"Na perspectiva atual, com o ritmo de expansão do produto bem inferior ao da geração dos postos de trabalho (3,9% ao ano), prossegue o quadro geral da regressão da produtividade. Em 2005, por exemplo, a economia brasileira foi 1,5% menos produtiva que a do ano de 2000, além de ter convivido com aumento médio anual de 3,5% dos desempregados", afirma Marcio Pochmann, economista da Unicamp em artigo publicado no jornal Valor, 14-06-2007. "Frente a isso", escreve o economista, "a economia parece confirmar os sinais de esclerose precoce dos tecidos produtivo e social. Além do sofrível desempenho da economia brasileira, assiste-se ao avanço simultâneo do padrão asiático de emprego da mão-de-obra. Ou seja, a geração de ocupações com contida remuneração, intensa rotatividade e elevada jornada de trabalho".
Eis o artigo.
"A divulgação da nova série das contas nacionais pelo IBGE reacendeu a discussão sobre o panorama da economia brasileira neste início do século XXI. Os defensores do modelo econômico atual imediatamente trataram de valorizar tanto a dimensão contabilmente maior em 10% da economia nacional como a pretensa eficiência produtiva derivada de uma deprimida taxa de investimento agregado.
Mesmo com a relativa ampliação do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB), não é possível considerar que a economia nacional tenha abandonado a sua trajetória de mais de um quarto de século de semi-estagnação produtiva. Além disso, o país não consegue abandonar o bloco de economias subdesenvolvidas, com PIB per capita situado na 85ª posição do ranking mundial.
De um lado, percebe-se que a comparação do PIB de 2005 com o de 2000 indica a prevalência de uma ridícula variação média de apenas 2,7% ao ano. De outro, constata-se a presença de sinais não desprezíveis de esclerose econômica precoce assentada justamente no baixo comportamento dos investimentos.
Como se sabe, o conjunto dos investimentos representa o elemento central de vigor e dinamismo de todo o sistema produtivo nacional. No caso brasileiro, a taxa de investimento em 2005 foi 3% menor que do ano 2000. Ainda que lentamente esteja se recuperando do tombo que levou entre 2002 e 2003, poderá levar ainda muito mais tempo para extirpar o tumor da esclerose precoce, uma vez que o retorno ao vigor das economias dinâmicas atuais implica taxa de investimento acima dos 25% do PIB. Evidentemente que não é impossível a elevação em 10 pontos percentuais do investimento como proporção do Produto Interno Bruto Nacional, mas isso exige mudança tanto no atual modelo econômico como na inserção do Brasil na globalização.
Na perspectiva atual, com o ritmo de expansão do produto bem inferior ao da geração dos postos de trabalho (3,9% ao ano), prossegue o quadro geral da regressão da produtividade. Em 2005, por exemplo, a economia brasileira foi 1,5% menos produtiva que a do ano de 2000, além de ter convivido com aumento médio anual de 3,5% dos desempregados.
Frente a isso, a economia parece confirmar os sinais de esclerose precoce dos tecidos produtivo e social. Além do sofrível desempenho da economia brasileira, assiste-se ao avanço simultâneo do padrão asiático de emprego da mão-de-obra. Ou seja, a geração de ocupações com contida remuneração, intensa rotatividade e elevada jornada de trabalho.
No contexto de baixa expansão da atividade econômica, houve a ampliação em mais de 16% no nível de ocupação da mão-de-obra em todo o país nesta primeira metade da década. Mas o tipo de ocupação gerada tem sido estruturalmente precário, com queda do valor da remuneração, sendo 3,5% abaixo da verificada em 2000.
A exceção disso ocorreu no setor primário, que registrou elevação de quase 25% na remuneração média do conjunto dos seus trabalhadores entre 2000 e 2005. É importante destacar, contudo, que o setor primário caracteriza-se por oferecer as menores remunerações do país. No ano de 2005, por exemplo, a remuneração média paga aos trabalhadores do setor primário representava apenas 49,9% do rendimento médio nacional, enquanto em 2000 era de 38,6%.
No setor industrial, por exemplo, a ocupação cresceu mais rapidamente no ramo de maior valor agregado (19,3%), embora tenha sido justamente este que mais tenha reduzido o valor da remuneração média de seus ocupados (-8,6%). O segmento com grau médio de valor agregado foi o que apresentou maior acréscimo na remuneração dos ocupados. No setor terciário da economia nacional, a queda no valor do rendimento do trabalho foi uma constante. Mas justamente nos serviços vinculados à produção e à distribuição, base da difusão da terceirização da mão-de-obra no Brasil, ocorreu a maior desvalorização no rendimento médio dos ocupados entre 2000 e 2005.
Assim, a maior expansão relativa na geração dos postos de trabalho ocorreu simultaneamente ao rebaixamento da remuneração da mão-de-obra ocupada. Os serviços sociais, que tiveram o segundo melhor desempenho na geração de ocupações, apresentaram a menor redução no valor da remuneração dos trabalhadores no mesmo período analisado. Certamente, as reformas neoliberais não deixaram de ser responsáveis pela instalação da esclerose precoce que se verifica no interior do tecido produtivo do país. Compatível com o envelhecimento das fontes de dinamismo econômico encontra-se a asfixia do conjunto de investimentos, representado cada vez mais pela precarização dos postos de trabalho ou pelo desemprego.
Nesse contexto, o vigor da ocupação somente pode assentar-se nas atividades produtivas que aprofundam o padrão asiático de emprego da mão-de-obra. Com a maior especialização da economia nos ramos de menor valor agregado e contido conteúdo tecnológico, perde o país, especialmente os trabalhadores com ocupação precária. Em contrapartida, cresce a renda dos proprietários, fundamentalmente dos detentores de riqueza financeira. A esclerose precoce que contamina o conjunto de setores produtivos combina tanto com o silêncio do cemitério identificado pela estabilidade monetária a qualquer custo como o emprego asiático dos trabalhadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário