qua, 29/05/2013 - 11:17
- Atualizado em 29/05/2013 - 15:17
Jornal GGN
- O delegado Protógenes não acusou a subprocuradora geral da República
Cláudia Sampaio de ter recebido R$ 280 mil, como afirma a manchete do
Estadão. Com seu estilo tosco, Protógenes fez uma ironia com o fato de,
segundo ele, Cláudia ter se baseado em informações falsas para aprovar a
quebra de seu sigilo bancário e fiscal:
“Essa
mulher (Cláudia) fez isso (...) Essa certidão vai ter que atestar que
não existe 280 mil apreendidos, eu não sei de onde ela tirou, talvez
seja os 280 mil que o Daniel Dantas tenha dado para ela, prá dar esse
parecer... de cafezinho, né?"
A manchete realçando a acusação de Protógenes desvia o foco dos fatos realmente relevantes.
Segundo a versão de Protógenes:
Ele
sofre processo em São Paulo, que chegou ao STF (Supremo Tribunal
Federal) devido ao fato de ter sido eleito deputado federal.
Cláudia Sampaio deu um primeiro parecer pelo arquivamento do processo.
Posteriormente
assume o caso o ex-procurador geral Aristides Junqueira. Carmen dá um
segundo parecer voltando atrás e recomendando a quebra de sigilo das
contas bancárias e telefônicas de Protógenes. Vale-se de dois
argumentos:
- A Polícia Federal teria apreendido R$ 280 mil em dinheiro vivo em sua casa. Segundo Protógenes, não existe nenhum documento da PF sobre a suposta apreensão de dinheiro. Se ele estiver correto, a PGR teria se baseado em um documento falso. E o Ministro José Dias Tofolli teria endossado a farsa.
- Há três imóveis que foram transferidos de um policial aposentado para Protógenes. Segundo o delegado, esses imóveis foram adquiridos no período em que ele advogava. Sendo verdadeira sua afirmação, independentemente da origem lícita ou não dos imóveis, a compra teria ocorrido muito antes da operação Satiagraha.
Tem-se, portanto, um quadro bastante objetivo para se avaliar a conduta do Procurador Roberto Gurgel e de sua esposa.
Teste 1 – o PGR apresentar o laudo da PF comprovando a apreensão dos R$ 280 mil na casa de Protógenes.
Teste 2 – o PGR apresentar os documentos que comprovariam que Protógenes recebeu os imóveis no período de investigação da Satiagraha.
Se
não conseguir comprovar esses dois pontos, em uma situação pouco usual –
da PGR mudando sua opinião sobre um pedido que ela mesmo já havia
julgado improcedente -, Roberto Gurgel dará razão aos seus críticos. Se
comprovar, nem o mandato salvará Protógenes.
Por Vânia
Do Estadão
Em
palestra, deputado acusa Cláudia Sampaio de receber dinheiro de Daniel
Dantas e levanta suspeitas sobre o marido dela, Roberto Gurgel
Fausto Macedo, com colaboração de Ricardo Chapola
O
deputado federal Protógenes Queiroz (PC do B-SP) acusou a
subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio de ter recebido R$ 280
mil do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity. Protógenes
sugeriu que o dinheiro teria sido dado para que ela emitisse parecer ao
Supremo Tribunal Federal favorável à quebra de seu sigilo telefônico,
fiscal e bancário. Ele disse ainda que Dantas teria oferecido dinheiro
ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, marido de Cláudia.
Protógenes
fez as acusações no dia 9 de maio durante uma palestra na Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), subseção de São Caetano do Sul, cidade da
Grande São Paulo. Tema do encontro era "Os bastidores da Operação
Satiagraha". Ele afirmou também que Dantas, a quem chamou de "banqueiro
bandido", ofereceu US$ 20 milhões a um delegado da Polícia Federal e a
cinco policiais, mas não citou nomes nem o motivo da oferta.
A
Satiagraha é um capítulo emblemático da história recente da Polícia
Federal. Protógenes, então delegado, comandou a operação em 8 julho de
2008, que culminou com a prisão de Dantas. O banqueiro foi colocado em
liberdade em menos de 24 horas por ordem do ministro do Supremo Gilmar
Mendes.
A
operação foi completamente anulada pelo Superior Tribunal de Justiça
por ilegalidades e emprego de arapongas da Agência Brasileira de
Inteligência. Protógenes foi condenado a 3 anos e 11 meses de prisão por
fraude processual e violação de sigilo funcional – ele teria vazado
dados da Satiagraha (mais informações ao lado). Sua relação com o
empresário Luiz Roberto Demarco, desafeto de Dantas, também é
investigada.
O
caso foi bater no STF, porque Protógenes assumiu o mandato parlamentar,
ganhando foro privilegiado. Inicialmente, Cláudia Sampaio se manifestou
pelo arquivamento da investigação. No fim de abril, ela reapresentou
parecer, agora favoravelmente à apuração, acolhendo informação de que
Protógenes mantém conta bancária na Suíça e de que em sua residência a
PF havia apreendido R$ 280 mil em dinheiro. Com base nesse parecer da
subprocuradora, o ministro Dias Toffoli, do STF, decretou a quebra do
sigilo bancário, telefônico e fiscal do deputado. Demarco também é
investigado.
