O plano de política industrial anunciado ontem com pompa e circunstância pelo governo, batizado de Política de Desenvolvimento Produtivo, gerou uma discussão que parecia adormecida. Trata-se da importância do papel do Estado como indutor do crescimento econômico. A reportagem é de Guilherme Barros e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 14-05-2008.
Ex-ministro superpoderoso quando o Estado ainda ditava os rumos da economia durante o regime militar, Delfim Netto considerou bastante positivo o novo plano de política industrial. Para ele, "o governo está reconstruindo um caminho que foi abandonado nos últimos anos".
Delfim, que estava à frente da economia quando o país lançou o Plano Nacional de Desenvolvimento, no final da década de 60, acha que o novo plano irá ser muito criticado, apesar de estar na direção correta.
"O plano deverá ser execrado pelos "estadofóbicos" e considerado insuficiente pelos "estadolatras", diz Delfim. "O importante do plano é que ele recupera a idéia de que o desenvolvimento depende do Estado indutor."
Não há, segundo Delfim, nenhum caso no mundo de desenvolvimento econômico sem a participação do Estado. Delfim também não vê problema no fato de o plano favorecer alguns setores da economia, embora este atual seja mais abrangente do que os anteriores.
"Muitos criticam a idéia de uma política industrial porque encaram um mal a escolha dos vencedores. Talvez prefiram a escolha dos perdedores", diz Delfim.
Ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros também enxerga com bons olhos o plano anunciado ontem pelo governo.
Mendonça de Barros diz que não vê com preconceito a adoção de uma política industrial. A seu ver, sempre há espaço para uma política industrial que seja inteligente. Ou seja, que incentive os setores nos quais o país apresente vantagens comparativas. No mundo inteiro é assim.
"Faz todo o sentido o Brasil incentivar os setores que vão vender para a China, por exemplo, e não aqueles setores que vão competir com a China", diz o economista.
Mendonça de Barros também acha positivo o fato de o plano promover a redução de impostos, mesmo que seja pequena. Afinal, o governo não está em condições de abrir mão de uma parte significativa da arrecadação tributária sem antes cortar gastos.
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