Foto de Julio de Mesquita Neto entre os conspiradores, publicada na Fortune
Quando executivos se tornaram revolucionários
Da revista norte-americana Fortune, setembro de 1964
por Philip Siekman
“Deus é brasileiro”, diz um ditado popular no Brasil. Analisando acontecimentos recentes, qualquer um fica tentado a concluir que o Brasil realmente foi favorecido pela providência divina. No começo deste ano o país parecia ter apenas dois caminhos à sua frente.
Um que levaria a um estado totalitário de domínio comunista como a Cuba dos Castro, e o outro que levaria a uma guerra civil total tão sangrenta quanto a que devastou a Espanha nos anos trinta. Qualquer uma das duas possibilidades teria deflagrado uma onda que reverberaria pelo restante da América Latina e faria com que os Estados Unidos enfrentassem seu maior fracasso na política externa desde a queda da China.
Em março, a economia brasileira, ameaçada pela inflação e por greves políticas, estava à beira do colapso. O governo do presidente João Goulart estava lotado de comunistas e simpatizantes que fomentavam o caos e se preparando para capitalizá-lo.
E opositores do regime, assustados e desesperados, estavam se armando para lutar nas ruas.
Então, de repente e quase miraculosamente, tudo terminou. Em uma revolta que começou nas primeiras horas do dia 31 de março e terminou dois dias depois, as Forças Armadas brasileiras se levantaram para exercitar seus batalhões de homens, mulheres e tanques, Goulart fugiu para o exílio e seus principais aliados foram cercados e presos.
No dia em que o governo caiu, o distrito da praia de Copacabana explodiu em uma celebração que se compara às alegres comemorações do carnaval.
São Paulo teve outro tumulto alegre. Um empresário local diz que só viu a cidade reagir assim em outras três ocasiões: quando a guerra na Europa acabou, em maio de 1945, e em 1958 e em 1962 quando a seleção brasileira ganhou a Copa do Mundo.
Agora, um capaz governo civil, que tem nas Forças Armadas uma babá cuidadosa, está tentando criar ordem e estabilidade a partir da bagunça que herdou. Gilberto Freyre, o conhecido sociólogo brasileiro, diz que o atual gabinete “pode ser o mais competente da história da república”.
Mas o otimismo, encorajado pelo talento e pelas atitudes dos homens no poder, deve ser dosado pela magnitude dos problemas políticos, sociais e econômicos que eles enfrentam.
Ainda assim, algumas empresas estrangeiras (Willys-Overland, Philips’ Lamp, ASEA) que esperaram um longo tempo por um governo brasileiro que tentaria honestamente governar ficaram tão animadas que já estão aumentando seus investimentos no Brasil.
A maioria dos investidores norte-americanos, condicionados a esperar que as promessas brasileiras se evaporem como a neblina da manhã estão cautelosamente esperando para ver. Seu ceticismo é em parte justificado pelo fato de que a história da revolução brasileira, com todos os seus aspectos encorajadores, não foi completamente contada na mídia norte-americana.
Em estilo tipicamente sarcástico, um brasileiro afirmou a respeito do golpe de março: “Agora que resultou em algo tão bonito, todo mundo quer ser pai da criança”. Os generais do exército forneceram a demonstração de força crítica que provocou o confronto. Mas este não foi apenas mais um golpe militar na América Latina.
Significativamente, boa parte da inspiração e do planejamento foi providenciado por empresários executivos e profissionais despertados pelo desvio do Brasil para a esquerda. Eles não apenas despertaram como se organizaram para fazer algo. A maior parte desses líderes era do estado de São Paulo e o levante de 31 de março pode muito bem ser chamado de “a revolta dos Paulistas”.
São Paulo é o mais próspero e politicamente mais poderoso dos vinte e dois estados brasileiros. Ele tem um dos portos mais importantes da América Latina, Santos, e a maior metrópole do Brasil, a cidade de São Paulo (população: quatro milhões).
Sua riqueza e seu poder já foram baseados no café mas hoje ele tem a maior concentração industrial da América Latina. Nos subúrbios industriais que se espalham pela suaves colinas fora da cidade de São Paulo, os paulistas fabricam a grande maioria dos automóveis, plásticos equipamentos eletrônicos, têxteis, químicos e máquinas do Brasil.
Entre esses paulistas existe um executivo da indústria farmacêutica de voz mansa, Paulo Ayres Filho. Hoje com 45 anos, Ayres sucedeu o pai, em 1965, como presidente do Instituto Pinheiros, empresa batizada com o nome do distrito no qual está localizada. Sua família tem 25% da companhia que ele administra de um pequeno escritório dentro da fábrica.
O antídoto e um fabricante de remédios
No começo dos anos 50 Ayres estava cada vez mais preocupado com a demagogia e as atividades esquerdistas que infectavam a política brasileira. Naquele momento ele tomou conhecimento do trabalho da Fundação para Educação Econômica em Irvington-no-Hudson, Nova York.
