Na França, as pesquisas realizadas pela internet já representam 20% e pesa sobre elas um mar de desconfiança. “O clic adquire tal valor em nossos dias que nos perguntamos (e tememos) qual pode ser seu impacto sobre a seleção, até mesmo sobre o próprio conteúdo, das informações divulgadas”, diz Jean-Michel Dumay. Seus realizadores falam das vantagens desse tipo de sondagem, mas é preciso ter em conta também seus limites, pois o acesso à internet não é universalizado, mesmo nos países ricos, e paira desconfiança sobre a transparência nos métodos utilizados.
No entanto, as pesquisas pela Internet fazem jus ao tempo presente. “O momento é da rapidez, do zapping permanente. Assim como o da supremacia do clic, utilizado cada vez mais para as pesquisas de opinião, mas também como unidade de medida de uma publicidade hiper-segmentada, determinada, em busca da rentabilidade”, justifica.
Traduzimos e reproduzimos na íntegra o artigo de Jean-Michel Dumay publicado no Le Monde, 24-11-2007. A tradução é do Cepat.
As pesquisas são uma droga para a democracia. Desconfia-se e reclama-se delas. Sempre há uma pesquisa para responder a uma carência, até mesmo para antecipar a falta. Quarta-feira, 21 de novembro, em pleno conflito social, os meios de comunicação retomam unanimemente um estudo que foi manchete no Figaro e no LCI: 69% “dos franceses” desejam que o governo não ceda às reivindicações dos grevistas.
Lembremos a ficha técnica: pesquisa realizada pelo instituto Opinion Way com 1.001 pessoas interrogadas pela internet segundo o método de cotas do sistema CAWI (Computer-Assisted Web Interview). O Opinion Way é reputado por suas pesquisas-relâmpago, ultra-rápidas, utilizadas por políticos, que atualmente se encontram (como outros termômetros) para dar resultados favoráveis a Nicolas Sarkozy.
Os estudos via internet representaram 20% do mercado de estudos na França em 2006 e estão em forte progressão. A GIDE [Gestão Integrada de Documentos Eletrônicos], sociedade de serviços informáticos especializada que desenvolve e comercializa uma solução CAWI para muitas empresas de marketing, detalha em seu sítio na internet as vantagens do método que consiste em recolher as opiniões dos pesquisados em alguns cliques: redução dos custos (no caso dos internautas, os gastos de impressão, de pessoal, de telefone, e de coleta dos dados se desvanecem, pois eles fazem praticamente tudo); ganho de tempo (a coleta dos resultados e o tratamento das respostas, automatizados, são efetuados em tempo real), acessibilidade dos pesquisados (que respondem na hora da sua escolha), confiabilidade das respostas (ao evitar os erros de coleta dos aplicadores da pesquisa).
Ela aponta também os limites: “Atinge parcela não representativa da população nacional, pois a taxa de computadores conectados à internet em lares é atualmente de 40% na França 46% no segundo trimestre de 2007. Dificuldade de controlar a veracidade das respostas e a identidade dos que respondem. Profissionalização e auto-recrutamento espontâneo de alguns grupos que regularmente respondem a pesquisas”. Pois são recrutados na Net, sabe-se lá, muitas vezes por meio de pagamento ou de recompensas. E, qualquer que seja a sinceridade das opiniões que você possa exprimir, quaisquer que sejam sua precisão e sua ponderação. Uma vez clicado (e às vezes pago), está clicado. Por outro lado, quanto mais rápido, melhor.
Evidentemente, tudo isso levanta diversas questionamentos: primeiramente, sobre a realidade abarcada por esse tipo de pesquisa e sobre a tradução midiática (que poderia ser, no caso do estudo sobre as greves: 69% de mil internautas recrutados e perguntados em condições não precisas desejam... no lugar de um massivo 69% “dos franceses”); em segundo lugar, sobre as conseqüências dessas pesquisas-relâmpago em “tempo real”, que alimentam a opinião pública tanto quanto a medem.
Porque a opinião pública, enigmático espaço alimentado pela sociedade da informação, tem mais a ver com as pulsões e os reflexos coletivos do que com o pensamento. Ela é o reino das emoções, dos estereótipos e da compaixão. Ela entra, portanto, facilmente em ressonância com o “tempo real”, esse cartão de livre trânsito permanente que abole o tempo de espera de uma informação e não se dá bem com o tempo humano, composto de atividades e de repouso, de reflexões e de hesitações. Sonha-se, neste ponto, com pesquisas que permitiriam aos consultados, antes de responder, um mínimo de tempo de pesquisa e, sobretudo, de argumentação.
Ao contrário, o momento é da rapidez, do zapping permanente. Assim como a supremacia do clic, utilizado cada vez mais para as pesquisas de opinião, mas também como unidade de medida de uma publicidade hiper-segmentada, determinada, em busca da rentabilidade. O clic adquire tal valor em nossos dias que nos perguntamos (e tememos) qual pode ser seu impacto sobre a seleção, até mesmo sobre o próprio conteúdo, das informações divulgadas.
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