"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, março 15, 2014

Milton Temer e a Operação Banqueiro: “Era a patota tucana que estava nisso”

publicado em 11 de março de 2014 às 22:46

por Luiz Carlos Azenha

“Era a patota tucana que estava nisso”, relembra hoje o ex-deputado federal Milton Temer. Ele é um importante personagem mencionado no livro Operação Banqueiro, de Rubens Valente. Esteve próximo de uma informação que poderia ter danado as privatizações feitas por Fernando Henrique Cardoso. Era uma lista de clientes de um fundo administrado pelo banqueiro Daniel Dantas nas ilhas Cayman, o refúgio fiscal do Caribe.

Se Temer tivesse tido acesso à lista, poderia ter ficado explícito o quid pro quo: brasileiros, impedidos de participar das privatizações através de fundos como aquele, do banco Opportunity, tinham participado clandestinamente. As regras da venda de estatais teriam sido violadas. Dentre os brasileiros poderiam estar estrelas do tucanato. Beneficiários que, por sua vez, teriam ajudado o banqueiro Dantas em sua batalha contra Carlos Jereissati, na privatização da telefonia.

Temer chegou a conversar, por telefone, com a autoridade monetária das ilhas Cayman, que deu a entender ter informações a respeito do que Temer procurava. Mas que exigiu, para entregar a lista, que uma autoridade equivalente, no Brasil, fizesse o pedido formalmente. O deputado foi ao então presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que demonstrou interesse no caso. Depois, repentinamente, Armínio mudou de ideia. A lista nunca veio. Valente, o autor do livro, diz que é um mistério que os brasileiros ainda precisam desvendar.

Temer, aos 75 anos de idade, hoje é um dos ideólogos do PSOL.

Foi figura importante do Partido dos Trabalhadores. Ajudou a apelidar o ex-procurador geral da República, na era FHC, Geraldo Brindeiro, de “engavetador da República”. Temer foi vice-presidente da CPI do Proer, que investigou a operação de salvamento dos bancos brasileiros bancada pelo Tesouro público. Disputou duas vezes a presidência do PT com José Dirceu: em 1997, perdeu de 49% a 47%; em 1999, Dirceu teve 51%, Temer 33% e Arlindo Chinaglia 11%.

Olhando em retrospectiva, diz que travou as grandes batalhas contra o sistema financeiro praticamente sozinho, já que em 1994 identificou os primeiros sinais de uma guinada do PT em direção aos bancos.

A suspeita que motivou o trabalho de Temer, com apoio de Luiz Gushiken: “Grande parte do tucanato estava num fundo no Exterior, num fundo que o Daniel Dantas administrava nas ilhas Cayman”.

Na gravação abaixo ele narra como foi a batalha.

Ele fala em Fruet, Gustavo, hoje prefeito de Curitiba, então deputado que presidiu a CPI; não lembra o nome de Alberto Goldman, então deputado do PSDB, encarregado de aliviar para os tucanos na comissão.

Fala do grande adversário empresarial de Daniel Dantas, Luís Roberto Demarco, e de Paulo Okamoto, amigo do ex-presidente Lula.

Fala dos irmãos Mendonça de Barros, de André Lara Resende e Elena Landau, artífices das privatizações.

Fala da turma de sindicalistas do PT — Jair Meneghelli, Paulo Rocha, João Paulo Cunha e Ricardo Berzoini — que teria abraçado a ideia do ex-presidente Lula de fechar parceria com o grande capital nacional.

Lembra que conseguiu levar ao plenário o pedido de impeachment de FHC, que recebeu 100 votos.

Conta casos bombásticos dos bastidores da política: a CPI do Proer, por exemplo, só saiu porque Luiz Eduardo Magalhães, do extinto PFL, presidente da Câmara, tinha contas a acertar com o Planalto.

Se um dia os brasileiros tiverem acesso aos dados do fundo de Cayman que Temer buscava, poderemos colocar em pratos limpos quem lucrou com as privatizações por debaixo dos panos.

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