Principalmente através de folhetos e panfletos, a fundação norte-americana defende a causa do governo mínimo e da livre iniciativa como antídoto ao que chama de filosofia do “algo por nada”. O Ayres leu várias publicações da fundação (p.ex. “Economics in One Lesson”, de Henry Hazlitt) e começou a circular os panfletos e traduções de trechos de outros trabalhos entre seus amigos.
Relembrando as atividades daqueles anos Ayres diz: “Nós estávamos perdendo a luta”.
Em 1955, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente do Brasil como candidato do partido da Social Democracia e com o apoio do Partido Trabalhista, dominado pelos esquerdistas. Kubitschek empurrou o Brasil para um frenesi de desenvolvimento e de gastos governamentais. Indústrias totalmente novas foram construídas, São Paulo explodiu e Brasília, a nova capital, apareceu como uma miragem de concreto lançada no deserto.
Milhões e milhões de cruzeiros foram gastos, desperdiçados e roubados. A inflação brasileira crônica inflamou. E, ao menos de acordo com a visão de Ayres e de outros, “os comunistas começaram a aparecer em grupos de estudantes, organizações sindicais e até mesmo em associações de profissionais e administradores e câmaras de comércio”.
Ayres tem a tendência de usar a palavra comunismo para descrever um amplo espectro do pensamento político que engloba não apenas os que dão apoio ao partido como também os socialdemocratas, estudantes e intelectuais que usam a linguagem do marxismo como forma de protesto e, talvez mais importante, oportunistas sem princípio.
Durante o fim dos anos cinquenta essas influências estavam, sem dúvidas, ganhando terreno. Os ataques aos Estados Unidos e ao capitalismo em geral aumentaram em fúria; as reivindicações de nacionalização ampla das indústrias se tornaram mais estridentes; e um número cada vez maior de políticos começou a falar sobre a luta de classes e pregar a violência como caminho para o poder.
Poucos dias antes do fim do mandato do Kubitschek, em janeiro de 1961, Ayres recebeu um telefonema interestadual de um estranho que dividia com ele os mesmos medos. O homem que telefonou era Gilbert Huber Jr., um jovem empresário do Rio que tinha erguido um bem sucedido empreendimento depois da guerra, Listas Telefônicas Brasileiras. Ele publicava a lista telefônica brasileira, as páginas amarelas.
Huber disse a Ayres que ele tinha ouvido falar da campanha solitária de educação dele e sugeriu que se encontrassem.
Os dois homens passaram a se encontrar regularmente, em geral no Rio, onde Ayres estava começando um breve período como diretor do Banco do Brasil. O cabeça do banco era outro empresário paulista, João Baptista Figueiredo. Ele e um grupo de amigos de Ayres e de Huber foram rapidamente atraídos para a discussão a respeito de como responder à propaganda esquerdista que ecoava pelo Brasil.
O resultado foi a decisão de criar o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – IPES. Alguns dos participantes do grupo argumentaram que o IPES deveria ser um movimento clandestino. Mas os fundadores finalmente concordaram que operariam abertamente – publicando panfletos, promovendo palestras, financiando viagens de estudantes aos Estados Unidos, e dando apoio a associações democráticas de estudantes e de trabalhadores.
“A destruição das nossas esperanças”
Logo antes do IPES começar a funcionar, Jânio Quadros foi empossado como presidente do Brasil. Ele demonstrou uma determinação encorajadora de enfrentar a inflação e a corrupção governamental e barrar a tendência que tanto alarmava os empresários de São Paulo. Mas após passar apenas sete meses no cargo Quadros renunciou de uma hora para outra e foi substituído pelo Vice Presidente, João Goulart.
Para Ayres, a ascensão de Jango Goulart significou “a destruição de todas as nossas esperanças”. Protegido do ex-ditador Getúlio Vargas, Goulart transformou o Partido Trabalhista em uma máquina política poderosa cultivando cuidadosamente amizades com a clientela governamental e prometendo salários mais e mais altos aos trabalhadores. Sob seu olhar benevolente, líderes trabalhistas influenciados pelo comunismo assumiram o controle da maioria dos sindicatos do país.
Assustados com a ideia do que Goulart poderia fazer agora que tinha poder presidencial, o IPES incrementou seus esforços para influenciar a opinião pública. Como Ayres relembra, “alguns não contribuíam porque achavam que estávamos errados; outros porque tinham medo de que estivéssemos certos e não queriam se envolver”.
O apoio do IPES à reforma agrária criou inimigos entre os latifundiários, os grandes donos de terras. Seu conceito de uma economia livre e aberta não era bem visto por industriais ineficientes que já estavam incomodados com o grande número de empresas estrangeiras que traziam tecnologia avançada e marketing agressivo para o Brasil. Ao todo, apenas cerca de 400 empresas, a grande maioria no Rio e em São Paulo, contribuíram com a organização; o volume anual de dinheiro nunca passou dos US$ 500.000,00.
