megalupa -
Número 31 Março-Abril/2015
Leitor compulsivo, não vivo
apenas de leituras, mas, também de releituras. À minha frente um velho
conhecido: “Apologia de Sócrates”, um dos quatro diálogos em que Platão narra a
vida e os ensinamentos do “Pai da Filosofia.
No ano de 399, antes de
Cristo, em Atenas, aconteceu um dos julgamentos mais tristemente célebre da
História. O filósofo Sócrates, um homem já velho, compareceu diante do tribunal
da cidade, para responder acusação de ensinar falsas doutrinas, corrompendo os
jovens. Condenado, sua pena foi a morte, obrigado a tomar cicuta, um veneno.
Três foram os acusadores:
Meleto, Aneto ou Âneto e Lícon. O primeiro deles foi o acusador oficial.
Tratava-se de um poeta trágico. Sócrates não o poupa e nem aos outros. Afirma
com todas as letras, conforme a versão perpetuada por seu discípulo Platão.
Quanto ao acusador-mor afirma
que é um poetastro, um subliterato, um intelectualoide.
Seguramente, o ciúme, a
impossibilidade de chegar perto da cultura e da inteligência do filósofo se
constituiu no motivo principal de tê-lo levado às barras do tribunal.
Para que Sócrates fosse
julgado precisava do concurso de outras duas testemunhas de acusação. E
encontrou.
Em primeiro lugar serviu-se do
poder econômico, na pessoa de Âneto ou Anito, um endinheirado curtidor. Conheço
muito bem o que representa curtume. É uma das indústrias mais poluidora que
existem. O outro apoio encontrou em Lícon, um tribuno, um orador. Em suma: um
político profissional.
Sócrates também desmascara o
poder econômico e o poder político do seu tempo. Mostra que a procura da
verdade, preconizada por ele, nega as práticas costumeiras, baseadas nos
interesses pessoais e na mentira.
Dois mil, trezentos e tantos
anos depois do julgamento que condenou o “Pai da Filosofia” à morte, o concurso
entre aquelas mesmíssimas três forças continuam em pleno vigor contra os homens
que procuram a verdade. Filho de uma parteira, que trazia crianças à luz,
Sócrates se identificava como um parteiro de homens.
O principal acusador foi um
poetastro, vaidoso, imbecil metido a culto. Os “parteiros de homens” continuam
ante a oposição, a algaguetagem e a mentira desses energúmenos e mentecaptos. E
os energúmenos e mentecaptos de hoje encontram apoio nos Anitos e Líncos atuais.
Especialmente os verdadeiros homúnculos liliputianos que são os Meletos de
província.
(Paulo Monteiro é membro da
Academia Passo-Fundense de Letras)
Nenhum comentário:
Postar um comentário