"O gado criado por Renan Calheiros (PMDB) em Alagoas teve um valor médio unitário nos últimos quatro anos maior do que o originário de São Paulo". A constatação é de Fernando Rodrigues, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-06-2007.
Eis o artigo.
"O Estado de Alagoas era tido como "zona de risco desconhecido" para febre aftosa até 2005 - período em que ele obteve os melhores preços para os seus bois: R$ 69,3 por arroba. Em São Paulo, onde a doença é controlada com vacinação, a média de venda da arroba do boi gordo nesse ano foi de R$ 61,1.
Os dados fornecidos pelo presidente do Senado mostram que seus bois foram vendidos, em média, por R$ 59,40 a arroba de 2003 a 2006. Nesses mesmos quatro anos, gado produzido em São Paulo foi comercializado por R$ 57,20 a arroba. Essa alta lucratividade resultou num faturamento de R$ 1,920 milhão para Renan Calheiros em suas fazendas alagoanas em quatro anos. Esse dinheiro é o álibi principal do senador para justificar rendimentos compatíveis com a pensão que pagou, em dinheiro vivo, à jornalista Mônica Veloso - com quem tem uma filha.
A Folha consultou especialistas em agronegócio que aceitaram analisar os dados conhecidos de Renan. As conclusões são duas:
1) é necessário haver mais informações para uma análise definitiva a respeito da veracidade da versão do senador e
2) se forem reais, os resultados colocam o político alagoano como um dos mais bem-sucedidos pecuaristas do país.
Há alguns dias a Folha vem requerendo cópias dos recibos de transações agropecuárias de Renan, mas ele e seus advogados se recusam a franquear o acesso aos documentos. "Todos os esclarecimentos foram dados ao corregedor e ao Conselho de Ética, detalhadamente", disse anteontem Renan.
Nos papéis, Renan aparece como grande empresário. Suas vacas têm uma taxa de fecundidade altíssima na comparação com a do Brasil. Nas fazendas de Renan em Alagoas, 86% das vacas geraram bezerros em 2006. A média nacional em fazendas de boa tecnologia é de 73% para a chamada "taxa de desmame", segundo a consultoria Agra FNP Ltda.
Em 2005, o percentual não foi bom para os padrões de Renan, mas ainda assim a taxa de fecundidade foi de 71,3%. Em 2004, quase um fenômeno: 90,8%. Esses percentuais são apenas uma aproximação do que de fato deve acontecer nas propriedades rurais do presidente do Senado. Não é possível relatar com precisão o sucesso na fecundidade de suas vacas porque Renan não apresentou ainda em público detalhamento de quantos machos e fêmeas há em seu plantel.
Sobre 2006, disse apenas ter iniciado o período com 1.742 cabeças. Em geral, os rebanhos se dividem à metade, entre machos e fêmeas. A valer essa regra, Renan pode ter começado o ano com 871 bois e 871 vacas. Como em 2006 as fazendas de Renan assistiram ao nascimento de 751 bezerros, conclui-se que 86% das 871 vacas pariram com sucesso nesse período.
Essa taxa de fecundidade é rara no Brasil, mesmo em fazendas nas quais são usadas técnicas sofisticadas, como inseminação artificial e escolha rigorosa das matrizes. "
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