Com fundo limitado e sem uma ideia real a respeito de como executar a tarefa que se impôs, o IPES tentou ir longe demais. “Nós tentamos salvar o país”, diz Ayres. “E erramos por não pensar com a profundidade adequada. Mas as sementes que lançamos ajudaram muitas iniciativas isoladas”.
A organização produziu panfletos e livretos que entregou a qualquer pessoa que pudesse fazer algum uso deles. (Suas publicações incluem “Inflação, suas Causas e Consequências”, “A Verdade sobre a Revolução Industrial” e uma série, “Economia para Todos”).
Ela ajudou a financiar o programa de treinamento de lideranças democráticas para empresários, estudantes e trabalhadores que educou 2.600 pessoas. E incentivou grupos de mulheres, de estudantes e outras organizações, contribuindo com fundos, literatura, espaço de escritório barato, equipamento de escritório gratuito e ajuda subsidiada para trabalhos de escritório.
Perto do fim de 1962 o comportamento de vários membros do IPES começou a mudar. “No começo”, conta Ayres, “a ideia era resistir e não atacar. Todos nós queríamos que o Jango terminasse o mandato. Sabíamos que todos, em outras partes do mundo, ficariam contra nós se o derrubássemos”. Mas na medida em que o governo do Goulart se tornou mais e mais imprudente, ficou claro que a resistência intelectual não funcionaria rápido o suficiente.
Enquanto o IPES continuou com sua propaganda e trabalho de educação, membros individuais da organização começaram a procurar formas mais diretas de fazer valer suas posições.
Uma sopa de letras de organizações anticomunistas explodiu na cena brasileira. Algumas organizavam protestos; outras pichavam os muros; uma outra tentou comprar políticos. Um industrial de São Paulo que pertence ao IPES decidiu que já era hora de adotar “os métodos deles”.
Ele organizou células de vigilantes para enfrentar esquerdistas impertinentes em encontros comunistas com “métodos intelectuais – como um chute na cabeça”. Mais tarde os vigilantes se armaram com armas leves, montaram uma fábrica clandestina de granadas e escolheram um local de onde lançar operações guerrilheiras na guerra civil que consideravam inevitável e iminente.
O que se tornou o importante movimento de ativistas contra Goulart começou com três membros do IPES que são todos advogados de São Paulo: Flavio Galvão, Luiz Werneck e João-Adelino Prado Neto. (Galvão é também editor do Estado de São Paulo, o jornal conservador da cidade).
Eles decidiram, segundo as palavras de Werneck, “que precisávamos fazer algo. Se isso significava uma revolução, nós estávamos preparados. Nós tínhamos que mudar toda a situação”.
Logo eles estavam se reunindo com um número crescente de profissionais e homens de negócios de São Paulo de dentro e de fora da turma do IPES. Um dos recrutados mais proeminentes era Júlio de Mesquita Filho, que se tornou o cabeça do grupo. (A família Mesquita é dona de O Estado de São Paulo).
Outro era Adhemar de Barros, governador do estado de São Paulo. Sua adesão ao grupo de empresários revolucionários foi especialmente importante porque ele tinha uma milícia bem treinada e bem armada no estado, com mais de 40.000 homens.
Barros abriu canais de comunicação com outros governadores simpatizantes, notadamente Carlos Lacerda, da Guanabara, o estado que contém o Rio de Janeiro. Com uma oferta voraz de ataques venenosos, Lacerda era o inimigo público mais agressivo de Goulart.
“Não se pode mais aguentar”
No fim de 1963 o Brasil parecia estar perigosamente próximo de se desfazer. A inflação persistente não estava apenas sugando a força produtiva do país mas também deprimia ainda mais o nível de vida da maioria dos brasileiros (o produto interno bruto per capita caiu no ano passado). No Nordeste, abandonados, camponeses analfabetos estavam se organizando com dinheiro da China Vermelha e armas contrabandeadas por Cuba. No sul, Leonel Brizola, um congressista fanático que é cunhado de Goulart, estava incrementando seus ataques aos negócios nacionais e estrangeiros.
Naquele momento, homens abertamente simpáticos ao comunismo e a Castro tinham assumido postos-chave no governo e em suas agências. E uma direção sindical dominada pelos comunistas estava abertamente usando as greves como arma política. Em outubro, algo como trinta grandes greves estavam em andamento ou ameaçavam começar.
Goulart trocou ministros (ele teve 54 ministros diferentes em dois anos e meio), montou um plano de estabilização econômica e depois o abandonou, falou de reformas e não fez nada. Ele parecia simplesmente incapaz de governar mas a interpretação dos paulistas era mais sinistra.
Eles acreditavam que Goulart estava promovendo crises para demandar mais poder. A teoria deles foi confirmada em outubro quando o presidente pediu ao Congresso que declarasse estado de sítio sob o qual o governo federal teria amplos poderes. (O Congresso, naquele momento, recusou).
Em São Paulo, Adhemar de Barros falava em um processo de impeachment contra Goulart e ameaçava abertamente com uma revolta: “São Paulo está pronto para lutar… Não se pode mais suportar essa crise de autoridade, essa falta de disciplina”.