Protógenes
afirmou em sua palestra que vai pedir à Justiça certidão comprovando
que não houve a apreensão daquele dinheiro. "Essa mulher (Cláudia) fez
isso (...) Essa certidão vai ter que atestar que não existe 280 mil
apreendidos, eu não sei de onde ela tirou, talvez seja os 280 mil que o
Daniel Dantas tenha dado para ela, prá dar esse parecer... de cafezinho,
né?"
'Luminoso'
Em
seguida, aponta para o chefe do Ministério Público Federal. "Daniel
Dantas ofereceu 20 milhões de dólares para um delegado da Polícia
Federal e cinco policiais, quanto que não deve ter oferecido, não
ofereceu, para o procurador-geral da República, né? Então, eu vou exigir
deles também que exponham o seu sigilo bancário, que exponham seu
sigilo telefônico, né, prá gente ver de onde saiu esse luminoso
parecer."
Protógenes
citou Cláudia Sampaio a partir do 38.º minuto de sua fala de 1 hora e
48 minutos. "A procuradora, Cláudia, é mulher do procurador-geral, ela é
mulher dele e trabalha juntamente analisando todos os pareceres que são
proferidos por ele. Ela faz o parecer e ele fala ‘aprovo’. Foi para ela
novamente, e ela fez um novo parecer totalmente detalhado contra mim
diretamente. Contra os outros não. Só a mim como alvo. No parecer diz
que na minha casa houve uma busca e apreensão. Eles estava atrás de
fragmentos da Operação Satiagraha, das interceptações. Tem muito segredo
aqui, só que eu não vou guardar esses dados, está com alguns juízes.
Ela diz que encontraram na minha casa 280 mil reais. Não tem isso na
apreensão. Ela escreveu isso e assinou."
Aos
47 minutos ele acusou Cláudia de ter recebido os R$ 280 mil. Disse que
em nenhum outro caso a Procuradoria voltou atrás. Quando a palestra
atingiu 1 hora e 7 minutos, o deputado disse: "É perigoso para o Estado
ver instituições superiores comprometidas e corruptas".
Ele
se insurgiu contra as suspeitas que cercam seu patrimônio – Protógenes
recebeu imóveis "em doação" de um ex-policial federal, José Zelman. "Ela
(Cláudia) diz que o meu patrimônio é suspeito, que inclusive eu tenho
uma casa de praia em Niterói, num condomínio chamado Camboinhas, e que
tenho apartamento no Jardim Botânico. Sustenta que a minha casa vale um
milhão de reais, e que esse apartamento vale também um milhão. Só que
ela esqueceu de um detalhe. Esse patrimônio eu constituí quando eu era
advogado."
Gurgel vê caso como 'calúnia' e Dantas vai ao STF
O
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, classificou de calúnia
as acusações de Protógenes Queiroz. "A calúnia foi feita imediatamente
após terem sido requeridas diligências em inquérito a que o deputado
responde no STF, circunstância que fala por si mesma", declarou Gurgel.
A
defesa de Daniel Dantas disse que entrou com queixa-crime no Supremo
Tribunal Federal contra o deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP) por
calúnia e injúria. A ação é decorrente das declarações do parlamentar na
OAB de São Caetano do Sul. "Ingressamos com queixa-crime no STF,
imputando ao deputado Protógenes Queiroz a prática de calúnia e injúria,
não acobertadas pela imunidade parlamentar", disse o advogado de
Dantas, Andrei Zenkner. A assessoria do Opportunity destaca que a
Justiça decretou a nulidade da Satiagraha.
A
criminalista Elizabeth Queijo, que defende Luiz Roberto Demarco,
assinalou que os autos estão sob sigilo. "Na realidade, sobre o conteúdo
da decisão eu estou impedida de comentar pelo dever do sigilo. Esse
caso para mim está sob sigilo. E por essa exclusiva razão não vou me
manifestar sobre o conteúdo da decisão. Mas a defesa deve apresentar
medidas nos próximos dias em relação a isso."
Protógenes não respondeu ao contato da reportagem do Estado.
Para lembrar: Delegado foi condenado
A
Operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal em 8 de julho de
2008, prendeu o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas, o
ex-prefeito Celso Pitta e outros 14 acusados por suspeita de desvio de
recursos públicos, corrupção, fraude, gestão fraudulenta de instituição
financeira, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha.
Durante
a operação, foi revelado que arapongas da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) atuaram em parceria com a PF na Satiagraha.
Criticado por não ter notificado o comando da PF sobre a participação
dos agentes, o delegado Protógenes Queiroz, que comandava a Satiagraha,
pediu afastamento. Em março de 2009, ele foi indiciado pela PF por
quebra de sigilo funcional e violação da Lei de Interceptações; em maio,
foi denunciado criminalmente por quebra de sigilo funcional e fraude
processual. Em 2010, o delegado foi condenado a 3 anos e 11 meses de
prisão. Protógenes, hoje deputado federal (PC do B-SP), recorre em
liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário