Tem mais alguém aí?
Colunista discute a possibilidade de haver vida extraterrestre capaz de se comunicar conosco
Sempre haverá entre nós uma inquietação quando olharmos para o céu noturno ornado com um número quase infinito de estrelas: será que nosso planeta foi, entre um sem-número de locais de nossa galáxia, o único que reuniu condições adequadas para o surgimento e desenvolvimento da vida? Ou será que a existência de seres vivos é um processo comum e estaríamos cercados por um grande número de planetas habitados?
Devido à grande distância entre a Terra e os outros corpos celestes e à nossa limitação técnica atual, esse antigo questionamento humano só é passível de ser tratado na teoria – por enquanto! Mesmo com o advento de telescópios e radiotelescópios muito mais potentes, ainda estamos longe de termos indícios sobre a existência de vida extraterrestre.
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Antes dele, mais de 200 planetas já haviam sido descobertos fora do Sistema Solar. Entretanto, a imensa maioria não reúne condições adequadas para sustentar a vida: ou são gigantes gasosos como Júpiter, ou estão muito próximos ou distantes de sua estrela ou ainda orbitam em torno de astros que emitem raios ionizantes mortais. Mas qual será a probabilidade de um planeta como Gliese 581c abrigar uma civilização inteligente, capaz de se comunicar conosco?
Pois existe uma metodologia criada justamente para estimar essa possibilidade, proposta na década de 1960 pelo americano Frank Drake (1930-). Drake, professor de astrofísica e astronomia da Universidade da Califórnia em Santa Cruz (EUA), criou uma equação (também conhecida como equação de Green Bank ou de Carl Sagan) para analisar a probabilidade de existência em nossa galáxia de civilizações extraterrestres que apresentem avanços tecnológicos suficientes para serem detectadas ou para manter contato com nossa espécie ( N ).
A equação de Drake
A equação de Drake pode ser definida do seguinte modo:
N= R*. f p . n e . f l . f i . f c . L
Nessa fórmula, R* representa taxa anual de formação de estrelas na Via Láctea; f p , a proporção de estrelas que possuam planetas; n e , o número de planetas potencialmente habitáveis por espécies vivas; f l , a proporção de planetas habitáveis onde a vida realmente se desenvolveu; f i , a proporção, entre estes planetas, daqueles que têm vida inteligente; f c , o número de civilizações dentro deste conjunto que têm tecnologia para se comunicar com outros planetas; e L , o tempo de vida dessas civilizações em que seus sinais estariam detectáveis no espaço.
Entre os itens acima, a taxa anual de formação de estrelas em nossa galáxia ( R* ) causa menos controvérsias: a maioria dos cientistas acredita que se formam cerca de 6 a 10 estrelas a cada ano na Via Láctea. Estima-se que o universo tenha se formado há cerca de 13 bilhões de anos. Nossa galáxia tem cerca de 250 bilhões de estrelas e estima-se que existam 70 sextilhões (7 seguido de 22 zeros!) desses corpos celestes visíveis no universo – um vasto conjunto que poderia abrigar planetas com civilizações tecnologicamente avançadas.
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Os partidários da hipótese de Sagan defendem um ponto de vista conhecido como “princípio da mediocridade” (não deles, mas das características que originaram nosso planeta e os homens!). Segundo esse princípio, a Terra não possui nada em especial e os elementos químicos, condições físicas etc. ocorrem em outras partes do universo e, portanto, a vida poderia também estar presente em outros locais.
Dados imprecisos
Todos os outros parâmetros da Equação de Drake são baseados em deduções criadas a partir de dados ainda pouco confiáveis. Por exemplo, o número de planetas com condições para suportar o surgimento da vida ( n e ) depende das características da estrela em torno da qual esses corpos celestes orbitam. Apenas planetas localizados em uma distância adequada podem se tornar habitáveis por seres vivos da forma como conhecemos.
