Exportação de carne ultrapassa a de soja. Nova tendência do agronegócio brasileiro?
As exportações brasileiras do complexo de carnes - bovinos, aves e suínos - ultrapassaram as vendas de soja e seus derivados no mês passado e se tornaram a principal commodity exportada pelo país. Os números iniciam uma nova tendência do agronegócio brasileiro, na avaliação do governo federal. A reportagem é do jornalista Iuri Dantas no jornal Folha de S. Paulo, 13-02-2008.
Segundo produtores, por outro lado, ainda é cedo para prever o comportamento dos produtos neste ano. A balança comercial do agronegócio fechou o mês de janeiro com exportações de US$ 4,3 bilhões e importações de US$ 1,02 bilhão.
"O Brasil hoje é o único exportador de carne do mundo com a facilidade de obter clientes pela capilaridade e pela competitividade que possui", disse Antenor Nogueira, presidente do Fórum Permanente de Pecuária de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Em janeiro, as exportações de carne tiveram um crescimento de 25,5% e chegaram a US$ 898 milhões. O complexo soja - grão, farelo e óleo - vendeu US$ 678 milhões. Em relação a janeiro do ano passado, o aumento foi de 94,6%.
A tendência começou a se desenhar no ano passado, quando o Brasil vendeu US$ 11,381 bilhões do complexo soja, contra US$ 11,295 bilhões, de carnes. Em 2007, o ritmo de expansão das exportações de carnes (30,7%) também foi superior ao de soja (22,3%). Segundo Christian Lohbauer, presidente da Abef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango), a carne brasileira deve parte de seu bom preço aos insumos, como milho e soja, que são produzidos em larga escala no país, o que contribui para segurar o preço.
"Milho e soja representam 70% do custo de produção da carne e o Brasil tem os dois. Por isso o frango tem competitividade para repassar o custo para o produto", afirmou. Segundo Lohbauer, o frango brasileiro é vendido para mais de cem países. A carne bovina é exportada para mais de 150 diferentes destinos. O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Silas Brasileiro, nega relação da expansão da pecuária com o desmatamento. "Estamos estimulando a recuperação de pastagens degradadas com financiamentos", disse.
Ainda há fortes dúvidas sobre o desempenho das carnes neste ano, principalmente devido à suspensão de importações pela União Européia desde o dia 1º. Os altos preços de commodities no mercado internacional impulsionam as vendas brasileiras de ambos os produtos. No caso das carnes, o aumento do consumo também impulsiona o deslocamento de pastagens para regiões próximas à floresta amazônica.
No final do ano passado, o gado avançou sobre o sul do Estado do Pará e o desmatamento na região causou uma crise no governo. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), houve aumento de 18% no desmatamento de novembro. Para a ONG Imazon, porém, o aumento foi muito maior, de 74%.
Governo e produtores dizem que o gado que pasta na floresta amazônica não tem a carne exportada. O problema é que não há instrumentos eficazes em vigor para assegurar isso. O principal exemplo é a suspensão de vendas para a União Européia, desde o dia 1º, porque há falhas e problemas na rastreabilidade dos bovinos do país.
Tradicionalmente, o plantio de soja representava o vilão do desmatamento com a derrubada da floresta de Mato Grosso em direção a Rondônia. Números divulgados ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento, do Ministério da Agricultura, indicam que a área plantada de soja aumentou 9,6% na região Norte (sendo 8,4% em Rondônia, 10,6% no Pará e 12% no Tocantins) e 2,8% no Centro-Oeste.
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