Mas uma revolta declarada exigiria a ajuda do Exército brasileiro.
Informalmente, os membros do IPES vinham cultivando há tempos amizades com os serviços militares, convidaram oficias para visitas ostensivas às fábricas de São Paulo, e em cafés e jantares contaram a eles o que temiam. Mas o encontro de maior consequência teve lugar no começo de 1963 quando Werneck, Galvão e outros conheceram um jovem coronel, Rubens Resstel, então estacionado no quartel general do Segundo Exército do Brasil, em São Paulo.
Paulista de nascimento e formado na academia militar, Resstel participou de ações (e ganhou a Estrela de Prata norte-americana) com a Força Expedicionária brasileira, que lutou como parte do Quinto Exército norte-americano na Itália na Segunda Guerra Mundial. Como o IPES se tornou a célula mãe da resistência civil ao Goulart, os veteranos da FEB se tornaram a força motriz entre os militares. Desde a guerra, explica Resstel, “passamos a ter horror de qualquer regime como os que enfrentamos, sejam eles fascistas ou comunistas”. Incentivado pelo grupo Mesquita, Resstel e alguns de seus colegas oficiais começaram a circular pelo Brasil sondando outros militares. Um grupo de jovens oficiais concordou que já era hora de agir, mas muitos oficiais mais graúdos não achavam.
O Exército desempenhou um papel central na política brasileira desde que ele derrubou o império há setenta e cinco anos. Mas ele tem sido, em geral, um papel cauteloso – de protetor da Constituição e árbitro de debates civis que parecem ameaçar a República. Como John J. Johson ressaltou (“The Military and Society in Latin America”), “… neste século, as forças armadas brasileiras tentaram, conscientemente, evitar qualquer gesto que pudesse provocar amarga resistência popular. Nem sempre elas conseguiram, mas têm um bom histórico…”
Um grande número de oficiais se recusou, em princípio, a participar da conspiração porque acreditava que Goulart não tinha ainda desrespeitado os limites constitucionais ou porque achava que ele representava a vontade do povo. Coube aos eventos – e às ações do próprio Goulart – mudar a mentalidade do Exército.
No começo de 1964 os jovens militares no grupo de Mesquita começaram a juntar provas que indicavam que os comunistas em torno de Goulart estavam planejando seu próprio golpe – com ou sem a ajuda de Goulart. Havia um racha no movimento comunista brasileiro entre a chamada ala russa, que aconselhava moderação e gradualismo, e a ala chino-cubana, identificada com Brizola, que pregava a violência.
O último grupo parecia ter a maior influência sobre governo. Os Paulistas temiam um tentativa da noite para o dia de criação de um estado totalitário, com uma onda de violência e assassinatos, ações guerrilheiras, greves em indústrias chave e uma revolta de militares alistados.
De acordo com a visão de alguns civis, a escolha agora era entre morrer em defesa da liberdade ou ser preso e morto mais tarde porque tinham fracassado em defendê-la. Eles começaram a se armar. Com o tempo, o grupo de Mesquita, sozinho, gastou cerca de US$ 10.000,00 em armas, incluindo algumas automáticas. Grupos de áreas residenciais de São Paulo conseguiram armas, munição, suprimentos e começaram, cuidadosamente, a traçar planos de defesa de seus quarteirões.
Resstel e outros oficiais militares concluíram que com alguns elementos do Exército, milícias estaduais e civis eles podiam aguentar noventa dias. Antes que esse prazo se esgotasse, o grupo de Mesquita tinha esperanças de obter apoio de fora. Eles enviaram um emissário para perguntar ao Embaixador norte-americano, Lincoln Gordon, qual seria a posição dos Estados Unidos se estourasse uma guerra civil e ele reportou de volta que Gordon foi cauteloso e diplomático, mas deixou a impressão de que se os Paulistas conseguissem se segurar por quarenta e oito horas, eles teriam o reconhecimento e a ajuda dos Estados Unidos.
As Garotas de Ipanema
Na sexta-feira, dia 13 de março, Goulart presidiu uma manifestação na Praça da República, no Rio, da qual participaram cerca de 100.000 trabalhadores e camponeses trazidos de todas as partes do Brasil de caminhão, ônibus e trem.
Apresentada como uma grande demonstração a favor de reformas, o protesto foi uma sonora plataforma para a demagogia. Como parte dos acontecimentos, Goulart anunciou a expropriação de cinco refinarias de petróleo de propriedade particular no Brasil e assinou o decreto da reforma agrária que declarava todas as propriedades rurais de grande médio porte, além de terras federais – ferrovias, estradas e reservatórios – como expropriáveis.
O discurso mais nefasto foi o de Brizola que, abertamente, avisou Goulart que ou ele se mexia rapidamente ou seria deixado para trás. Ele exigiu que “o presidente pare com as conciliações e forme um governo popular e nacional” que ele definiu como um congresso de trabalhadores, camponeses, estudantes, sargentos e oficiais nacionalistas.
