viomundo - publicado em 27 de agosto de 2013 às 18:33
Sabóia disse que não é agente penitenciário
Política| 27/08/2013 | Copyleft
Fuga de senador foi ação orquestrada, diz deputado do PT
Para o deputado Cláudio Puty (PT-PA), que participou de uma missão
oficial à Bolívia, em março, onde conheceu os principais personagens
envolvidos na trama, fuga do senador boliviano Roger Pinto não foi obra
individual de um destemido diplomada brasileiro, mas ação organizada
pela direita com apoio de setores conservadores do Itamaraty, que atuam
contra governos progressistas latino-americanos e a favor do
agronegócio.
Brasília – A fuga do senador boliviano que custou o cargo ao ministro
das Relações Exteriores, Antônio Patriota, não foi obra individual de
um destemido diplomada brasileiro, mas uma ação organizada pela direita
com apoio de setores conservadores do Itamaraty, que mantêm estreitos
laços em questões políticas e econômicas, como o boicote aos governos
socialistas e a defesa intransigente do agronegócio.
A avaliação é do deputado Cláudio Puty (PT-PA), que participou de uma
missão oficial à Bolívia, em março, onde conheceu os três principais
personagens envolvidos na trama: o então embaixador do Brasil na
Bolívia, Marcel Biato, que patrocinou a aceitação brasileira ao pedido
de asilo político do senador, o diplomata brasileiro Eduardo Sabóia, que
afirma ter organizado sozinho a fuga do político, e o próprio senador
oposicionista Roger Pinto, que viveu 545 dias na embaixada brasileira na
Bolívia.
“Esta foi uma ação sem precedente na história da diplomacia
brasileira. Como pode um diplomata patrocinar a fuga de um criminoso
comum, à revelia do governo brasileiro, escondido do governo boliviano e
com o apoio explícito da direita brasileira, que já o aguardava na
fronteira do país?”, questiona Puty.
Para ele, é inadmissível que o Brasil, que não aceitou o pedido de
asilo político do ex-agente da CIA, Edward Snowden, corra o risco de
colocar em xeque as relações com um país amigo para ajudar um criminoso
comum como Roger Pinto. “Pelo que consta, o Brasil não reconhece a
Bolívia como um governo de exceção. Portanto, essa ação foi um atentado à
soberania boliviana que precisa ser punida exemplarmente”, acrescentou.
Missão oficial
O deputado foi à Bolívia acompanhado de outros quatro colegas que,
como ele, atuavam na CPI do Trabalho Escravo. Em visita à embaixada
brasileira em La Paz, se surpreenderam com a presença de Roger Pinto.
“Ele usava a embaixada como escritório particular para fazer oposição ao
governo de Evo Morales. Recebia colegas do partido e concedia
entrevista livremente”, relembra.
Puty ficou muito impressionado também com a postura de Biato e Sabóia
que, a despeito das excelentes relações bilaterais entre Brasil e
Bolívia, tratavam aquele país com total desrespeito. “Eles falavam sobre
a Bolívia, os bolivianos e o Evo com tanto preconceito que o jantar de
recepção à nossa delegação terminou em bate-boca”, recorda ele,
ressaltando a cumplicidade ideológica entre diplomatas e senador.
Para o deputado, a aceitação do pedido de asilo político, patrocinada
por Biato, foi um erro que, desde então, tem gerado desconforto na
relação Brasil e Bolívia. Pressionado, o Brasil decidiu transferir Biato
para a Suécia, em junho passado. Saboia, então, passou a responder como
embaixador em exercício.
Voz do agronegócio
Proprietário de terras na fronteira com o Acre, Roger Pinto é o
principal porta-voz do agronegócio no país. Governou o departamento de
Pando, quando acumulou processos por desvios de verba, favorecimento a
jogos ilegais e venda de terra pública para estrangeiros. Depois,
elegeu-se senador pela Convergência Nacional e passou a líder um bloco
de partidos conservadores no parlamento.
Desde que ingressou na carreira política, teve um aumento 290% em seu
patrimônio avaliado, hoje, em US$ 1 milhão. Condenado por dano
econômico ao país mais pobre da América do Sul, pediu asilo político ao
Brasil, em maio de 2011. Em junho, teve a solicitação acatada pelo
Itamaraty e se dirigiu à embaixada brasileira em La Paz, onde permaneceu
por 545 dias, até a fuga para o Brasil.
De acordo com o portal do Governo da Bolívia, além da condenação, o
senador responde a quatro processos por corrupção, além de outros dez
por crimes comuns: calúnia, difamação e desacato à autoridade. O governo
boliviano garantiu que o episódio não irá afetar as relações da Bolívia
com o Brasil, mas o Ministério Público do país já estuda pedir a
extradição de Roger Pinto.
Fuga espetacular
Roger Pinto deixou La Paz em carro oficial da embaixada brasileira,
na companhia de Saboia. Atravessou a Bolívia e despistou a imigração até
cruzar a fronteira. Em Corumbá (MS), foi recebido pelo presidente da
Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES),
que o acompanhou até Brasília, de avião.
À imprensa, Saboia afirmou ter tramado sozinho a operação, motivado
por questões humanitárias, já que o senador sofre de problemas renais e
apresentava quadro de depressão, devido à privação de liberdade e ao
afastamento da família, que vive no Brasil.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro demonstrou surpresa,
prometeu apurar o caso e convocou Sabóia para prestar esclarecimentos
nesta segunda (26). Em nota divulgada no domingo (25), afirmou que
abrirá inquérito e tomará as medidas administrativas e disciplinares
cabíveis.
Na noite desta segunda (26), a presidenta Dilma comunicou a demissão
do ministro Antônio Patriota. No lugar dele, assume Luiz Alberto
Figueiredo Machado. Diplomata de carreira, ele foi o negociador-chefe da
Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a
Rio+20, e atuava com representante do Brasil na ONU.
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