Obama em Varsóvia |
Nikolai Bobkin Николай Бобкин | ||
Traduzido por Coletivo de tradutores Vila Vudu |
O presidente dos EUA está em viagem pela Europa. O itinerário inclui Polônia, Bélgica e França. O foco da agenda é a Ucrânia. Os EUA facilitaram o golpe armado encenado em Kiev e festejaram a tomada do poder pelos nacionalistas. Na verdade, os EUA assinaram a sentença de morte da Ucrânia. O governo faz o que pode para fortalecer a posição do novo governo ucraniano. Obama não esperou nem a posse: já se encontrou com Poroshenko durante visita a Varsóvia.
Obama estava reunido com o presidente eleito, no momento em que a aviação ucraniana bombardeava áreas urbanas populosas no leste do país. Na conversa com seu contraparte ucraniano, Obama disse: “Estou entusiasmado ante as oportunidades. Creio que o povo ucraniano escolheu bem, ao eleger alguém com talento para liderar os ucranianos nesse período difícil. E os EUA estão absolutamente comprometidos com apoiar o povo ucraniano e suas justas aspirações, não só nos próximos dias e semanas, mas também nos anos que virão, porque confiamos que a Ucrânia pode, de fato, ser democracia viva e potente, com laços fortes com a Europa e laços fortes com a Rússia. Mas só poderá acontecer se nós apoiarmos claramente a Ucrânia, durante esse tempo difícil.”[1] Mas... de que ‘dependência’ fala Obama, no momento em que cresce a indignação na Europa porque Kiev reluta a quitar a dívida de gás super subsidiado que tem a pagar à Rússia. Ninguém paga $268,5 dólares por mil metros cúbicos, nem a Alemanha nem qualquer outro estado europeu. Todos estão habituados a pagar $400-500, com pequena variação, dependendo das condições de momento. Europeus e a russa Gasprom absolutamente não entendem que estado é esse cujo governo não quer pagar pelo gás que recebe a preço baratíssimo... mas obriga o povo a suportar o ônus de não ter gás! Kiev parece não perceber que a Europa não a apoiará. Em sua primeira reunião mais demorada com o presidente eleito da Ucrânia Petro Poroshenko, Obama disse que “Nossa capacidade para modelar a opinião mundial ajudou a isolar completamente a Rússia. Por causa da liderança dos EUA, o mundo imediatamente condenou as ações russas”. [É fala de autista. Difícil acreditar que tenha dito tal coisa,] e mais difícil ainda entender o que teria levado o presidente dos EUA a crer que a Rússia esteja isolada. Hoje, tudo isso parece sonho, ou delírio, sem qualquer contato com a realidade. Os fatos apontam em direção oposta. A empresa-imprensa ocidental está chocada ante o amplo apoio com que o presidente Putin conta na Europa. Pesquisa de opinião realizada pelo canal N-TV da televisão alemã chegou ao surpreendente resultado segundo o qual 89% de seus telespectadores apoiavam as políticas de Vladimir Putin, presidente da Rússia, para a Ucrânia. A maioria dos entrevistados responderam “sim” à seguinte pergunta: “Você compreende e aprova as políticas de Putin?” O resultado foi tão contrário ao que os entrevistadores esperavam, que a pesquisa foi retirada no mesmo dia da página da N-TV. Era tarde, porque muita gente já havia fotografado a tela e distribuído as fotos em páginas e pelas redes sociais. Uma dessas imagens, postada na página Facebook de Christophe Hoerstel de Potsdam mostra que 89% dos entrevistados responderam um claro “sim”; 11% responderam “não”, e não havia outras opções de resposta. Pesquisa do Wall Street Journal mostrou exatamente os mesmos resultados. Dizia que europeus letrados opõem-se firmemente a sanções contra a Rússia. Na mesma edição, o jornal mostrava que os índices de aprovação do governo Obama alcançavam recordes negativos históricos em pesquisas feitas nos EUA. Números sempre crescentes de norte-americanos rejeitam a posição de Obama na questão ucraniana. Será que Poroshenko sabe disso? Ao destacar a importância de sua visita a Varsóvia, a imprensa-empresa ucraniana apresentou-o como “diplomata muito