O resultado da reunião do G-20 em Washington em 15 de novembro de 2008 é indecente. A declaração aprovada pelos governos é um modelo do gênero “reafirmamos os princípios do neoliberalismo". Nem um único dogma que presidiu a financeirização da economia global e que levou à crise foi contestado. A afirmação é da ATTAC sobre o encontro do G-20 em nota postada em seu sítio, 18-11-2008. A tradução é do Cepat.
Eis o comunicado.
Ao mesmo tempo em que a livre e absoluta circulação de capitais, as inovações financeiras e a falta de freios dos derivativos são amplamente reconhecidas como fatores de instabilidade permanente, o G20 quer encorajar "o desenvolvimento do comércio de produtos e serviços financeiros” e assegurar que as instituições financeiras possam “administrar volumes crescentes de produtos derivativos”.
Abusando do termo “regulação” a cada página, o G20 não afirma nenhuma medida verdadeiramente efetiva contra os paraísos fiscais e não diz uma palavra sobre o sigilo bancário, bem ao contrário do que muitos chefes de Estado e Governo vinham afirmando desejar.
Caindo em contradição, o G20 afirma a necessidade de evitar a recessão, ao mesmo tempo em que apela para a “manutenção de um quadro político que conduza a sustentabilidade fiscal”, ou seja, aconselha o rigor fiscal.
Não é espantoso que o balanço de trinta anos de políticas neoliberais não tenha sido afastado definitivamente do horizonte? O aumento considerável desigualdade, a diminuição dos ganhos dos trabalhadores, bem como a implementação de programas de ajuste estrutural no Sul, é totalmente ignorada pelo G20. Porém, o programa chamado "valor acionista", corolário da deterioração da condição salarial, é causa de profundo entusiasmo.
Nos anos 1980 e 1990, as políticas neoliberais foram canonizadas sob o nome "Consenso de Washington". Hoje podemos dizer que está em curso um novo consenso de Washington, reformulado para dar a aparência de novidade, mas que não passa de uma simples cópia dos preceitos que levou o mundo à beira da catástrofe. Anistiar as dívidas dos bancos não representa qualquer problema para os defensores do capitalismo, enquanto a dívida dos países do Sul ainda está para se tornar uma prioridade.
A União Européia já manifestou a sua voz original, neste concerto. Em uníssono a outras grandes potências, que se engajam obstinadamente nas reformas estruturais no mercado de trabalho, o Conselho de Ministros das Finanças (Ecofin), em 7 de outubro, anunciou reformas que portam as sementes do agravamento da situação de muitos, preparando assim as condições para uma nova crise antes mesmo que essa seja interrompida. A "refundação do capitalismo", cara ao presidente francês, que é também o presidente da UE, não passa de uma “roupagem” que faz avançar para um novo caos social.
Após o belo espetáculo protagonizado por banqueiros e especuladores, criadores da crise, os principais governantes presentes no G20 reafirmaram a sua fé cega nos benefícios do mercado rei e as virtudes da busca de rentabilidade a todo o custo. O preço a ser pago será o da impossibilidade de redução da pobreza e da desigualdade e da incapacidade de colocar a sociedade numa trajetória de desenvolvimento um caminho que respeite o meio ambiente.
Junto ao todo o movimento altermundialização, a Attac propõe incluir os cidadãos no centro dos processos de tomada de decisão. Enquanto o G20 definiu um novo encontro para abril de 2009, a Attac se engaja nas mobilizações sociais para exigir o fim do neoliberalismo, exigindo a tributação geral das operações financeiras, colocando o setor financeiro sob controle público e por uma nova partilha da riqueza produzida. Isso é possível e indispensável que aconteça o quanto antes.
Attac França,Montreuil, 18 de novembro de 2008.
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