Americanos venderão água da Amazônia |
Água da região será vendida nos EUA em 2008; Brasil é alvo da hidropirataria na foz do rio Amazonas. RAY CUNHA BRASÍLIA – A revista Veja desta semana traz uma pauta inquietante. No boxe O apelo exótico da selva, página 106, vinculado à matéria A guerra contra a água mineral, a revista afirma: a água mineral Equa é retirada do solo da Amazônia e será distribuída nos EUA a partir de abril de “As análises feitas em laboratórios americanos da fonte da Equa mostram que essa é a água mineral mais pura do mundo”, atesta Jeff Moat. A Equa chegará ao mercado americano em abril do ano que vem, ao custo de US$ Pergunta-se: essa água será engarrafada no Brasil? Como sairá do país para ser vendida nos Estados Unidos? O Brasil está vendendo ou dando essa água? A água é produto da Humanidade ou do país onde é extraída? Águas de rios internacionais pertencem a quem? Para construir hidrelétricas no rio Madeira o governo brasileiro não precisaria pedir permissão à Bolívia? Se água é um bem da Humanidade, por que a ONU (Organização das Nações Unidas) não cria um mercado internacional de água, para suprir países do Quarto Mundo, onde a população morre bebendo água suja, quando há? Por que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está providenciando água para os grandes agricultores na bacia do rio São Francisco, com a transposição do rio, enquanto a população pobre do Nordeste morre à míngua por falta de água potável? Publiquei, este ano, na minha coluna na Agência Amazônia um artigo provocativo, “Já é tempo de a Amazônia exportar água”, apenas para advertir para a denúncia do oceanógrafo Frederico Brandini ao site Amazônia.Org no dia 7 de julho de 2004. Na mesma data o jornal Gazeta do Povo, de Curitiba (PR), publicou matéria intitulada Navios roubam água do rio Amazonas. Segundo a matéria, após descarregar óleo cru nos portos da Amazônia, petroleiros do Oriente Médio abastecem seus tanques com até 250 milhões de litros de água, cada um, sem pagar qual centavo ao Brasil. Água é ouro no Oriente e na Europa (no Oriente, mais de 20 países sofrem crise gravíssima de água). Assim, a charmosa Perrier pode ser água do Amazonas. Na Arábia Saudita, a dessalinização custa US$ 1,5 por metro cúbico. A retirada da turbidez da água do Amazonas fica em torno de 0,30 cents de dólar. Um negócio extremamente lucrativo. A imprensa começou a chamar esse roubo de hidropirataria. Mas a falta de uma denúncia formal sobre o caso impede a Agência Nacional de Águas (Ana). A diretoria da Ana, responsável pela fiscalização dos recursos hídricos, sabe da hidropirataria. Até a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) conhece o assunto. Um relatório secreto da maçonaria também denuncia o roubo da água da Amazônia, que ocorre na foz do rio Amazonas, na altura do Amapá. A defesa das águas brasileiras está na Constituição Federal, no Artigo 20, que trata dos bens da União. A ingerência estrangeira nos recursos naturais da Amazônia tem aumentado significativamente nos últimos anos. Seja por ação de empresas multinacionais, pesquisadores estrangeiros autônomos ou pelas missões religiosas internacionais. Mesmo com o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) ainda não foi possível conter os contrabandos e a interferência externa dentro da região. A hidropirataria A captação de água seria feita por petroleiros no rio Amazonas. A foz do rio, o maior do mundo, tem Essa água, apesar de conter uma gama residual imensa e a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água, mesmo no estado bruto, representa uma grande economia. O custo por litro tratado é muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas, além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das águas dos rios europeus. As águas salinizadas estão presentes no subsolo de vários países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Kuwait e Israel. Eles, praticamente, só dispõem dessa fonte para seus abastecimentos. O procedimento de retirada do sal é feito por osmose reversa, extremamente caro. Na dessalinização são gastos US$ 1,50 por metro cúbico e US$ 0,30 no mesmo volume de água doce tratada. O avanço sobre as reservas hídricas do maior complexo ambiental do mundo, segundo os especialistas, pode ser o começo de um processo desastroso para a Amazônia. E isso surge num momento crítico, cujos esforços estão concentrados em reduzir a destruição da flora e da fauna. A Amazônia é considerada a grande reserva do planeta para os próximos mil anos. Pelo menos 12% da água doce de superfície, não congelada, se encontram no território amazônico. Dois terços do planeta são ocupados por oceanos, mares e rios. Porém somente 3% desse volume são de água doce. Um índice baixo, que se torna ainda menor se for excluído o percentual encontrado em estado sólido, como nas geleiras polares e nos cumes das grandes cordilheiras. Água doce em estado líquido representa menos de 1% do total disponível na Terra. Sob esse aspecto, a Amazônia se transforma em local estratégico. Mas a importância desse reduto natural poderá ser, num futuro próximo, sinônimo de riscos à soberania dos territórios panamazônicos. O que significa dizer que o Brasil seria alvo prioritário numa eventual tentativa de se internacionalizar esses recursos, como já ocorre no caso das patentes de produtos derivados de espécies amazônicas. Entre 1970 e Guerra pela água Doutrina que vem se estabelecendo em círculos de debates internacionais sobre a existência de bens comuns - como água doce e florestas - a serem gerenciados pelas potências internacionais pode ser o embrião de futuras ingerências estrangeiras na Amazônia, avalia o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Ele entende que o governo deveria criar o Ministério da Amazônia, com sede em Manaus. “É na medida em que o estado soberano administra os recursos naturais da Região Amazônica que toda e qualquer ameaça se reduz na mesma proporção” – analisa Guimarães. As Forças Armadas estão à míngua. "Nós consideramos que as nossas forças são apropriadas para a defesa da Amazônia num confronto regional. Relatório de 2004, encomendado pelo Pentágono à Global Bussines Network, empresa especializada em tendências de negócios, baseada na Califórnia, e revelado pela jornalista Memélia Moreira aponta que o rio Amazonas será palco de guerra muito em breve por conta do acesso à água. Denúncias publicadas por esta agência dão conta que pesquisadores adentram na Amazônia brasileira pela Colômbia para coletar amostras de água dos rios Negro, Solimões, Juruá e outros. Eles também levam essências, fungos e outros microorganismos da Amazônia para estudá-los em laboratórios dos EUA e Europa. |
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