Atraídos pela terra fértil e pela riqueza do subsolo, agricultores deixaram o Rio Grande do Sul na década de 70 e se fixaram em área hoje demarcada para os índios por decreto presidencial
Apontado nos anos 70 pelas autoridades federais como o novo eldorado mineral e de terras férteis para os colonizadores gaúchos, Roraima está virando um pesadelo para os plantadores de arroz irrigado sulistas. Os gaúchos estão no centro de uma disputa com grupos indígenas, entre eles os macuxis, pelas férteis várzeas da Terra Indígena Raposa do Sol, uma área de 1,7 milhão de hectares demarcada de maneira contínua, em 2005, pelo presidente Lula, na fronteira com a Guiana e a Venezuela. A reportagem é de Carlos Wagner e publicada pelo jornal Zero Hora, 16-05-2008.
Após a demarcação, os agricultores e outros moradores deveriam desocupar as terras em um ano, mas isso não aconteceu. Eles entraram com 33 ações na Justiça contestando a desapropriação. E, agora, aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) - ontem, o ministro Carlos Ayres Brito, relator das ações, informou que seu parecer deve ser apresentado no dia 15 ou 16 de junho.
Enquanto isso, a paz na região está sendo mantida por um efetivo de 500 agentes da Polícia Federal (PF) e de outras organizações policiais. O ambiente é de calma, descreveu ontem um delegado da PF que pediu para não ser identificado.
O conflito, que teve início há mais de 30 anos, está ligado à história econômica de Roraima. Na época, a União traçou um plano agrícola para o Estado e, por isso, incentivou a ida de migrantes agricultores e de estudantes do Projeto Rondon para aquela região.
O plano, no entanto, falhou devido à ausência de mercados para consumir os produtos. Mas não houve fuga de migrantes, porque logo foram descobertas jazidas de ouro, ciclo que durou até 1993, quando garimpeiros massacraram índios ianomâmis e o caso virou capa de jornais em todo o mundo.
Ao fim do ciclo dos minerais, surgiu a idéia do cultivo do arroz irrigado. Um dos defensores da implantação desse tipo de agricultura é Luiz Afonso Faccio, 65 anos, um dos gaúchos levados para Roraima pelo Projeto Rondon quando era estudante de Filosofia em Porto Alegre.
- O clima, a luminosidade e a abundância de água garantem três safras por ano. No Rio Grande do Sul, só é possível uma. Imagine o potencial de produção - disse ontem.
Em duas décadas, 22 agricultores - 80% gaúchos - plantaram 25 mil hectares de arroz irrigado, sendo 15 mil dentro da área disputada com os índios. A produtividade é considerada uma das melhores do mundo. O produto é vendido para Amapá, Amazonas, Venezuela e Guiana, segundo a empresária do setor arrozeiro Izabel Itikawa, da Associação dos Arrozeiros de Roraima. Outro grupo se dedica à criação de gado, à exploração de madeira e a outras lavouras.
Grupo é apontado como "destruidor da natureza"
O governo do Estado defende os agricultores. Prega que a demarcação da área indígena não seja de maneira contínua, como foi feita.
- Temos audiência com as autoridades em Brasília para mostrar que não é possível dar uma área de 1,7 milhão de hectares para 20 mil índios - disse ontem, em Brasília, Gustavo Abreu, secretário adjunto de Comunicação Social do governo de Roraima.
Os índios não concordam com a posição do governo do Estado. Muito menos com a dos agricultores, especialmente os gaúchos, apontados por eles como "destruidores da natureza".
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