Um modelo de desenvolvimento para os países mais pobres do planeta baseado não na experiência dos Estados Unidos, Japão ou Alemanha, mas nas do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics). Acrescido da África do Sul, o grupo dos países que, segundo previsão do Goldman Sachs, vai estar no topo do crescimento econômico mundial em 2050, seriam uma alternativa a um modelo liberal que prega a abertura dos mercados, mas pratica o protecionismo, uma espécie de "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". A reportagem é de Chico Santos e publicada no jornal Valor, 26-04-2007.
O economista K J Joseph, professor do Centro de Estudos para o Desenvolvimento de Trivandrum, Índia, autor da proposição acima, questiona o modelo econômico liderado pelos atuais países mais ricos do mundo. Ele e outros cientistas dos cinco países estão empenhados em estudar elos entre as economias dos Brics em busca de caminhos alternativos para a superação do atraso econômico.
O grupo está reunido até amanhã no hotel Glória, na zona sul do Rio, no 2º Workshop Internacional do Projeto Brics, realizando um "Estudo Comparativo dos Sistemas Nacionais de Inovação do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul". Segundo o brasileiro José Eduardo Cassiolato, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a África do Sul já fazia parte do grupo mesmo antes de o Goldman Sachs cunhar o termo em referência aos outros quatro países.
Cassiolato disse que o objetivo perseguido é, a partir de uma abordagem que coloca a inovação no centro da análise, compreender, primeiro, as transformações ocorridas em nações ricas como o Japão, os países nórdicos e os Estados Unidos, e, a partir de 2003, o que ocorre nos cinco países em desenvolvimento mais avançados do mundo. "São grandes países, têm imensas diferenças em relação aos países mais avançados e são importantes para a compreensão de questões importantes como a inovação, a inovatividade."
Os Brics são caracterizados por grandes desníveis de renda, mas com nichos de inovação em padrões dos mais avançados, como a indústria aeronáutica no Brasil, a de software na Índia e a de hardware na China, ressalta o economista da UFRJ. Ele destaca ainda que são países marcados por fortes concentrações regionais da inovação e que sintetizam um momento de transformação da economia global, ainda que em alguns deles haja piora nos indicadores sociais, como é o caso do Índice de Gini, que mede o grau de desigualdade, na China.
O indiano Joseph avalia que o crescimento econômico vai reduzir as diferenças sociais nos Brics, mas ressalta que elas nunca serão totalmente resolvidas. Para ele, investimentos em recursos humanos e em capacidade de inovar, ainda que elevados, trazem resultados indiscutíveis.
Segundo o economista, quando a Índia realizou pesados investimentos em centros de formação em engenharia, o esforço foi considerado um luxo para um país em desenvolvimento. Agora, a ousadia está, segundo ele, gerando lucros com a formação anual de 250 mil engenheiros e 300 mil cientistas, um capital humano que seria responsável pelo crescimento em ritmo acelerado do seu país, um dos que mais crescem no mundo, superado apenas pela China.
O sul-africano Jo Lorentzen, pesquisador do Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas da Cidade do Cabo, destacou aspectos do conhecimento nos Brics que ainda estão longe da importância desses países no contexto sócio-econômico mundial. A produção de artigos científicos dos cinco em conjunto, por exemplo, ainda é quase 10% do que se produz nos Estados Unidos. Lorentzen pergunta: "Por que faz mais sentido estudar esses países do que outros?" E responde: "Não temos muitos dados para responder a isso", destacando que essa carência tem o mérito de significar muito espaço para pesquisas. Mas para ele, as comparações entre os Brics só se justificam se forem encontrados elos entre eles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário