Compostos de nitrogênio lançados no ambiente pela atividade humana causam poluição, estimulam o efeito estufa e ameaçam a biodiversidade, afirmam dois artigos publicados hoje pela revista Science. O planeta tem um ciclo natural do nitrogênio, que é essencial para a vida na Terra, mas o ciclo artificial, alimentado principalmente pelo uso de fertilizantes e pela queima de combustíveis fósseis, provoca desequilíbrios perigosos, dizem os cientistas. A reportagem é de Carlos Orsi e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 16-05-2008.
“Um átomo de nitrogênio pode causar diversos efeitos em cascata, como smog (neblina poluente), chuva ácida, mortandade de peixes, efeito estufa e redução da camada de ozônio, tudo em seqüência”, explica o principal autor do artigo que trata do impacto global do nitrogênio, James Galloway, da Universidade de Virgínia, nos EUA. “Essa combinação do nitrogênio reativo se acumulando no ambiente e tendo um efeito em cascata, torna muito difícil administrar os efeitos.”
Galloway explica que o chamado “nitrogênio biologicamente reativo” é essencial para a produção de alimentos. Ao fabricar fertilizantes, a humanidade transforma o nitrogênio inerte do ar nessas formas reativas necessárias. “Mas, na produção de alimentos, muito se perde para o ambiente, porque a eficiência de pôr o nitrogênio na carne ou nos cereais é muito baixa.” Além disso, “é claro que a maior parte do nitrogênio que entra na boca humana também acaba no ambiente”.
O pesquisador brasileiro Luiz Antonio Martinelli, da Universidade de São Paulo, um dos co-autores do artigo com Galloway, explica que os impactos da poluição por nitrogênio variam de país para país e, no Brasil, de região para região. “Nas partes mais desenvolvidas do Brasil, o problema está principalmente ligado ao esgoto não tratado.” Quando o esgoto é lançado em rios e lagos, seu conteúdo de fósforo e nitrogênio estimula a multiplicação de algas, que alimentam microrganismos que, por sua vez, acabam esgotando o oxigênio disponível na água. “A mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas foi um caso”, afirma, referindo-se às toneladas de peixes mortos recolhidos na lagoa carioca anos atrás.
O artigo diz ainda que o problema ganha uma nova dimensão com a adoção dos biocombustíveis. Além de o uso do combustível gerar nitrogênio reativo, a lavoura que produz a matéria-prima consome fertilizantes. “No caso brasileiro, a queima da cana lança amônia (NH3), que causa vários problemas”, diz Martinelli. “Nos EUA, com o milho, o problema é maior, porque eles usam muito mais fertilizante.”
O segundo artigo na Science sobre o tema trata do impacto do excesso de nitrogênio reativo nos oceanos. Os pesquisadores concluem que, embora o nitrogênio estimule a vida marinha a remover CO2 do ar, o elemento acaba voltando à atmosfera sob a forma de N2O, que também é um gás do efeito estufa, o que anula dois terços do benefício obtido com a captura do carbono.
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