Algumas das pessoas que ouviram o discurso ficaram imaginando se Goulart havia se tornado refém de seu cunhado. Um dos Paulistas observou mais tarde que Goulart o fazia pensar no aprendiz de feiticeiro que coloca a vassoura e o balde de água para trabalhar e corre o risco de morrer afogado porque não sabe como pará-los.
No frenesi da manifestação Goulart cometeu um erro que se mostrou crucial. Ele comentou de improviso que “mulheres com contas nas mãos” não seriam empecilho para ele. Alguns dos ouvintes ficaram imaginando o que provocou essa referência insultante ao terço, o rosário católico. Mas um grande grupo de mulheres brasileiras sabia exatamente o que estava incomodando Goulart. Elas estavam.
As mulheres no Brasil tradicionalmente deixam a política por conta de seus maridos. Mas no meio do ano de 1962 um pequeno grupo de esposas de classe média do Rio organizaram a Campanha das Mulheres pela Democracia (CAMDE) para esclarecer as mulheres a respeito dos perigos do comunismo.
Operando em um espaço emprestado dos padres franciscanos em Ipanema, um bairro do Rio, a CAMDE rapidamente somou ação ao discurso, encorajou mulheres do restante do Brasil a se organizarem e começou a pressionar os políticos com telegramas, cartas e visitas de suas delegações.
Em uma viagem a Brasília, em agosto de 1962, CAMDE e um grupo semelhante de São Paulo, União Cívica Feminina, entregaram 17.000 cartas de protesto ao Congresso. Logo em seguida a organização já era acusada regularmente pelos jornais de esquerda como “as guerrilheiras perfumadas” e “gangsters de saias”. Depois de cada ataque, a lista de adesões da CAMDE aumentava.
A declaração de Goular foi provocada por um incidente em fevereiro, em Belo Horizonte. Um grupo de mulheres invadiu um auditório onde Brizola faria um discurso. Enquanto esperavam em meio ao público de seguidores de Brizola, um padre sugeriu que elas começassem a rezar o terço. Enquanto faziam isso, algumas mulheres foram até o palco.
Quando um seguidor de Brizola subiu na mesa para protestar, uma mulher virou a mesa. Quando Brizola chegou encontrou um tumulto em andamento e deu meia volta quando a multidão explodiu para fora do auditório, invadiu uma loja da frutas e jogou melões e abóboras contra ele.
No dia deste encontro do dia 13 de março, a CAMDE no Rio ligou para lembrar aos amigos os eventos de Belo Horizonte e sugerir que rezassem o terço em suas casas e acendessem uma vela em suas janelas como sinal de desafio. Quando Goulart passou de carro em direção à manifestação, milhares de velas brilhavam em seu caminho.
A irmã Ana de Lourdes, uma freira da Igreja Católica de uma ordem de enfermeiras, ouviu a calúnia a respeito das “contas” na televisão, em São Paulo. Na tarde deste dia ela sugeriu a um pequeno grupo dos Paulistas que as mulheres da cidade deveriam organizar uma demonstração religiosa para protestar contra a blasfêmia. No grupo estava presente Antonio Cunha Bueno, um congressista ligado à conspiração Paulista que percebeu que o protesto das freiras poderia se transformar em uma demonstração de massa contra o governo.
O que se tornou conhecido como “A Marcha da Família Com Deus pela Liberdade” foi marcado para a quinta-feira seguinte, 19 de março. Ninguém sabia muito bem o que esperar.
William Max Pearce, um norte-americano que lidera a Willys-Overland do Brasil, lembra que sua esposa brasileira “veio para mim e disse, ‘Eu não sei o que vai acontecer e tenho medo de ir. Mas ainda assim quero ir. Você iria comigo?’ Eu disse, vamos. E me senti muito orgulhoso de estar lá”. Quando Pearce e sua mulher saíram do carro a algumas quadras do começo da manifestação eles descobriram que faziam parte da maior manifestação de massa da história do Brasil.
Quando os notáveis da linha de frente chegaram à Catedral de São Paulo, onde a passeata deveria terminar, ao menos 500.000 pessoas estavam atrás deles.
David Beaty III, um norte-americano que mora no Brasil há muitos anos e hoje dirige a operação paulista da Deltec S.A., olhou para os manifestantes que passavam sob a janela de seu escritório e se deu conta de que quase todos os seus amigos brasileiros estavam lá. Ao lado de Beaty estava um refugiado húngaro que observou que em seu país os manifestantes ajudaram muito.
Isso levou Beaty a pensar se estava olhando para “os vencedores ou os perdedores”. Poucos dias depois ele disse a seu escritório de Nova York que Goulart teria poderes absolutos em um ano. “Então”, ele continuou, “nos encontraremos em uma situação semelhante à de Cuba; ou Goulart anunciará que é um líder comunista ou o aparato comunista o afastará e tomará o poder completamente”.
