosa, ferro carbonatado, grés carbonífero, grosseiro e vermelho, podingue (seixos rolados), xisto betuminoso, etc.

A instrução primária é dada por quatro escolas, sendo duas para o sexo masculino e duas para o feminino, as primeiras criadas pelas Leis Provinciais n° 44 de 12.05.1846 e n° 345 de 09.02.1857, e as segundas pela Lei primeiramente citada; são frequentadas por 124 alunas e 147 alunos.

O seu comércio não é tão próspero como era de esperar em razão do contrabando de sua fronteira e da Lagoa Mirim; sua exportação consta de produtos bovinos, e a importação de diversas mercadorias. Tem comunicação com as Cidades de Pelotas e do Rio Grande por meio de uma linha de vapores, e com o centro da Campanha por uma (linha) de diligências. Descansa a 28 léguas de Porto Alegre, 32 da Cidade do Rio Grande, 29 de Pelotas, 26 de Piratini, 33 de Bagé, 50 de Caçapava, 59 de S. Gabriel, 60 de Santana do Livramento, 87 de Alegrete, 109 da Uruguaiana, 114 de São Borja, 111 de Itaquí, 100 da Cruz Alta e 69 de Rio Pardo.

Ilha de Tacuarí: Ilhas da Lagoa Mirim, situadas 5 léguas abaixo da Foz do Rio Tacuarí entre 32°53’ e 32°55’ de Latitude Austral e 10°12’ e 10°25’29” de Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro; são em número, de oito, sendo três grandes e cinco pequenas, e todas pertencentes ao Império.

Lagoa da Mangueira: grande Lagoa situada entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim, e junto ao Albardão; deságua nesta Lagoa por um Sangradouro conhecido com o nome de Arroio Taim, tem 18 léguas de comprimento sobre 2 de largura, e era antigamente denominada Saquarumbu.

Lagoa de Cojubá: grande Lagoa situada entre a Lagoa Mirim e o Oceano, e ao Noroeste da Lagoa da Mangueira; tem cerca de duas léguas de comprimento.

Lagoa do Embira: pequena Lagoa situada sobre a costa da Lagoa Mirim na Latitude Sul de 33°02’ e Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 10°51’29”.

Lagoa do Moreira: pequena Lagoa situada entre o Rio Santa Maria e o Arroio das Palmas, e perto da margem Ocidental da Lagoa Mirim.

Lagoa do Pinheiro: pequena Lagoa situada na Margem Oriental da Lagoa Mirim perto do Rincão do Baeta.

Ponta Alegre: Ponta da Lagoa Mirim situada na Latitude Sul de 32°24’ e Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 09°43’29”.

Ponta de Santiago: Ponta da Lagoa Mirim, situada na Latitude Austral de 32°50’ e Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 10°03’39”.

Ponta do Salso: Ponta da Lagoa Mirim, situada ao Norte do Taim, na Latitude Austral de 32°20’ e Longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 09°42’29”.

Ponta dos Latinos: ponta da Lagoa Mirim situada na Latitude Sul de 32°45’ e longitude Oeste do Meridiano do Observatório do Rio de Janeiro de 09°56’29”; fica fronteira a uma pequena Ilha.

Rio da Canoa: tributário da Lagoa Mirim.

Rio de São Gonçalo (Canal de São Gonçalo): Sangradouro que comunica a Lagoa Mirim com a dos Patos, e cuja extensão é de 12 léguas; na sua margem Ocidental está assentada a cidade de Pelotas: é navegável em toda a sua extensão, e suas águas são sulcadas por grande número de embarcações. Foi sobre a margem esquerda deste Rio, que teve lugar o combate entre os cento e tantos bravos do valente Coronel Albano de Oliveira Bueno, e setecentos e tantos dissidentes, ficando prisioneiro o dito Coronel e o bravo Major Manoel Marques de Souza (hoje Barão de Porto Alegre); aquele foi covardemente assassinado junto ao Rio Camaquã pela escolta que o conduzia preso pra Porto Alegre, e que tinha recebido ordem para tão lamentável Ato, sendo seu único crime se ter batido por vontade, visto ser paisano; e este foi solto e perdoado por não ter crime, visto se ter batido por obrigação.

Santa Vitória do Palmar: Capela fundada na Freguesia do Taim, e elevada à Freguesia pela Lei n° 417 de 06.12.1858; faz parte do Município do Rio Grande e da Comarca deste nome.

Esta Freguesia tem por limites: ao Oriente a costa do Oceano; ao Sul o Arroio Chuí, desde a sua Foz até o Passo Geral deste mesmo Arroio, e daí por uma linha reta tirada quase na direção Este-Oeste e determinada pelos marcos do divisa com a República Oriental do Uruguai, que demoram (situam-se) desde o mesmo Passo Geral do Chuí até o Passo Geral do Arroio São Miguel: ao Ocidente o Arroio de São Miguel, desde o dito Passo Geral até à sua Foz, e daqui abrangendo todo o território e Costa Oriental da Lagoa Mirim e suas águas pertencentes ao Império, na forma dos respectivos Tratados celebrados com a referida República Oriental e Atas de Demarcação.

Existem nesta Freguesia duas escolas públicas de instrução primária, uma para cada sexo, e ambas criadas por Ato da presidência de 08.06.1861. (SILVA)

Mila Cauduru (2000)

Esta “faixa aloucada” tem início em Santa Vitória do Palmar, um Município de clima quase polar no inverno, uma comuna esquecida, uma população entregue aos trabalhos da terra, abandonada, órfã dos poderes públicos. A Rua principal, por onde mal se pode transitar, é toda ela, de um extremo ao outro, só areia.

A única via de comunicação que o Município utiliza, com relativa segurança, para pôr-se em contato com o Estado e com o país, é a Lagoa Mirim, onde não existe a bem dizer um porto de trapiche e os navios ficam ao largo, e cargas e passageiros só logram atingir a terra firme pelo transbordo em lanchas e canoas. O caminho por terra que poderia fazer esta ligação está interrompido no Taim há quase cem anos, em razão de um cataclismo que assoreou o Arroio por onde vazavam as águas da Lagoa das Flores para a Lagoa Mirim. Destruído o Arroio, pelo assoreamento, a região, numa área de muitos quilômetros quadrados foi tomada por um areal intransponível ‒ o famoso banhado do Taim. (CAUDURO)

Paulo Osório (2005)

Estávamos chegando ao Taim. A Estação Ecológica do Taim é área de suma importância para o ecossistema do Sul do Brasil e de todo nosso continente americano. O Taim consiste em estreita faixa de terra entre a Lagoa Mirim, a Lagoa Mangueira e o Oceano Atlântico, onde centenas de espécies de aves de várias partes do mundo se encontram para acasalamento e reprodução. Vivem ali também alguns mamíferos roedores nativos, como preás, pacas e capivaras. E mais peixes e répteis, como jacarés, cobras e outros pequenos animais característicos das áreas de banhados. Essa área esteve ameaçada pela exploração econômica com lavouras de arroz e criação de gado. São 33.000ha de proteção ambiental que estão sendo expandidos para 100.000ha se as autoridades nacionais pensarem primeiro na humanidade.

Desde a cidade de Rio Grande, a paisagem, ao longo da BR 471, é praticamente a mesma. São uns 200km até o Chuí, e à medida que se mergulha em direção ao Extremo Sul do país, os efeitos da presença do homem vão ficando mais e mais escassos. Vêem-se campos, banhados e Lagoas de ambos os lados da estrada, e raros capões de mata nativa. A fauna local é fantástica e ajuda a quebrar a monotonia da paisagem. Aves de todas as espécies e de todos os lugares do continente circulam por ali. Porém, estávamos em abril, e só a partir de agosto é que o cenário se torna riquíssimo.

A Estação Ecológica, em si, ocupa quase vinte quilômetros de reta sem nenhum socorro e com animais de toda espécie cruzando a pista. A distância é curta, mas parece que se demora uma eternidade para cruzá-la. É um Santuário e como tal tem que ser respeitado. Baixamos a velocidade e tentamos andar no limite de 80 km/h. Para quem se deslocava a 200 km/h, parecia que estávamos parados. Era impossível manter aquele ritmo, mas também não podíamos acelerar e correr o risco de matar algum animal. (OSÓRIO)

Fontes:

CAUDURO, Mila. Palavras do Tempo – Brasil – Porto Alegre, RS – AGE - Assessoria Gráfica e Editorial Ltda, 2000.

CAZAL, Manoel Ayres de. Corografia Brasílica: ou Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brasil – Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Impressão Régia, 1817.

OSÓRIO, Paulo. O Portal ‒ Brasil ‒ Porto Alegre, RS ‒ Editora Age Ltda, 2005.

SCHWARZBOLD, Albano. Gênese e Morfologia das Lagoas Costeiras do Rio Grande do Sul – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista Amazoniana – Volume 9, 1984.

SILVA, Domingos de Araujo e. Dicionário Histórico e Geográfico da Província de São Pedro ou Rio Grande do Sul ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RS ‒ Casa dos Editores, 1865.

VIEIRA e RANGEL, Eurípedes F. e Suzana. Planície Costeira do Rio Grande do Sul: Geografia Física, Vegetação e Dinâmica Sócio-demográfica – Brasil – Porto Alegre – Sagra, 1988.

- Livro do Autor

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS e na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br). Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:

http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false

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Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com

Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br

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