Como centenas de milhares de outros brasileiros de classe média que se mudaram para os EUA nas últimas duas décadas, José Osvandir Borges e sua mulher, Elisabeth, vieram para cá com vistos turísticos e permaneceram como imigrantes ilegais, fincando raízes de uma maneira que não esperavam. A reportagem é de Nina Bernstein e Elizabeth Dwoskin, publicada pelo jornal New York Times e traduzida pelo jornal Folha de S. Paulo, 5-12-2007.
Depois de empacotar TV de plasma, troféus escolares e outros frutos de 12 anos de prosperidade em Newark, Nova Jersey, o casal e a filha Mariana, 10, nascida nos EUA, preparavam-se para embarcar de volta ao Brasil de maneira definitiva. O filho Thiago, 21, deve segui-los em um ou dois anos.
"Não dá para passar a vida inteira esperando sua situação ser legalizada", diz Borges, 42, refletindo sobre uma decisão difícil motivada por esperanças perdidas, novos temores e mudanças econômicas nos dois países desde que ele chegou aos EUA, em 1996. Pela lei, o casal estará proibido de retornar ao país por dez anos, mesmo que seja apenas como turistas.
A decisão de desistir da vida nos EUA vem sendo tomada por mais e mais brasileiros em todo o país, de Boston a Pompano Beach, Flórida. Ninguém sabe ao certo quantos estão partindo. Nos últimos seis meses, porém, a migração invertida é nítida na comunidade brasileira nos EUA, estimada pelo governo do Brasil em cerca de 1,1 milhão de pessoas.
Para explicar a decisão, os brasileiros apontam para o receio crescente da deportação e o enfraquecimento da economia americana. Muitos citam o vencimento de suas carteiras de motorista -que, sob as regras mais duras adotadas recentemente, não podem mais ser renovadas-, somado à queda forte do dólar ante o real.
"Você soma tudo e vê: por que permanecer num ambiente como esse quando tem um país como o Brasil, onde existe esperança, uma luz no final do túnel, e a vida não é um trem correndo para te atropelar?", diz Pedro Coelho, empresário de Mount Vernon, Nova York, conhecido como "o prefeito dos brasileiros" de Westchester County. "Se os brasileiros estão partindo? Sim, às centenas."
Fausto da Rocha, fundador do Centro do Imigrante Brasileiro da área de Boston, diz que seus compatriotas estão deixando Massachusetts aos milhares, alguns depois de perder suas casas em meio à crise das hipotecas. Em Nova York e Nova Jersey, agências de viagens dizem que as reservas só de ida para o Brasil mais que dobraram desde o ano passado, chegando a cerca de 150 por dia partindo do Aeroporto Internacional Kennedy. Os vôos estão lotados até fevereiro.
No consulado brasileiro em Miami, que atende a brasileiros em cinco Estados do sudeste dos EUA, funcionários dizem que uma pesquisa recente com firmas de mudanças e agências de viagem confirmou o que o já se supunha: que mais brasileiros estão deixando a região que chegando a ela. É a inversão de uma curva ascendente que parecia impossível de frear ainda em 2005, quando brasileiros atravessavam a fronteira México-EUA ilegalmente em número recorde.
Ainda é cedo, no entanto, para dizer se a migração invertida situa os brasileiros na vanguarda de uma tendência mais ampla entre os imigrantes, ou se ela apenas confirma o caráter diferenciado do grupo.
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