Alimento para guerra
A passeata de São Paulo convenceu os militares de alta patente de que havia uma grande oposição popular a Goulart. Aparentemente o General Humberto Castello Branco, o Chefe de Gabinete do Exército, ficou particularmente impressionado. Amigo de Júlio Mesquita, o general de 63 anos foi oficial de operações da Força Expedicionária Brasileira na Itália.
Ele tinha conhecimento da conspiração dos Paulistas fazia algum tempo mas não quis se juntar a uma revolta contra um governo letal. No dia seguinte a demonstração de São Paulo, entretanto, ele enviou um memorando secreto aos comandos do Exército. Ele dizia em parte: “o objetivo dos recursos militares nacionais não é defender programas de governo, muito menos sua propaganda, mas garantir os poderes constitucionais, sua operação e o cumprimento da lei”.
Os conspiradores sentiram a mudança marcante de atitude de vários outros oficiais do exército; um número cada vez maior deles concordou em aderir à revolta. Decidindo que já estava quase na hora, eles convenceram Castello Brasil a preparar um rascunho de um plano de operações militares.
Suprimento extra de gasolina foi obtido e escondido em parques industriais de São Paulo. Um suprimento de “Comida pela Paz” dos Estados Unidos foi encontrado no porto de Santos e transferido e estocado na capital.
Neste momento a Marinha brasileira foi sacudida por uma revolta de milhares de homens alistados no Rio. Ao invés de punir os rebeldes, Goulart concordou em atender suas demandas, deu apoio ao comandante esquerdista que se recusou a prender os homens e deu anistia a todos os envolvidos.
Da noite para o dia, a disciplina na Marinha foi destruída. Oficiais do exército apavorados se deram conta de que a mesma coisa poderia acontecer em suas unidades a qualquer momento. Se esperassem muito mais tempo para se mexer eles não poderiam fazer mais nada.
Entrincheirado em Três Rios
Tarde da noite na segunda-feira da Páscoa, enquanto Goulart participava de um encontro com sargentos da polícia militar do Rio, a revolta começou. Tropas sob o comando do General Olímpio Mourão Filho, comandante da Quarta Região Militar, parte do Primeiro Exército, deixaram o quartel general em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, e seguiram para o Rio.
Os conspiradores estavam ansiosos para que Mourão começasse primeiro para mostrar ao resto do país que não era apenas São Paulo que se rebelava. Mas não havia data marcada. Mourão, um oficial cabeça quente e impaciente, simplesmente se cansou de esperar.
Mourão tinha o apoio do governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto. Enquanto Mourão preparava suas tropas, Magalhães Pinto enviou sua milícia estadual para proteger prontos estratégicos e confiscar depósitos de petróleo e ônibus.
Ao mesmo tempo ele deteve todos os suspeitos de agitação e comunistas na capital, Belo Horizonte, e no restante do estado. Até a tarde da terça-feira Magalhães Pinto já tinha um controle firme do estado e Mourão estava entrincheirado em Três Rios, uma cidade pequena a 104 quilômetros do Rio de Janeiro.
Somente neste momento o governador e o general olharam em volta para ver se alguém mais no Brasil estava com eles. Por algumas horas agonizantes, ninguém estava. Depois de anos de conversa, os conspiradores e o governador foram pegos de surpresa.
Ao longo do dia não houve palavra alguma do quartel general do Segundo Exército em São Paulo. Apesar de estar sob pressão intensa de seus jovens oficiais e dos civis Paulistas, o General Amaury Kruel hesitava.
Kruel tinha sido grande amigo de Jango Goulart e os Paulistas se perguntavam se teriam que removê-lo à força do comando. Mas no fim da tarde Kruel telefonou para Goulart no Rio e pediu para que expulsasse os comunistas de seu governo. Quando Goulart se recusou a dar satisfações a Kruel, ele se juntou aos revolucionários.
Nas primeiras horas da quarta-feira ele tinha tanques nos carros de transporte, suas tropas em caminhões e ônibus e estava a caminho do Rio.
A resistência do governo foi fraca. No Rio, o Comando Comunista do Trabalho convocou uma greve geral e os caminhões da Petrobrás, o monopólio de petróleo do governo, circularam pelas ruas distribuindo armas aos trabalhadores. Mas nada aconteceu; até mesmo a greve fracassou. Enquanto uma unidade atrás da outra se juntava à revolta, Goulart fugiu do Rio para Brasília. Tarde da noite na quarta-feira ele foi para o exílio no Uruguai.
Antes do nascer do sol na quinta-feira, Paschoal Ranieri Mazzili, presidente da Câmara, foi nomeado presidente temporário. Na segunda-feira seguinte o coronel Resstel se reuniu com líderes do Congresso. O comando revolucionário, disse ele, estava decidido a expurgar o congresso dos comunistas, esquerdistas, subversivos e ladrões.
Quando os congressistas se recusaram a passar uma lei permitindo isso Resstel declarou: “Se é assim então não tem outro jeito”.
Três dias depois o comando revolucionário publicou um “ato institucional” que deu ao governo temporário o poder de demitir qualquer funcionário do governo e suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer indivíduo acusado de corrupção ou de ser comunista.
