Não deixa de ser curioso ver dois economistas que no passado tiveram posições ideológicas tão antagônicas concordarem tanto. O ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto e o ex-secretário de Política Econômica, Luiz Gonzaga Belluzzo, que há cerca de um ano e meio chegaram a defender algum tipo de controle no câmbio, voltaram a se unir ontem nas críticas à apreciação do real e sua consequência ao que eles classificaram de "desindustrialização" do país. A notícia é do jornal Valor, 8-03-2007.
"Estamos em um processo autofágico. Hoje, fabricamos a capa do produto e o enchemos de componentes importados", explicou Delfim, ressaltando que a atual política cambial acaba por destruir os setores que poderiam garantir a continuidade da tranqüilidade que o país vive hoje no front externo. "A idéia de que vamos continuar usando aumento de preços (especialmente de produtos com demanda dependente da conjuntura mundial) para atingir os resultados que estamos obtendo hoje é uma miopia", explicou o ex-ministro, durante seminário "O Brasil no século XXI: desafios do futuro".
O evento, realizado na Faculdade de Economia e Administração da USP, foi o primeiro de uma série de 16 que Delfim coordenará na FEA este ano. O ex-ministro é professor emérito da faculdade e tem dedicado mais tempo à educação depois que não conseguiu se reeleger para o cargo de deputado federal, no ano passado.
Em sua apresentação, Belluzzo, professor titular de Economia da Unicamp, enfatizou que a política de pagar juro alto e manter o real valorizado tem levado a uma destruição de valor na cadeia produtiva brasileira. "Apesar do aumento das nossas exportações de manufaturados, perdemos participação no valor agregado manufatureiro global", explicou, dizendo-se pessimista em relação às perspectivas futuras.
A avaliação dos dois professores é de que a política de juro praticada no país tem atraído especuladores que, com operações de arbitragem nos mercados futuros, obtêm altos ganhos, com baixo risco. Para Belluzzo, o governo poderia, sim, proteger a taxa de câmbio real, a exemplo do que fazem países como a China, e tem instrumentos a sua disposição para fazê-lo, como os derivativos.
"Poucos têm se dado conta de que, com essa política cambial do BC, já acumulamos hoje US$ 68 bilhões de investimentos externos em ações e US$ 112 bilhões em renda fixa. Apesar de nossas reservas acima de US$ 100 bilhões, esse volume é um obstáculo a uma desvalorização mais rápida da taxa de câmbio."
Embora tenham dado ênfase à política de juros e câmbio, os economistas - estavam também presentes João Sayad, ex-ministro do Planejamento, e Adroaldo Moura da Silva, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários - destacaram que a importância do debate sobre o crescimento econômico está na necessidade de redução da desigualdade social e da pobreza. E esse objetivo não pode ser atingido com a aplicação do receituário neoliberal que vigorou nos anos 90, que pregava a menor participação do Estado e a solução do crescimento via "mercado", na avaliação dos economistas.
Para Delfim, o regime de economia de mercado exige um Estado forte, que dê balizamento aos cidadãos. "É isso que dá moralidade ao capitalismo. É preciso resgatar a importância do papel do Estado nos investimentos. A idéia de que o Estado é irrelevante é absurda."
"Estamos em um processo autofágico. Hoje, fabricamos a capa do produto e o enchemos de componentes importados", explicou Delfim, ressaltando que a atual política cambial acaba por destruir os setores que poderiam garantir a continuidade da tranqüilidade que o país vive hoje no front externo. "A idéia de que vamos continuar usando aumento de preços (especialmente de produtos com demanda dependente da conjuntura mundial) para atingir os resultados que estamos obtendo hoje é uma miopia", explicou o ex-ministro, durante seminário "O Brasil no século XXI: desafios do futuro".
O evento, realizado na Faculdade de Economia e Administração da USP, foi o primeiro de uma série de 16 que Delfim coordenará na FEA este ano. O ex-ministro é professor emérito da faculdade e tem dedicado mais tempo à educação depois que não conseguiu se reeleger para o cargo de deputado federal, no ano passado.
Em sua apresentação, Belluzzo, professor titular de Economia da Unicamp, enfatizou que a política de pagar juro alto e manter o real valorizado tem levado a uma destruição de valor na cadeia produtiva brasileira. "Apesar do aumento das nossas exportações de manufaturados, perdemos participação no valor agregado manufatureiro global", explicou, dizendo-se pessimista em relação às perspectivas futuras.
A avaliação dos dois professores é de que a política de juro praticada no país tem atraído especuladores que, com operações de arbitragem nos mercados futuros, obtêm altos ganhos, com baixo risco. Para Belluzzo, o governo poderia, sim, proteger a taxa de câmbio real, a exemplo do que fazem países como a China, e tem instrumentos a sua disposição para fazê-lo, como os derivativos.
"Poucos têm se dado conta de que, com essa política cambial do BC, já acumulamos hoje US$ 68 bilhões de investimentos externos em ações e US$ 112 bilhões em renda fixa. Apesar de nossas reservas acima de US$ 100 bilhões, esse volume é um obstáculo a uma desvalorização mais rápida da taxa de câmbio."
Embora tenham dado ênfase à política de juros e câmbio, os economistas - estavam também presentes João Sayad, ex-ministro do Planejamento, e Adroaldo Moura da Silva, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários - destacaram que a importância do debate sobre o crescimento econômico está na necessidade de redução da desigualdade social e da pobreza. E esse objetivo não pode ser atingido com a aplicação do receituário neoliberal que vigorou nos anos 90, que pregava a menor participação do Estado e a solução do crescimento via "mercado", na avaliação dos economistas.
Para Delfim, o regime de economia de mercado exige um Estado forte, que dê balizamento aos cidadãos. "É isso que dá moralidade ao capitalismo. É preciso resgatar a importância do papel do Estado nos investimentos. A idéia de que o Estado é irrelevante é absurda."
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