Planetas muito próximos de sua estrela (como Mercúrio e Vênus) ou muito distantes (como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) não podem suportar a vida. As radiações ionizantes produzidas pelas estrelas, assim como as características de cada planeta (como massa, pressão, composição atmosférica e atributos da órbita) também são essenciais para que haja condições para surgir vida nesses locais.
O número de planetas onde a vida realmente surgiu ( f l ) depende de alguns outros fatores, inclusive de sorte, apesar de alguns pesquisadores considerarem que a vida é um processo que sempre tenderá a ocorrer desde que lhe sejam dadas condições para isso.
Já a presença de vida inteligente ( f i ) e a de organismos capazes de manter comunicação com nosso planeta ( f c ) estão relacionadas. A ausência de sinais claros de comunicação até o momento pode significar que ambos os parâmetros – ou ao menos f c – tenham valores baixos. O surgimento de apenas uma espécie com a capacidade de se comunicar com outros planetas em 4 bilhões de anos de evolução da vida na Terra (e que alcançou essa capacidade apenas recentemente) pode também indicar que f i e f c podem não ser elevados. Porém, talvez essa comunicação esteja sendo tentada e ainda não possuímos a tecnologia para sua detecção e compreensão, ou então esses sinais ainda não nos alcançaram.
Outra possibilidade é que a presença de inteligência talvez seja um fenômeno muito raro no universo e que nossa espécie seja a única forma de vida inteligente em toda essa vastidão. Essa teoria, conhecida como “hipótese da raridade da Terra”, afirma que a espécie humana surgiu devido a uma combinação altamente improvável de fatores e que as chances de que isso venha a ocorrer em outros locais são praticamente nulas. Elas envolveriam a existência de um planeta com as características adequadas e uma série imensa de fatores que levariam à evolução de uma espécie como a nossa. Defensores dessa hipótese muitas vezes se apóiam em dogmas religiosos ou no fato de que até hoje não se obteve provas conclusivas de vida fora de nosso planeta.
A Terra na escuta
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De volta à equação de Drake, o período de vida de uma civilização inteligente e capaz de se comunicar com outros planetas ( L ) depende de uma série de fatores: pode ser que a evolução de vida inteligente seja algo pouco duradouro e que essas civilizações sejam varridas por fenômenos naturais como a queda de asteróides e glaciações. Alternativamente, pode ser que o processo de obtenção da inteligência seja associado com a autodestruição e que organismos que alcancem esse refinamento estejam fadados a desaparecer após um curto período de tempo, devido ao impacto de suas realizações sobre o meio ambiente.
Uma das dificuldades para solucionar o dilema da existência de vida extraterrestre é se libertar de uma visão antropomórfica, que nos leva a procurar formas de vida similares à nossa e que apresentem uma tecnologia conhecida pela espécie humana. Claramente, não há motivos para que uma civilização extraterrestre tenha desenvolvido tal tecnologia; suas formas de comunicação podem ser muito diferentes das nossas.
Os valores obtidos em estimativas para a equação de Drake têm sido elevados ou diminutos, dependendo do otimismo ou pessimismo de quem faz os cálculos. Prefiro uma posição otimista: não acredito que sejamos tão especiais assim e que tenhamos sido a única espécie capaz de pensamento lógico e abstrato em um universo repleto de estrelas e de planetas. Isso, simplesmente, é algo que não faz sentido e a ciência tem mostrado, desde Galileu, Mendel e Darwin, que somos apenas mais um jogador e, talvez, nem sejamos o craque do time!
Temos também que considerar que os outros organismos inteligentes estejam separados de nossa espécie por distâncias espaciais ou temporais que impeçam essa comunicação. Ou que, simplesmente, esses seres não desejem esse tipo de contato, por falta de interesse ou por não acreditar em vida inteligente fora do planeta deles, ou ainda por acreditarem que a nossa espécie é ainda muito pouco desenvolvida e perigosa para as outras civilizações. Não podemos culpá-los, não é mesmo?
Jerry Carvalho Borges
Colunista da CH On-line
18/06/2007
Um comentário:
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