experiente”, provavelmente por causa da rica experiência que adquiriu quando foi ministro de Relações Exteriores. Poroshenko ocupou esse cargo por exatos TRÊS DIAS: de 9 a 12 de outubro de 2009. Poroshenko é comerciante e empresário. Para ele a Ucrânia é e sempre será lugar de onde extrair lucros. Mas Obama ficou impressionadíssimo por seus planos (“Fiquei profundamente impressionado por sua visão, em parte por causa de sua experiência como empresário, que compreende tudo o que é necessário para ajudar a Ucrânia a crescer e ser efetiva”). Não surpreende ninguém! Hunter Biden, filho do vice-presidente dos EUA Joe Biden, acaba de ser contratado para a diretoria da empresa Burisma Holdings, maior produtor privado de gás da Ucrânia. O grupo tem interesse no leste da Ucrânia, onde se alastra a guerra civil, depois do golpe em Kiev. Biden aconselhará sobre “transparência, governança privada e responsabilidade, expansão internacional e outras prioridades” para assim “contribuir para a economia e beneficiar o povo da Ucrânia”. Aleksander Kwasniewski, ex-presidente da Polônia de 1995 a 2005 também participa da mesma diretoria. É uma espécie de leva-e-traz entre Washington e Kiev. Como se vê facilmente, todos os pré-requisitos para que a Ucrânia seja convertida em colônia do ‘ocidente’ estarão criados em pouco tempo. A primeira reunião entre Obama e Poroshenko gerou quantidades consideráveis de retórica anti-Rússia. Nas palavras de Obama: “É importante para a comunidade internacional posicionar-se firmemente a favor dos esforços de Petro para negociar com os russos um processo pelo qual a Rússia deixe de financiar e apoiar separatistas armados em território soberano da Ucrânia, e que uma comunidade internacional unida deixe claro que há violação da lei internacional e que ela insiste em apoiar esses princípios, com consequências contra a Rússia no caso de o Sr. Putin não aproveitar a oportunidade para desenvolver melhor relacionamento com seus vizinhos – e essa tem de ser parte de nossa missão ao longo dos próximos vários dias”.
Na conferência com a imprensa, o presidente dos EUA disse que não tem interesse em ameaçar a Rússia, mas que a Rússia tem de respeitar a soberania da Ucrânia, conter os combatentes separatistas e trabalhar junto com Poroshenko.
Se a Rússia não obedecer, disse Obama, mais sanções já estão preparadas. “O Sr. Putin tem uma escolha a fazer” – disse Obama. – “É o que lhe direi se o encontrar publicamente. E é o que já lhe disse privadamente.”[2] Obama disse que oferecerá a Poroshenko o apoio dos EUA para a economia ucraniana, para garantir que superem o inverno, no caso de Moscou fechar as torneiras do fornecimento de gás, em ação de retaliação pela falta de pagamento (sic). Washington reconheceu que a Rússia teve relacionamento histórico com a Ucrânia e tinha interesses legítimos sobre o que acontecesse nas suas fronteiras – disse Obama. – “Mas nós também acreditamos que os princípios de integridade territorial e soberania têm de ser respeitados. Preparamos custos econômicos a serem cobrados da Rússia, que podem aumentar se, de fato, continuarmos a ver a Rússia ativamente desestabilizando um de seus vizinhos do modo como já vimos recentemente”. Solicitado a comentar se o tópico Ucrânia seria discutido, Peskov, porta-voz de Vladimir Putin presidente da Rússia, disse que o presidente Putin estava disposto a discutir quaisquer temas. No contexto das celebrações que marcam os 70 anos do desembarque das tropas aliadas na Normadia, Putin “manterá inúmeros contatos, como eles dizem, em pé” – disse Peskov. Mas não há nada marcado, de qualquer reunião entre o presidente da Rússia Vladimir Putin e Petr Poroshenko. “Não, ninguém está trabalhando nisso” – Peskow disse à Interfax.
Notas
[1]http://www.whitehouse.gov/the-press-office/2014/06/04/remarks-president-obama-and-president-elect-petro-poroshenko-ukraine-aft
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