"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, novembro 25, 2008

O dólar e o tiro no pé

Blog do Luis Nassif - 20/11/08


A falta de precisão é um dos problemas centrais do jornalismo brasileiro. Mas quando se mexe com fatores delicados – como em uma crise em que o fator expectativa é fundamental – essa imprecisão alimenta desastres.

Não se deve minimizar a crise, mas há maneiras de trabalhar com ela.

Analisar a questão do dólar no caderno de Economia, com análises técnicas, é uma coisa. Quando se coloca em manchete informações sobre “fuga de dólar”, sem que esteja de fato ocorrendo, ajuda-se apenas a assustar o leitor e a colocar mais lenha na fogueira.

O conceito de fuga de dólares se aplica a saídas maciças da moeda. Foi o que ocorreu em novembro e dezembro de 1998, quando quase US$ 50 bi de reservas se evaporaram. Ou em 2002. O que está acontecendo hoje em dia é uma saída mais acentuada de dólares, mas nada que se equipare a uma fuga.

A Folha soltou uma manchete irresponsável de primeira página: “Fuga de dólar cresce”.

Os dados em questão foram um déficit de US$ 833 milhões na conta financeira nas duas primeiras semanas de novembro, que está muito longe de ser caracterizado como fuga. A própria matéria é tecnicamente bem feita. Mas a busca de manchetes a qualquer preço é um risco, que deveria ser melhor avaliado pelos jornais.

Quanto muito, pelo fato de que papel é dólar. E manchetes assim são tiros no pé.

Nenhum comentário: