O Brasil não tem necessidade de construir mais hidrelétricas para atingir a meta do PAC de aumentar a oferta de energia elétrica em 12.300 megawatts até 2010. A afirmação é do engenheiro Célio Bermann, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e autor de um dos capítulos do "Dossiê Energia", lançado ontem pelo Instituto de Estudos Avançados da USP.
"Efetivamente não precisa construir uma nova usina", disse o pesquisador: "O Brasil tem hoje aproximadamente 70 usinas com mais de 20 anos que poderiam sofrer uma repotenciação [troca das turbinas]", explica. A reportagem é de Eduardo Geraque e publicada no jornal Folha de S. Paulo, 27-04-2007.
Se isso fosse feito, mais ou menos 60% da meta do Programa de Aceleração do Crescimento já seria contemplada: "O custo é bem menor comparado à construção de novas usinas, que absorvem 60% dos investimentos somente em obras civis", lembra.
Os 40% restantes da meta do PAC poderiam ser obtidos sem nenhuma nova obra civil: "O próprio governo assume que as perdas do setor elétrico nacional hoje, desde a transmissão até chegar ao domicílio ou ao eventual consumidor industrial, são da ordem de 15%."
Para Bermann, se houvesse um esforço para que o desperdício fosse reduzido para 10%, isso já seria suficiente para fechar a conta: "Esses 5% de ganho, que não é muito, permitem atingir a meta do PAC. O sistema brasileiro todo hoje tem 97 mil megawatts aproximadamente".
Os processos de repotenciação renderiam quase 8.000 megawatts, e a redução do desperdício, mais 4.850 megawatts. Mas "isso tem de ser bem planejado, porque implica desligar as usinas para que as máquinas mais potentes possam ser instaladas".
Segundo Bermann, esse processo de repotenciação não ocorreu até hoje no país por causa da cultura das megaobras: "Parece que o governo prefere construir grandes usinas, porque elas acabam dando mais visibilidade", diz.
No debate, alguns especialistas defenderam que se vá devagar com o andor da infra-estrutura. "Se eu tiver que escolher algum lado em toda essa discussão, escolho por ela. Eu defendo a ministra Marina Silva", disse Luiz Pinguelli Rosa, da UFRJ, ex-presidente da Eletrobrás.
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