No sábado, dia 11 de abril, o General Castello Branco foi eleito presidente pelo Congresso para cumprir os vinte e um meses que restavam do mandato de Goulart. Branco renunciou no Exército e se dedicou aos problemas diante dele.
O aparato de Goulart se dissolveu completamente. Seus principais líderes fugiram para o exílio. Outros foram rapidamente presos.
Nos primeiros dias da revolta milhares de subversivos suspeitos foram rapidamente jogados na cadeia ou em barcos transformados em prisões temporárias (agora, quase todos já foram silenciosamente soltos). Privados de seus líderes fanáticos e sem acesso aos tesouros estaduais e federal a extrema esquerda brasileira se apagou. “Nós os eclipsamos”, disse Resstel.
Com a ameaça comunista anulada, o novo regime se voltou para a limpeza da corrupção. Sob Goulart, governadores, congressistas, oficiais federais e seus amigos estavam afundados nos tesouros governamentais. A folha de pagamentos do governo estava inchada de amigos e parentes que nunca apareciam para trabalhar. E as instituições financeiras federais haviam se tornado reserva privada de oficiais do governo.
Goulart mesmo não era amador. Explorando diligentemente as oportunidades que seu cargo ofereciam ele ergueu uma fortuna considerável e um latifúndio de 7,7 mil quilômetros quadrados.
Nos sessenta dias permitidos pelo ato institucional, o governo cancelou os direitos políticos de 378 pessoas sob a acusação de corrupção e desonestidade ou ações comunistas.
Da lista fazem parte três ex-presidente da república, um senador federal, cinco governadores, cinquenta e um deputados federais; eles não poderão concorrer a cargo público ou votar por dez anos. Talvez o nome mais conhecido da lista negra seja o do ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Alguns observadores estrangeiros viram a inclusão do nome dele na lista como uma manobra política grosseira para eliminar o homem que poderia ser um candidato forte para presidente nas próximas eleições. Kubitschek poderia muito bem levar de volta o poder os mesmo elementos do antigo regime que levaram o Brasil ao caos.
Desacelerando o bombeamento
Como muitos de seus antecessores, o novo regime tomou o poder com promessas de arrumar a economia e apresentar reformas amplas. Para a surpresa de muitos brasileiros, ele aparentemente tem a intenção de cumprir as promessas. O talentoso gabinete de Castello Branco inclui como Ministro do Planejamento Econômico, Roberto Campos, o inteligente e economista cosmopolita que serviu como embaixador nos Estados Unidos sob Goulart e que pediu demissão quando se cansou de “ser o tradutor de uma política não existente”.
Os novos ministros apresentaram um programa de reforma agrária; um plano de reforma fiscal que efetivamente dará ao Brasil seu primeiro banco central; e legislação que revê as leis eleitorais e estende o mandato de Castello Branco até março de 1967 para lhe dar tempo de instituir essas mudanças.
Antes que Campos e o resto do gabinete possam voltar toda a atenção às reformas básicas, no entanto, eles precisam fazer algo para combater a inflação. No ano passado a oferta de dinheiro aumentou mais de 60%; e o valor do cruzeiro foi reduzido pela metade. Este ano, imediatamente antes da revolta, a taxa de inflação anualizada do Brasil era de 120%.
A principal bomba da inflação é o enorme déficit do governo. Se o Goulart tivesse permanecido no poder ele provavelmente teria passado de 1,5 trilhão de cruzeiros este ano (aproximadamente U$ 1,3 bilhão em taxas atuais). Campos e o novo Ministro das Finanças, Otávio de Bulhões, já cortaram o déficit pela metade suspendendo os subsídios para importação de petróleo e trigo, o que provavelmente custaria ao governo $ 200 milhões em 1964.
Eles também rascunharam uma lei de reforma do imposto de renda que vai aumentar a receita e estão trabalhando em maneiras de reduzir as perdas multimilionárias sofridas pela empresa ferroviária estatal.
Entretanto o gabinete hesita em fazer cortes na folha de pagamentos do governo. Isso, como diz Bulhões, “causaria uma reação social inconveniente”. Ele pergunta: “como podemos resolver problemas financeiros sem levar em conta as condições humanas”?
Campos e Bulhões estão convencidos, entretanto, que de uma maneira ou de outra eles vão reduzir o déficit em um terço ou mais este ano e desacelerar a inflação para uma taxa de 2 a 3% ao mês até o começo do ano que vem. O objetivo é ter a economia sob controle (e o cruzeiro livre) antes do fim de 1965.
Mas a inflação não será reduzida sem sérias perturbações. No passado, muitos negócios brasileiros dependiam das “compras preventivas” – aquisição de bens e formação de estoque antes do aumento dos preços – e da fuga de bens para dinheiro.
Um grande número de brasileiros, por exemplo, comprou automóveis como uma forma conveniente de proteger seu capital da depreciação (alguns empresários tem vários Volkswagens). Na medida que a necessidade deste tipo de compra desapareça, os carros colecionados serão colocados a venda no mercado e os fabricantes vão esgotar seus estoques de peças e material bruta.
