O mundo dos transgênicos inclui hoje o milho, o tomate, a soja, o camundongo, a ovelha ou o porco, entre muitas outras plantas e animais. Recentemente, uma equipe de cientistas norte-americanos criou o que se pensa ser o primeiro embrião humano transgênico. Segue a íntegra da matéria de Jean-Yves Nau publicada no Le Monde, 14-05-2008. A tradução é do Cepat.
Depois dos vegetais e dos animais, será a vez de modificar geneticamente o patrimônio hereditário de organismos humanos? A partir de agora, mais nada impede de pensá-lo. Uma nova etapa nesse sentido acaba de ser superada, revelou o Sunday Times, 11 de maio. Segundo o jornal britânico, recentemente cientistas norte-americanos conseguiram criar um embrião humano geneticamente modificado. Este embrião transgênico, no entanto, não foi transplantado num útero e foi destruído no quinto dia de desenvolvimento in vitro. Experiências similares poderiam ser desenvolvidas proximamente no Reino Unido.
O trabalho dos norte-americanos foi apresentado em fevereiro, em um encontro científico, antes de ser publicado na revista especializada Fertility and Sterility. Apresentado na reunião da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, no ano passado, a experiência passou praticamente despercebida. Dirigida por Nikica Zaninovic, a equipe, que trabalham na Universidade Cornell de Nova York, recorreu às técnicas da terapia gênica. Desenvolvidas há muitas décadas, elas visam corrigir certas anomalias estruturais do genoma humano. Trata-se, esquematicamente, de implantar em células de uma pessoa doente, fragmentos de informação genética a fim de corrigir os efeitos patológicos de uma mutação na origem de uma afecção.
A equipe norte-americana desenvolveu seu método em camundongos antes de aplicá-lo a seres humanos, sem ter em vista qualquer objetivo terapêutico direto. Esta experiência foi realizada num embrião humano concebido inicialmente no âmbito de um programa de procriação assistida. Os pesquisadores norte-americanos anunciam ter conseguido integrar no genoma deste embrião humano, através de um vetor viral, um gene que dirige a síntese de uma proteína fluorescente.
O mesmo objetivo poderia ser atingido modificando artificialmente o genoma de células sexuais, masculino ou feminino, antes de realizar uma fecundação in vitro. Esse tipo de experimentação teve, por outro lado, sucesso nos Estados Unidos, diversas vezes seguidas, em 2007, em frangos.
Potenciais perigos
Os pesquisadores norte-americanos garantem que só esses protocolos experimentais podem fazer progredir a biologia humana fundamental e a compreensão das afecções de origem genética. Eles conseguiram obter linhas de células-tronco a partir de embriões de camundongos transgênicos.
Por outro lado, alguns observadores sublinham os potenciais perigos que haveria no caso de autorizar esse tipo de trabalho em embriões humanos. Eles destacam que as técnicas desenvolvidas permitirão não apenas corrigir anomalias genéticas mas também modificar, para fins não terapêuticos, performances de um organismo humano. De fato, nada proíbe imaginar que esses novos instrumentos moleculares permitem realmente melhorar algumas características físicas ou cognitivas dos seres humanos.
Na Grã-Bretanha, onde a criação de embriões híbridos (“homem-animal”) chamados de quimeras foi recentemente autorizada, a Autoridade para Fecundação e Embriologia Humanas se ocupa com esta nova questão negando-se, por enquanto, a autorizar a modificação genética das células sexuais humanas. Na França, a Agência de Biomedicina ainda não tomou nenhuma posição sobre essas delicadas questões éticas.
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