Muitas empresas terão dificuldades de vender qualquer coisa por um tempo. De fato, em junho os galpões de depósito das fábricas de automóveis brasileiras já estavam lotados e a Volkswagen já estava estacionando carros nas calçadas em torno da sua fábrica no subúrbio de São Paulo. Naquele momento as vendas de automóveis já tinham caído pelo menos um terço; as vendas de eletrodomésticos, têxteis e máquinas caíram uns 25%.
“Nós realmente poderíamos ir”
Se o Brasil não morrer na mesa de operações enquanto os novos homens tentam curar seus males, ele vai precisar de grande injeção de ajuda do exterior. A ajuda dos Estados Unidos ao Brasil caiu para $2 milhões nas oito semanas que antecederam a revolta. Imediatamente após, os Estados Unidos deram U$ 93 milhões em commodities agrícolas sob a Lei Pública 480 e U$ 50 milhões mais em empréstimos em empréstimos e subvenções para mais de 35 projetos de desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, Estados Unidos, Japão e outros países da Europa começaram a negociar acordos para reescalonar a gigantesca dívida externa brasileira de U$3 bilhões. Além disso, ajuda adicional europeia e norte-americana com certeza será oferecida ao Brasil este ano para subscrever o déficit do orçamento e financiar as importações.
Quando a falência for evitada, o novo governo deve fazer a economia se mover adiante novamente – sem recorrer novamente à inflação. Com a população do Brasil crescendo mais de 3% ao ano o problema do desemprego e do subemprego vai se tornar ainda mais agudo a não ser que haja crescimento permanente na indústria e grandes melhorias na agricultura. Mas isso também exigirá ajuda estrangeira, especialmente investimentos privados.
Seduzir investores estrangerios a voltar ao Brasil não vai ser fácil. Os negócios norte-americanos sozinhos já têm U$1 bilhão investido no Brasil. Muitas subsidiárias norte-americanas tiveram ótimos resultados nos anos cinquenta. Mas nos últimos anos elas tem sofrido com a inflação e se assustaram com os venenosos ataques ao capitalismo e às empresas estrangeiras.
Desde 1962, quando o governo aprovou uma lei de remessa de lucros que efetivamente proibiu as subsidiárias de enviar dinheiro de volta às suas matrizes, praticamente nenhum investimento estrangeiro foi feito no Brasil.
O governo de Castello Branco reviu a lei de remessa de lucros para abrir as portas a um fluxo normal das subsidiárias para as matrizes. E os estrangeiros têm recebido confirmações repetidas de que serão tratados com justiça no Brasil. Umas poucas empresas responderam aumentando seus investimentos. Mas muitas adotaram a atitude do “esperar para ver”, mesmo em casos em que seus executivos estão quicando de entusiasmo. Como diz um norte-americano, “com um governo apenas razoavelmente bom, nós poderíamos apostar neste país”.
Para os investidores, a distância pode fornecer objetividade mas também pode prejudicar as previsões. Apenas o analista mais duro pode garantir que o Brasil não voltará a ficar sob um governo corrupto que tome medidas econômicas insanas. Mas com uma população tão grande, um enorme território e uma riqueza em matérias primas, o Brasil continua sendo potencialmente uma das nações mais poderosas do mundo.
No ano que vem os executivos das corporações norte-americanas terão a árdua tarefa de explicar a seus acionistas porque investiram no Brasil em 1964. Dentro de dez anos eles podem achar ainda mais difícil explicar porque não investiram.
Um bom motivo para otimismo é o fato de que quase todos os empresários de São Paulo são solidamente a favor do governo – e isso é algo novo no Brasil.
As pessoas que ajudaram a fomentar a revolução sabem que seu trabalho não terminou. Vai levar tempo erradicar os efeitos de anos de propaganda esquerdista. Mas os Paulistas acreditam que o Brasil está finalmente seguindo a direção certa. Como diz Paulo Ayres, “nossa revolução está em andamento”.
PS do Viomundo: Quem primeiro nos chamou a atenção para a reportagem foi o Opera Mundi. Decidimos então pedir à Heloisa Villela, em Nova York, que nos brindasse com uma tradução, o que ela fez com a generosidade de sempre. É óbvio que a reportagem da revista Fortune está repleta de erros, omissões e distorções, que os leitores podem apontar nos comentários. Porém, a ironia é que o barão da mídia que esteve no centro das articulações, depois do golpe dentro do golpe, em 68,– quando os militares liberais foram derrotados pelos desenvolvimentistas –, passou a experimentar do próprio veneno: foi censurado!
PS do Viomundo2: Do ponto-de-vista dos Estados Unidos, qualquer presidente, de qualquer partido, seria crucificado se “perdesse o Brasil”, como anteriormente a China e Cuba haviam sido “perdidas”. Política externa nos Estados Unidos é política doméstica.
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